(四十五) Veneno

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Assim que atravessamos a Ponte do Céu, nós nos guiamos até o centro dos curandeiros e lá percebemos o quão doloroso estava sendo o reinado de Tesauro.

Assim que atravessamos as portarias, nos deparamos com dor, doença, fome, gritos e sofrimento naquele complexo incrustado nas pedras. Curandeiros passavam a todo momento, cuidando de pessoas feridas ou que tinham perdido a noção da realidade, sendo que disparavam seus poderes ao acaso e contra todos.

Ali, desviamos dos homens e mulheres que nunca paravam e seguimos até uma porta de pedra pesada. Izanagi estalou os dedos para que notássemos a escada estreita que apenas descia em direção a escuridão total e o ar fétido de mofo.

— Como descobriu esse lugar?

— Tsuna todos os dias fazia o mesmo ritual: tomava um banho nas termas, juntava três dos seus serviçais e caminhavam até aqui às exatas dez horas da noite, sozinhos. Num dia jurei que ela pudesse estar preparando um golpe, e estava certa. Não que ela planejasse um golpe contra o conselho, mas que havia adotado medidas para se proteger caso necessitasse.

Iniciei uma chama ao friccionar as unhas contra um fragmento de madeira que ali encontrei, restos de uma tocha. Quando tudo se iluminou, nós estávamos diante de sua cruel pesquisa.

O corpo submerso em gelo de uma mulher com as características de um Akhan — marcações e símbolos tribais característicos inscritos na pele. Sobre ela havia um armário, e dentro desse armário estava nossa arma.

— O que são essas coisas?

— Pelo o que li naqueles inscritos — apontei para o amontado de pergaminhos num armário. —, trata-se de um veneno. Você conhece a lenda dos primeiros Eremitas?

— Sim, Tesauro me contava a história das fundações.

— Pois bem, acredito fielmente que esse líquido verde são traços da doença que atingiu os Akhans. Esse líquido saia dos ossos deles e era letal para qualquer pessoa que entrasse em contato, exceto eles mesmos.

Ele me olhou com estranheza. A meia luz, seu rosto sem barba era de apenas um jovem curioso.

— E no que isso pode nos ajudar? Não imagino que esteja pensando em usar isso já que... eles seriam imunes ao próprio veneno.

— Ai é que está, Izanagi-san! — tomei em mãos um dos potes e sacodi o conteúdo. — Esse veneno foi utilizado em duas poções diferentes: uma serviu como elixir para algum tipo de doença, enquanto que a outra foi transformada em um super veneno, adulterado por uma concentração de peçonha de serpente.

— Como você sabe tanto sobre misturas e venenos?

— Fácil — olho-o. — Eu sou filha de Tesauro. Precisava ter algo para me defender, caso necessário. Assim como ela fez — devolvo o pote ao lugar. — Hoje em dia o veneno dos Akhans já não é uma ameaça, mas isso aqui é. Se antes bastava entrar em contato com ele para ter uma morte certa...

— Esse matará qualquer um que tocar.

Confirmei com a cabeça e tive a certeza de que, quando fossemos marchar em direção a vitória, nós usaríamos a arma deles contra eles mesmos e nem uma feiticeira seria capaz de impedir nosso avanço.

Bem, as Luminatas serão inúteis enquanto precisarmos imergir nossas lâminas com o veneno.

— * —

Eu não sabia de que forma ou em que lugar encontraria Kizan, mas sabia que ele receberia a minha mensagem e saberia o que fazer logo em seguida para que os homens de Tesauro não fossem um incômodo.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora