Termos usados:
Yuki: Mesmo que neve ou nevasca.
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— Izanami, Filha da desonrada casa de Makal.
O som das águas batendo nas pedras é reconfortante e acalentador. Os passos das nossas botas sobre as rochas úmidas ressoam por todo lugar em que passávamos. As cachoeiras desabam dos céus muito além do que conseguimos ver através da neblina densa criada por elas.
Nós descemos por uma longa escadaria fincada na encosta de uma parede. Ela nos arrasta para baixo onde mais à frente há uma velha ponte de madeira sobre uma das cachoeiras. Depois da ponte há uma rocha grande e o que parece ser uma cabana de caça entre duas árvores de galhos grosseiros.
— Estou com fome — digo, após sentir as dores apertando meu estômago pelas duras horas em que nos pusemos a caminhar desde que o dia amanheceu.
— Podemos ver se tem algo ou alguém naquela cabana mais à frente — sugeriu Hisashi.
E foi o que fizemos.
Cuidadosamente passamos pela velha ponte, admirando como o sol parecia mais alto daquela posição. Como estávamos cercados por paredes escuras e molhadas durante séculos, tudo o que nos cercava estava mergulhado na neblina. Nós passamos atentamente sobre a ponte, segurando nas cordas que se desfiavam e ela balançava um pouco.
Akemi estava quieta, andava mais para trás praticamente desde o momento em que chegamos a esse trecho do longo percurso até o "nascimento da luz", o ponto mais distante de onde o sol nascia todas as manhãs.
De acordo com o velho Baki, o Templo da Luz estava muito distante a pé e o caminho até ele passava pela Ponte Flutuante do Céu. Hisashi sabia como chegar a ela, o que nos deixava mais próximos, e da metade dela para lá estava o que Baki nos doutrinou conforme os sussurros dos antigos espíritos; O Templo da Luz segue os dois que voam pelos céus e pelos dois que caminham pela terra.
Interpretando, o caminho foi misticamente marcado não por simbolismo, mas pela existência e pela presença de quatro Lendas; Karura — Asa de Maatsu Ohkami, ou Pássaro Trovão do Vale. Ryukushin — Dragão Guardião do Templo de Jade. Baku — Elefante Devorador de Sonhos. E Shiranui... que foi chamada de "Guardiã de Izanami".
Os espíritos ouviram sobre mim.
Os espíritos sabiam da minha existência e da minha missão.
Hisashi acreditava que havia um kanji que os representava próximo de onde as Lendas deveriam estar, no caminho até o Templo, e que tocar esses kanjis nos guiaria ao próximo até as portas do Templo. Então, confiamos no julgamento dele e no seu conhecimento.
Eu voltei para trás e peguei Akemi pela mão. Hisashi olhou ao redor da rocha que sustentava a cabana lá em cima e depois deu a volta. Vi que ali havia uma escada circular entalhada e nós subimos, nos deparamos com um jardim e uma porta forrada por um par de cortinas vermelhas esburacadas.
Ele acenou com as mãos pedindo silêncio e depois se encaminhou até o interior da cabana.
— Você está bem, Akemi? Não fala nada desde que saímos daquele vilarejo onde adoravam Ryukushin.
— Meu ventre dói, Izanami. Uma dor aguda que arde. Acho que... aquela coisa quer sair.
— Mas... o seu ciclo passou tem alguns dias já, não?
— Sim, mas desde que saímos da casa de Baki que estou sentindo essa queimação. Há uma voz na minha cabeça. Ela é perturbadora, fica me acusando de servir as trevas, de precisar de sangue inocente para sobreviver. Ela começou depois que passamos pelo Yomi.
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O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)
Fantasy[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2021 EM FANTASIA!] Exilada de sua casa e vivendo entre lobos, Izanami não tem lembranças do seu passado, de quem ou o que a levou até a floresta quando, dez anos antes, a desonra do seu estimado mestre tirou...