(二十七) A Última Luz

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A minha luz estava morta.

O meu sonho, mesmo que não planejado, também estava morto. Minato deixou esse buraco em minha alma do momento em que ele sorriu pela última vez, antes de entrarmos cada um num vestiário diferente. Ali, por mais irrequieta que estivesse com a ideia de tornar-me mulher exatamente nessa noite, nesse momento, havia se tornando uma força maior e uma sensação de que poderia dar certo se eu o permitisse.

Ele o queria, isso afirmo notoriamente. Penso. Seríamos bons juntos, seriamos uma dupla tão memorável quanto os meus pais foram; erguendo a voz diante de um conselho na busca pela paz verdadeira e pelo entendimento da verdade.

Agora, nem mesmo pude me despedir.

Provavelmente o seu corpo estava irreconhecível numa daquelas piras erguidas por toda a cidade, onde os inimigos de Tesauro haviam sido colocados naquela noite; os gritos, o relincho dos cavalos, o brilho do fogo sobre os olhos de todos por todo o Santuário e abaixo, na cidade.

Depois de Tesauro, o que me restava era o escuro do meu quarto e o travesseiro seguro entre meus dedos quando lembro do choro de Naomi ao passar diante de mim e me abraçar o mais forte que podia.

Não desejo estar ao lado de Tesauro. Não desejo que ele pense por mais que um segundo que vou apoiá-lo em qualquer decisão que acarrete no sofrimento de outras pessoas. Mas preciso ganhar tempo.

Preciso...

De repente, toques baixos em minha porta despertam a minha atenção, por mais escuro que tudo estivesse.

Toques ritmados, baixos, quase segredados.

— Izanami! — ouço um sussurro através das frestas.

Corro para abri-la.

— Akemi! — sussurro de igual.

— Precisa me acompanhar. Hisashi e Zu'rien querem te encontrar.

— Sagrados divinos! — sequer penso que vou estar saindo do Templo quando encosto a porta de minha casa e parto do jeito que estou; em vestes de dormir e descalça.

Akemi me guia pelo escuro, segurando minha mão com tal firmeza que não via mais cedo quando me contou seu segredo terrível.

— Akemi — interrompi o nosso movimento. — Como você está?

— Até agora... bem. A coisa não se manifestou até então. Por favor, vamos apressadamente, os soldados de Tesauro podem estar em qualquer lugar. Um detalhe sobre eles: eles não fazem barulho.

Ao que sei, Tesauro era conhecido como mestre do silêncio, provavelmente pelo fato de que o silêncio era a sua maior arma — exatamente como fora quando nos atacou, quando menos esperávamos. Como imaginaríamos que ele entraria num lugar cheio de Guardiões e Mestres e faria um ataque tão sincronizado e incapacitante?

Quando atravessamos as veias do Templo, Akemi me fez encostar na parede no exato instante em que dois soldados grandes passavam pelo corredor que advinha o da torre do grande relógio. Quando eles passaram, ela desnudou seus calçados e nós continuamos a correr até chegar à portaria e subir os lances de escada.

Ouço vozes. São eles dois, notavelmente numa conversa importante pela voz em tom de segredo. Quando surgimos a luz azulada da noite, ambos nos repararam.

— Hisashi-sensei! — ao entrar, me agarro ao seu pescoço e sei que preciso da sua segurança e da sua presença para me sentir viva. — Fico agradecida que vocês estejam bem! Você também... Zu'rien.

Ela virou as faces para o outro lado.

Akemi se aproximou dela e se sentou no canto.

— Peço perdão se a abandonei no instante em que mais precisava.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora