18- Sensações

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A menina era a coisa mais linda que já tinha visto na vida.

Na ponta dos dois pés Khai se apoia no parapeito da grande janela de vidro que divide a parede ao meio e dá acesso a uma sala ampla onde uma adolescente desliza da forma mais graciosa do mundo, os olhos do pequeno brilham com a cena, ele está maravilhado, nunca viu algo assim de perto.

Tinha ido na livraria como sempre com alguns amigos gostavam da sorveteira que fica em frente e na livraria tinha uma sessão para empréstimos de livros infanto-juvenil quadrinhos e mangas, então era a diversão dos garotos poder ler esses exemplares e depois se divertir tomando sorvete antes de voltar para casa no fim da tarde, eram todos vizinhos de bairro.

Mas nesse dia em particular Khai acabou tendo muita dor de cabeça depois de trocar o grau dos óculos então não estava conseguindo ler e foi dar uma volta sozinho, nunca tinha andando por aquele andar, como sempre tinha um adulto supervisionando os meninos na livraria a pedido dos pais, era raro um ou outro conseguir escapar, mas nesse dia conseguiu e agora estava parado boquiaberto olhando a linda bailarina, roupas cor de rosa, cabelo bem preso em um coque, o corpo esguio girando e girando pela sala, isso por si só já era algo incrível, outros alunos de balé estavam sentados observando também a bela performance da menina, derrepente um menino levanta e se junta a dança e o coração de Khai acelerou de um modo que a criança nunca sentiu antes, tinha um menino dançando? Um menino? Os meninos podiam fazer isso? Era lindo, perfeito o som da melodia se fundindo com os movimentos do corpo do casal que rodopia pela sala, que cena perfeita que momento único.

Essa era a lembrança mais feliz e significativa de sua infância quando descobriu sua vocação, seu dom, seu sonho.

Khai cresceu com aquele sentimento enraizado em seu peito, nunca mais algo ia fazer seu coração acelerar do mesmo modo, a dança era uma paixão única que tomava todos os seus sentidos completamente, aquela palpitação e aquele êxtase sempre seriam ligados a dança, sua única paixão de verdade, são sensações que não pode sentir por outro motivo.

... Então por que seu coração está descompassado dessa mesma forma nesse momento? Não existe música, mas seus ouvidos podem ouvir uma melodia interna, não existe dança, mas seu corpo consegue sentir os músculos se tensionar igual quando dança, não existe nada de tão perfeito diante de seus olhos como aquele casal de bailarinos e... Sim existe algo perfeito diante de si, olhos profundos, de alguém que tem lábios bem desenhados, nariz bonito, uma pele pálida que aparenta ser tão macia.

Por alguns segundos Khai esqueceu como se respira, preso no mesmo tipo de sensação que teve aos doze anos de idade diante de algo que tomou todo seu coração e toda sua vida, a dança, mas ali diante de seus olhos podia estar o rapaz mais lindo e desejável que já viu na vida, mas ainda assim é alguém que lhe persegue, insulta, o odeia.

"Teh me odeia, nunca fiz mal a ele, e mesmo assim ele me odeia."

Esse pensamento é o suficiente para fazer ele retornar ao mundo real e endireitar o corpo se afastando rápido de Teh.

Teh não parece estar em órbita ainda, o outro se afastou e se virou de frente novamente, cabisbaixo encarando o chão, mas agora que não tem mais o olhar intenso de Khai no campo de visão, seus olhos focam nos lábios rosados do menor, Khai morde de forma nervosa o lábio inferior, a boca carnuda e bonita fica ainda mais atraente quando avermelhada, Teh chega a engolir em seco antes de se dar conta de que seu próprio copo se inclina involuntariamente na direção do outro estudante.

"-Mais que porra eu estou pensando agora?"

Não pode ser verdade, quis tanto que o pequeno lhe olhasse nos olhos para tirar as dúvidas que sentia, e agora esse formigar no estômago, essa paz estranha que sente naquele olhar, está suando? Está realmente quente ao ponto de suar? Que droga é isso?Fecha ambas as mãos e as aperta com força, para resistir a um desejo crescente em sua mente, quer tocar naquele cara na sua frente? Quer mermo sentir a textura da pele dele sobre seus dedos?

"-Enloqueceu? Teh seu bastardo você enloqueceu?"

Se repreende mentalmente e tenta voltar ao estado normal, tem alto controle, mas dessa vez o esforço parece ser redobrado quando da um passo para trás descendo um degrau.

Khai vê que Teh tem os dois punhos cerrados, ele está com tanta raiva assim agora? Aquele cara nunca levantou a mão para ele antes, mas nunca se sabe, se ele for violento com certeza vai revidar, nem mesmo o pai nunca lhe bateu, não vai deixar que um estranho faça isso, um estranho? Aquele é mesmo um estranho? Por que se sente tão familiarizado com esse colega de faculdade? Aliás por que Teh está na sua casa agora?

Khai empurra de leve o ombro de Teh fazendo ele se afastar um pouco e abrir passagem, se apoiando na parede lateral e firmando mais o peso na perna boa Khai desce vagarosamente os degrau.
Teh que observa e segue o outro para o caso dele cair poder ajudar, tem receio de tocar em Khai agora ou mesmo olhar em seus olhos de novo, quer que essa confusão mental que está sentindo desapareça, e isso não vai ser fácil se forem estar próximos desse modo de agora em diante. Tem que tirar esses pensamentos estranhos da mente o mais rápido possível alias.

- Você viu meu irmão?

Khai só para quando chega a cozinha, está revirando a geladeira até achar uma garrafa de suco. Teh parou não muito longe, e está apoiado meio de pé meio sentado na mesa de jantar, braço cruzados enquanto observa o menor que está de costas, mesmo sendo pouca coisa menor Khai parece ter um corpo forte, usa blusas no geral mais largas, e pelo uniforme maior que o número dele não dava para ver essa definição, mas ali de bermuda e camiseta, o corpo dele se destaca em cada curva, em cada músculo seus ombros são bonitos, as costas com os músculos aparentes nos braços, a cintura mais fina da um toque de  delicadeza ao corpo forte o olhar de Teh continua descendo pelo corpo do outro e então ele balança a cabeça, desviando a atenção, focando o olhar na janela ampla da cozinha que mostra um lindo jardim la fora, tenta limpar a mente, falar de outras coisas.

- Nem sei quem é seu irmão.

- Então como entrou aqui?

- Tenho a chave...- Teh ri de canto, Khai que está no segundo copo de suco fica encostado no balcão da pia o mais distante que consegue de Teh - Meu primo Sinn estava viajando, a gente ia morar juntos assim que ele voltasse, parece que voltou hoje, fui arrumar minhas coisas no dormitório e ele já tinha passado por lá e deixado na portaria o endereço e a chave aqui dessa casa. Quando cheguei imaginei que ele estava descansando da viagem por isso esperei na sala, até ouvir alguém gritando do topo da escada um gno...

Teh que ainda sorri não chega a terminar a frase, Khai mesmo machucado larga o copo e chega de forma rápida até ele e segura Teh pelo colarinho, seus olhares não se cruzam, o mais alto chega a se virar surpreso, mas o outro mantém o olhar baixo.

- Não ouse, estou cansado de você e dos seus apelidos, não me importo com quem te convidou, se continuar me ofendendo eu vou te chutar dessa casa.

Apesar das palavras de afronta, Teh percebe que as mãos que apertam a gola se sua camisa estão tremendo de leve.

- Como vai me chutar baixinho? Com essa perna aí?- Teh sorri mais amplamente, nem ele mesmo consegue entender que prazer sente em provocar o outro, já que normalmente não se comporta assim com outras pessoas.

- Você me machucou!

Khai quase grita e encara o rapaz cujo sorriso some imediatamente, estão de novo se olhando nos olhos e agora tão perto que Teh não consegue ignorar aquela sensação e o menor tem um cheiro gostoso e suave como talco de bebê. Olhar para ele é como se perder em um oceano a noite, brilhante a luz da lua. Os olhos castanho escuro de Khai brilhando desse modo cheios de irritação é tão bonito e fascinante que é fácil se perder nesse olhar.

- Me desculpa, foi um acidente...-Teh sussurra.

O som da voz do maior, saindo assim tão suave é como um despertador aos ouvidos de Khai que ao perceber que está exaltado de mais tenta se conter, aquele encrenqueiro, delinquente tira sua paciência em um nível que acaba ficando desequilibrado, então recolhe as mãos e baixa os olhos, agora está sem jeito, e muda de imediato o rumo da conversa.

- Esse seu primo. Acho que já ouvi P'Chai falar dele, é namorado ou algo assim do meu irmão, não sabia que estavam pretendendo morar juntos.

- Você mora aqui com seu irmão? Só vocês dois?

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