(十四岁) Olhos que Conhecem o Medo

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— Eu estava errado quanto a você... Izanami-sama — disse Nebo, a criatura que ainda ostentava uma ferocidade nas faces felpudas, mas que agora eu não mais as temia como ontem, quando mal conseguia ficar na sua presença.

Hoje, depois de uma prosa insistente e interminável para que ele me desse ouvidos, ele me deu mais uma oportunidade. Naquele momento, ele guardou a lamina afiada em suas costas e deslizou pela terra como o pequeno animal que era, e se enrolou no meu braço até que eu pudesse erguê-lo do chão até minha vista.

— Obrigada. Não posso dizer que esqueci ou que estou negando o medo, apenas dizendo que posso acreditar e não ser dominada por ele. Esse é o motivo para tomá-lo em meus braços.

Ele acenou com a cabeça.

— Me leve para comer frutas em outra oportunidade e seremos amigos a partir daí.

Me aproximo da árvore e ele se agarra nela subindo até o galho mais próximo.

— Temos um acordo — presto uma respeitosa reverência.

Quando ele acena em resposta, só lhe resta voltar para as profundezas da árvore escura e me permitir voltar para o Santuário. Muitas pessoas, após o almoço, se mobilizaram para se deslocar até o local de queda daquela besta, teriam muito trabalho para fazer após aquilo.

Mas, a pessoa a quem eu gostaria de ver, não estava por lá limpando sangue e colhendo pedaços do céu, estava em seu quimono humilde de seda azul escuro, com os cabelos num coque e carregando algumas toalhas nos braços.

— Akemi-chan! — me aproximo a sorrir. — Por favor, me permita ajudá-la.

Ela sorri, eu pego algumas toalhas que lhe obstruem a visão e seguimos em direção às termais.

— Izanami-sama, como está? Muitos murmuram suas atitudes dignas de um herdeiro do trovão.

— Sinto que driblei o meu medo, Akemi. Quando subi naquele telhado, pensei que me feriria se caísse, mas pensei nas milhares de vidas que habitavam no Santuário, no tamanho daquela criatura, em seus poderes extravagantes e apenas agi pela honra dos homens e mulheres que lutavam. Eu só queria ser útil.

— E foi. Me impressiona sua presteza com o arco e o domínio que teve com o raio sagrado. Jura que nunca havia treinado com a magia?

Chegamos às termais e algumas das boas damas estavam banhando, seus corpos mergulhados na neblina das águas quentes e refrescantes.

— Não! Sequer sabia que manifestava poderes dessa forma. Hisashi ficou deveras orgulhoso e eu, surpresa.

— Todos ficamos. Aparentemente, agora a senhorita se tornou alguém de apreço e que chama atenção pela humildade que demonstrou ao não se vangloriar.

— Por que eu faria isso? Nunca gostei de atenção para mim — dou de ombros.

— Sério? Sempre... estava cercada de muitos amigos no Shogakko.

Olhei para ela.

— Perdoe-me, não queria ser indiscreta — ela reverenciou.

Eu sorri um pouco.

— Você será minha melhor amiga.

— Não se incomoda de... — ela entregou uma toalha para uma dama impaciente. — Ser vista com uma serva?

— Me incomodar? Sinceramente, estou gostando muito do que estou fazendo nesse momento!

— Só está entregando umas toalhas... Izanami-sama.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora