Paz Interior só Que Não

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Benedita Dias 

Cheguei a casa quase às 23 da noite, sair dali daquela zona do Colombo, era complicado, ainda mais quando era uma sexta-feira e jogo na Luz. 

Consegui chegar a casa, mas com queixas da Carolina e da Mariana que me pediram para não sair do estádio antes do jogo acabar, mas não adiantou grande coisa, já que não lhes dei ouvidos. 

Tomei banho, e acabo por adormecer, mas acordo durante a noite com um barulho vindo da janela. 

Levanto-me e recebo uma pedrada. 

-Au! - digo com a mão na boca. - O que fazes tu aqui? - digo chateada. 

- Eu quero falar contigo!

- Félix, não, desaparece daqui! - digo. 

- Olhem, eu adoro-vos, mas podem CALAR A BOCA! - disse o meu irmão na janela ao lado. Respiro fundo e desço as escadas enrolada a uma manta. 

- O que queres? - digo a chegar-me perto dele. 

- Falar contigo. - disse. 

- Compreende isto, eu não quero, percebes? Eu não quero falar contigo. - digo e ele suspira. 

- Eu sei, mas por favor, ouve-me! - disse e eu neguei. 

- Quando eu quis falar, tu beijaste a Margarida, quando eu quis ouvir-te, tu mandaste embora. - Faço uma pausa. -  Por isso já não temos nada para conversar. - O meu olhar era sério, tenebroso podia dizer. 

- Eu errei, muito. - ele queria dizer mais, mas conteve-se. 

- Félix, diz de uma vez por todas, já que me acordas-te, agora fala. - digo irritada. 

- Ah. - Espero. 

- Esquece Félix, vai-te embora. 

-Achas que é fácil, chegar sem avisar? Chegar aqui às 02 da manhã e começar a falar? 

- Tiveste muito tempo para pensar, e és tu que queres conversar, deverias saber o que querias conversar, acho eu. 

- Não foste tu que me drogaste! 

- Já te tinha dito isso! - disse.

- Eu sei, agora sei a verdade! 

- Boa, que bom para ti! - disse e ele olhou para mim. 

- Eu enganei-me este tempo todo. 

- Sim. - disse. 

- Desculpa! - Sorri. 

- Desculpa? Vens até aqui pedir-me desculpa? Depois deste tempo todo? Pensas o quê? Que chegas aqui e eu apago o que disseste? - Ele não respondeu. - Tu és um egoísta, e eu odeio-te, odeio-te mais que tudo, não quero as tuas desculpas esfarrapadas, não quero nada teu. Quero que compreendas que eu já não gosto de ti. - disse quase a chorar. 

- Be, eu sei.  - disse a aproximar-se, mas eu afasto-me. 

- Para ti é Benedita, vai para casa! - disse.  - João, vai para casa! - Ele abraçou-me e eu sinto o cheiro a álcool pela primeira vez. 

- Eu não posso Benedita! - disse a chorar.  

- Podes! - disse.

- Não posso, eu não posso. - ele ficou de joelhos a minha frente e agarrou-me pelas pernas. - Coração. - respiro fundo, e olho para cima. 

- Félix, vai-te embora. - digo. 

- Eu cometi um erro! Um erro grande. 

- Não podemos voltar atrás, não podes apagar o que fizeste, agora vamos! - disse. 

- Onde vamos? - Pergunta ainda de joelhos. 

- Vou levar-te a casa! - disse, depois de puxa-lo, levei-o a casa, abro-lhe a porta, e guiei-o até ao quarto dele, ele fecha a porta, e eu ligo a água do chuveiro, ponho-o ali dentro, e ele não tira nenhuma peça de roupa. 

-Tira a roupa Félix! - digo, ele não obedeceu de imediato, mas acabou por ficar de boxers, engolo a seco, e ele ainda chorava, ele acabou por acabar acabar de tomar banho sozinho, vejo-o sair de fato de treino, sem camisa, ele senta-se na cama. 

- Porque me ajudas? - Pergunta, deitei-o.  

- Porque antes de seres meu namorado eras meu melhor amigo, meu amigo, e és irmão da minha melhor amiga, e eu não quero que ela me mate! - disse. 

- Desculpa, desculpa a sério! - Ele começou a chorar. 

- Félix para de chorar! - disse. 

- Deveria ter-te ouvido, tu não confiavas na Margarida, mas eu não te dei ouvidos, eu tomei-te por garantida, e comedi o maior erro da vida, magoei-te, maltratei-te, mas depois disso, tu mesmo a odiar-me ajudas-me! Não é justo! TU ÉS BOA DEMAIS! Odeia-me! Não me ajudes! - disse. 

- NÃO consigo não ajudar-te! - disse. - Eu quero, mas não consigo. Eu odeio-te! Mas ao ver-te a pedir ajuda, eu ajudo-te! Porque é isso que os amigos fazem! - Respiro fundo. - Tu devias ter falado e confiado em mim, antes de teres beijado a Margarida, eu tinha percebido aquilo da bebida, e ter-te encontrado com ela, era só ligar os pontos, mas tu não ajudas-te. Preferes-te a Margarida, preferes-te confiar nela, não me podes pedir desculpa agora, eu tentei perdoar-te durante meses eu tentei, mas não consegui, odeio-te, mas não é preciso muito para não odiar. Chegas a minha casa as duas da manhã, bates-me com uma pedra, e eu levo-te a casa, tens um ataque de ansiedade e eu ajudo-te, nunca quis ser injusta, mas devia pensar mais em mim, e e deixar-te ir. - digo, e ele olha para baixo. 

- Não me vais perdoar nunca? 

- Nunca é muito tempo! - digo. 

- Então tenho uma chance de me perdoares? 

- Uma em um milhão! - digo e só saí do quarto dele, quando ele adormeceu. 

Quando saí quase que morri. 

- Credo Carolina!  - digo. 

- Tu és boa demais! Eu tinha-o mandado a merda!  - disse. 

- Onde está a irmã que quer que eu faça as pazes?

- Na China, amanhã vou levar-te a fazer uma aula de ioga. - digo. 

- Uma aula de ioga?

- Sim, ioga! - disse. - Tens que ter paz interior, acho que estás tensa! 

Vou para casa e quando lá cheguei vejo  o meu irmão na minha cama. 

- O que fazes aqui Rúben? 

- Acordaste-me! Como ficou tu e o Félix?

- Não ficou. Levei-o a casa. 

- Tu ainda gostas dele? Podes ser sincera. 

- Eu odeio-o, mas quando ele precisa de ajuda, eu vou lá e ajudo-o, eu sei que não faz sentido, mas...

- O amor não se explica, por isso é amor, mas posso dizer uma coisa?

- Esse teu odeio é só uma maneira que tens para te proteger, porque tu gostas do Félix,  se não gostasses dele, nunca o ajudarias, mas tu é que sabes, tu é que sabes o que sentes, mas essa cara, não engana ninguém, só enganas-te a ti própria. 

Ele saiu deixando-me outra vez entre a faca e o queijo. 

Respiro fundo, Paz interior só que não.



João Félix | Only You | AcabadaOnde histórias criam vida. Descubra agora