(九) Doninhas Falantes

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Eu pulo para trás, irrequieta, e não paro de espiar sobre minhas costas. Vozes, conversas alegres, promessas, perguntas, a interação entre homem e natureza, as vozinhas finas questionando-os.

— Kati-chan, bom revê-la — ele sorriu e lhe acariciou as orelhas, enquanto que "ela" apenas estremeceu sobre seu toque.

— Quem é a donzela?

— Essa é Izanami-sama, última representante conhecida da casa de Makal, herdeira da marca do trovão.

— Ouvimos história sobre o passado heróico da casa de Makal — ela disse.

Não quero ficar a cinco metro deles, mas parece que fico quando minhas costas batem no tronco de uma árvore e por muito pouco não sou vítima das garras de um segundo animal que surgiu bem ao meu lado. Estava camuflado. Estava transformado no tronco da árvore! Era isso o que eles faziam; disfarçar suas intenções malignas.

Eu gritei quando ele me ameaçou com suas garras e rugiu.

— Izanami-sama, está com medo? — perguntou ela docemente.

— Apavorada! — respondo com sinceridade e pressa. Hisashi me oferta sua mão e eu quero apertá-la o mais forte que posso para ficar longe do outro que parece irritado com seus pelos marrons ouriçados, olhos vermelhos e uma foice pontiaguda segura entre os dedos.

— A senhorita Izanami sente medo, por isso viemos até aqui. Por que não devo temê-la... Kati-chan?

— Porque você é o meu bom amigo e eu confio em você!

Parecia que o outro na árvore era quem não confiava em mim porque me mostrou as presas enquanto seus olhos terríveis me fitavam.

— Izanami-sama... torne-se amiga daquele que está na árvore.

— Mas...

— Se não fizer, não tem almoço — ele desafia.

— É um alto preço a se pagar — brincou Kati, um sorriso gentil lhe correndo as faces opulentas, como se ela fosse uma humana e sentisse que estou com tanto medo repreendido.

Espera... medo repreendido? O mesmo medo que as garras e os dentes daqueles lobos me causavam nas primeiras vezes em que estive com eles? O medo que cedeu logo que Liu, a alfa da alcateia, olhou em meus olhos com um instinto maternal que me permitiu toca-la no focinho para que fosse cheirada?

Tantos outros medos.

Tantas outras coisas que aquele Kamaitachi de olhos vermelhos sabia explorar dentro de mim para me fazer temê-lo.

Ergui a mão com coragem.

— SAAAI!

Eu grito e corro para ele, no instante em que sua voz rasgada me ameaça.

— Hisashi-sensei, aquela doninha quer me matar!

Eles dois riram e ela enrolou sua cauda felpuda no braço dele para que pudesse escalar até o seu ombro.

— Divirta-se, senhorita Izanami. Até daqui a pouco — disse Hisashi ao partir com Kati.

— Por favor, não me deixa aqui com... com ele.

— CHORE DE MEDO SUA COVARDE! — ele grunhe.

Franzo o cenho. Não quero ficar sem almoço. Não quero temer, pois o medo leva ao desespero, o desespero leva a apreensão, e a apreensão se torna agonia. Essas foram as palavras que o meu pai me deu naquela quarta primavera da minha vida quando subi numa árvore e não conseguia descer. Izanagi estava ali, aos pés da árvore com os pequenos braços me esperando, mas o que ele faria se eu pulasse? Certamente nós dois nos machucariamos.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora