(四十三) Maatsu Ohkami, Luz do Raio

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Sagrados Divinos — a única coisa que pude pensar.

Nunca em minha vida pude me dar tal privilégio de estar diante de uma Kami, menos ainda uma que estava entre os homens e que se eu esticasse as mãos poderia tocá-la. Ela estava morta, mas seu corpo parecia inacreditavelmente conservado; bem diziam que os kami eram imortais de espírito, então, o que ela deixou para trás foi apenas sua carapaça mortal para que ascendesse de volta a Ponte Flutuante — talvez aquelas colunas que Yuki e eu vimos, com kanjis que eram os seus nomes.

E seu corpo estava impecável.

— Honrado é o seu nome — disse Akemi em admiração.

Maatsu Ohkami era uma mulher de aparente meia idade, a pele cinzenta, o rosto marcado por símbolos, cabelos prateados reluzentes, longos e lisos e os nossos traços; olhos diminutos, boca pequena, queixo pontudo. Ela trajava uma veste de seda azul e suas mãos descansavam gentilmente a altura do peito, enquanto que uma aura ascendente vibrava ao seu redor como farelos de diamante.

— Onde está? — eu pergunto, confusa.

— O que procuram é a demonstração mais pura do poder que reside em nosso interior. Ela vem quando sentimos medo, emoção, alegria, tristeza, torpor ou amor. É ela quem nutre e humaniza os sentimentos, seja de um homem ou de um Divino.

Hisashi dobrou os lábios.

— Então... a Lágrima Celestial... são literalmente as lágrimas de Maatsu Ohkami?

A sacerdotisa balançou a cabeça.

— O poder de um Divino... na palma de suas mãos — ela nos jogou um pequeno recipiente. — A senhora aprova que vocês levem seu poder, mas assim que a Lágrima for provada... o sacrifício ocorrerá.

— O que devemos sacrificar! — gritou Hisashi.

— Izanami sacrificará o que mais teme: seus poderes — disse ela plácidamente. — Você... sacrificará o amor em nome da paz. E Akemi... sacrificará a sua liberdade em nome da liberdade de vocês dois: a paz e a esperança. Ela será a próxima guardiã da Lágrima Celestial em meu lugar.

Não...

Não podia ser verdade. Não devia haver um sacrifício tão doloroso, pois isso era pior do que a morte! Não apenas para mim, mas para todos nós. A Lágrima Celestial era o que podíamos sentir, o que movia nossos espíritos em direção a guerra e, toda provação que passamos de lá até aqui... nos fez verter lágrimas como as de Maatsu Ohkami.

Meus olhos lacrimejaram verdadeiramente, quando soube que havíamos encontrado um epílogo e uma resposta para as nossas perguntas.

— Não! — eu digo, quase um grito. — Deve haver outro jeito que não destroce as nossas almas!

— Maatsu Ohkami dedicou sua vida em nome da paz. Suas lágrimas criaram o necessário para que os Escuros fossem derrotados e os Shaofeng, aprisionados. Homens que cobiçam a vingança, tem seus corações estraçalhados por essa decisão, mas a honra de lutar contra o mal, exige que estejamos dispostos a verter lágrimas em prol da paz. O poder dela é a esperança, e esse será o poder que usarão para apartar as trevas trazidas por essa batalha contra o homem de seu passado.

— Só esperança — Hisashi resmungou.

Eu esmurrei a tampa do sarcófago e me curvei, me negando a aceitar que para ter o poder de um Kami, nós três seríamos condenados a uma vida onde não haveria guerra — afinal, era um poder suficiente para derrotar até mesmo um Shaofeng, quem dirá um exército de homens.

Esperança...

Esperança...

— O que fazemos com esperança? — eu questionei.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora