CAP 001 || o leãozinho!

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"Para desentristecer, leãozinho,

O meu coração tão só,

Basta eu encontrar você no caminho!"


São Paulo, Quatorze de Março de Dois Mil e Vinte e Dois. Excepcionalmente naquela semana, dona Maria da Graça tinha deixado a casa na Cantareira e ido passar a semana na capital com as herdeiras. Apesar da idade que tinha, ela ainda insistia em dirigir e fazer absolutamente tudo o que podia fazer sozinha, para o desespero de Simone (em casos como ela pegar a estrada sem mais ninguém, por exemplo). Mas a mãe dela resistia, e de fato ela estava bem demais, com uma lucidez e uma vitalidade de fazer inveja à ela e Verônica às vezes. A senhora estava na cozinha, fervendo água para passar um café pra elas duas, e enquanto esperava o trabalho do fogão, trouxe o iogurte de morango e os cereais da geladeira. Haviam dois potes de louça sobre a mesa, diante das duas cadeiras que tinham um assento de elevação para facilitar a vida das crianças. Já estava acostumada ao que elas comiam quase todo dia de manhã, salvo raras exceções, e junto do que já tinha servido deixou os dois copos coloridos com suco de laranja pela metade. Feito o café, servida a comida das crianças, foi até os quartos no segundo andar. A casa de Simone ficava num condomínio fechado, dentro de um bairro mais afastado do centro da capital paulista, e já era ali que os pais dela moravam até antes de dona Graça ficar viúva. Ou seja, ela já estava habituada à vizinhança, e dessa forma as crianças cresceriam da mesma forma.


"Bom dia, bom dia, bom dia. Quem quer ir tomar café com a vovó?"

"EU!"

"E EU TAMBÉM!"

"Pronto. As duas já estão prontas, enquanto vocês três comem eu vou trocar de roupa, e volto pra encontrar as três na cozinha."

"Vai. Eu vou fazer o seu café enquanto isso, pra estar quentinho..."


A avó perguntou inicialmente, sendo imediatamente respondida pelo grito quase em uníssono das duas meninas. Logo depois Simone 'entregou' as duas à avó delas, avisando que iria trocar de roupa para poderem comer e depois sair de casa. Ela estava sem carro, esperando o carro novo ser entregue na concessionária, o que deveria ter acontecido na sexta-feira anterior mas que por um motivo ridículo acabou atrasando pelo menos mais uma semana. Por este motivo dona Graça foi ficar com elas aquela semana, ela pelo menos cuidaria das gêmeas e daria atenção à elas juntamente com a babá, e quanto à Simone ela poderia se virar com muito mais facilidade sabendo que a assistência às duas crianças estava resolvida e de forma segura. As duas saíram de mãozinhas dadas com dona Graça, e Simone rezava para que a roupa da escola continuasse intacta depois do café da manhã, pois ter que trocar tudo de novo acabaria atrasando o começo do dia delas. A sua mãe lhe deixaria primeiro na agência, e depois levaria as meninas na escola, e de lá tinha um encontro com uma amiga que estava na cidade. Ou seja, dia cheio para todas elas! Simone escolheu o look clássico para os dias de trabalho: a calça social, a camisa geralmente de seda ou então alguma social também e que tivesse os botões na frente, e o terninho geralmente da mesma cor da calça para combinar. Era sempre uma versão muito mais sóbria de si mesma quando tinha algum compromisso mais importante no trabalho, como era o caso do dia de hoje. O visual assim tão formal tinha sido uma das primeiras medidas adotadas por ela, logo no início da carreira à frente da agência, porque era como se ela se arrumando dessa maneira... ela queria que a inspiração de poder e autoconfiança viesse inclusive das roupas que vestia, como se isso de alguma forma tivesse influência sobre as pessoas levá-la a sério como ela queria ser levada. Procurou um dos saltos confortáveis, mas elegantes, para complementar a roupa. Jóias, perfume, cabelo escovado e meticulosamente arrumado, ela estava pronta para sair. Deixou para vestir o blazer apenas quando fossem sair, levando-o consigo até a mesa de jantar na sala, onde o deixou apoiado no encosto de uma das cadeiras. Finalmente chegou à cozinha e sorriu, por um segundo, de ver as meninas ouvindo da avó a história de... parecia a história de alguma música, e quando ela ouviu o 'leãozinho' no meio da conversa entendeu.


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