— Izanami-sama, estava procurando por ti — Hisashi presta uma breve reverência assim que me encontra perambulando com a cabeça voltada aos ares, passos tão lentos e ritmados que pouco andei desde que saí do templo do Obelisco. — Tudo bem? Não conversamos depois que saiu do almoço. Sentiu-se ofendida por eu tê-la proibido de almoçar?
— Não! — toco seu braço. — Jamais, Hisashi-sensei. Estava mergulhada nos meus próprios pensamentos. A conversa com aquele Kamaitachi me trouxe de volta a uma realidade para a qual não havia pensado até então. Sagrados Divinos... estamos prestes a enfrentar uma nova batalha.
Ele consentiu com a cabeça, entendido e a par das minhas preocupações, que certamente também eram as suas.
Nós começamos a andar.
— Desde sempre eles tem servido como aliados para expiar nossos medos. Aqueles olhos quando ficam vermelhos, indicam que estão lendo nossas intenções e decifrando nossos medos mais profundos, e nisso eles oferecem a solução; opressão mental, falar sobre e depois, conselhos.
— Falar sobre... — consinto com a cabeça. — Ele educadamente me ouviu, mas acho que fui eu quem pecou na hora de usar as palavras. Não estava com tanto medo dele em si, mas das palavras que proferi, pois sabia que eram mentira. Não sou tão determinada a ser uma Eremita. Na verdade, sequer sei o que é ser isso, já que o meu mestre, quem me treinaria pelos próximos vinte anos até que estivesse pronta... nos deu as costas, se revoltou justamente contra aqueles que eram como eu.
— É difícil sustentar o céu com as mãos — ele diz. — Mas o meu mestre me ensinou que, enquanto acreditarmos na Grande Verdade, será ela que nos guiará ao equilíbrio. Aqueles destinados ao Raio sempre deverão existir, por tanto, sempre haverá Eremitas, Mestres e Guardiões, e... sabe uma coisa que todos compartilhamos?
— O quê?
— A união. Unidos somos como os Divinos. Separados, somos como os Escuros.
— O Divino Céu, Izanami, deve ter sido uma mulher incrível, não? Mesmo grávida ainda lutava contra os Escuros.
— Certamente. As histórias contam que eles três eram indestrutíveis quando estavam juntos. Se completavam, se protegiam, cobriam as fraquezas e ansiedades uns dos outros — ele parou. — Bem, já está quase na hora de me encontrar com Zu'rien no Hachidojo. Gostaria de, humildemente, me acompanhar?
— Seria uma honra.
Ele dita o caminho e me guia mais uma vez pelo amontoado de pessoas, pelas luzes fracas do Templo, pelos seus muitos corredores com pisos de pura pedra escura até o grande dojo. Estava vazio, exceto pela presença de Zu'rien bem no centro, lutando contra um boneco de madeira esfarrapado com um par de espadas afiadas imbuídas por ondas de eletricidade. Ela trajava uma veste indiscreta; roupas pretas, um saio acima da coxa, uma veste de madeira que lhe tapava os seios e protegia a barriga, enquanto os braços ficavam expostos.
Ela grunhiu, antes de separar o boneco em três partes com a sua espada.
Depois, toda a eletricidade circulou livre do seu corpo, correndo pelo chão como fios magnéticos carregados.
— Cheguei — ele disse, adentrando no tatame com tal determinação atraente.
Eu me mantive longe, mas logo fui vítima dos olhares da moça mal humorada.
— Por que trouxe ela? Não gosto de espectadores aprendendo os meus movimentos.
— Izanami-sama está presente para ver a sua queda — ele deu aquele sorriso de lábios fechados, logo antes de descer sua veste de pano cru marrom pelo lado dos ombros largos e revelar um corpo opulento que nem parecia natural.
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O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)
Fantasy[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2021 EM FANTASIA!] Exilada de sua casa e vivendo entre lobos, Izanami não tem lembranças do seu passado, de quem ou o que a levou até a floresta quando, dez anos antes, a desonra do seu estimado mestre tirou...