(三十一) A Desonra dos Ambiciosos

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— Zu'rien, Filha de Tesauro.

— Grande Templo do Raio.

Não posso permitir a raiva me consumir de dentro para fora.

Hisashi me ensinou sobre isso.

Não posso reagir de forma como reagiria Izanami.

Não posso deixar o ódio ditar o que sinto sempre que olho para o meu pai.

Apenas posso sentir em silêncio, enquanto o observo lá em cima e esperando pelo próximo embate.

O meu. O terceiro naquele começo de tarde.

Eu olho para frente, meu inimigo é um shonen de cabelos negros e rosto ossudo que parece bem à vontade. Ele não deve ter mais que doze anos. Tão determinado, tão disposto a lutar, provavelmente pela mulher que estava na arquibancada com as mãos unidas à altura do peito em torcida e permanente oração sabendo bem quem eu era.

Quero dizer... quem Izanami era.

Prestamos uma reverência breve um ao outro.

— Próximo embate: Izanami versus Haru. Hajime!

Ele pula sobre o dojo, passos gentis e calculados quando ambos os seus pequenos pés se chocam contra meus braços cruzados em X. Eu o arremesso de volta para trás, ele pousa com um giro e um passo bêbado.

Logo depois são golpes centrados acima dos meus ombros que em si eram tão fáceis de driblar, se por um segundo traçasse uma reta entre seus pés, o dojo e o movimento de seus braços para que então...

Um único golpe no centro do peito com a mão numa palma fosse suficiente para paralisá-lo onde estava. Então ele caiu de costas no chão e um coro de palmas ressoou.

Yame! — gritou o árbitro, finalizando a luta.

— Parabéns minha princesa, você sempre me orgulhou! — disse Tesauro, além das palmas.

— Me perdoe! — sussurro ao jovem enquanto o ajudo a levantar, sendo provavelmente essa a atitude "altruísta" que Izanami teria depois de ferir alguém que lutava apenas pela chance de realizar um pedido mesmo sabendo que seria trucidado pela presença de tantos competidores maiores em força, experiência e habilidade.

E olho para Tesauro, o ódio mortal aquece a minha bochecha quando me direciono para sentar ao lado dele e do irmão débil e inapto que mais se parecia um boneco manipulado por cordas.

— Você ficou boa em combate corporal, Nami— disse o bonecão. — Sempre achei que seria a primeira a se recusar a combater por motivos diversos, sobretudo contra uma criança.

— Bato até em você se me tirar do sério — joguei um olhar de esgoela em sua direção, enquanto que Tesauro, entre nós, apenas ergueu as vistas como se contestasse minha auto-confiança. Então reduzi, cruzei as pernas e acompanhei a próxima luta. — De certa forma estou sendo impelida a escolher entre minha honra e a vida dos Shinson de Maatsu Ohkami. Você não sente vergonha de agir como se não se importasse com os outros?

— E não me importo — ele balançou a cabeça, um mediano sorriso. — Pessoas são fardos pesados para serem carregados nas costas. Elas acreditam que nós, Eremitas, somos destinados a protegê-los e servi-los, como se o nosso sangue sagrado valesse menos do que o deles.

Olhei-o atravessado.

— Como se você fosse digno de ser um Eremita. Como se sangue que você derramou carregasse honra!

— Ei, ei, vocês dois! Já vai começar o próximo embate, fiquem quietos, por gentileza! — Tesauro resmungou. — Sente-se mais próximo de mim, preciosa.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora