Elevadores fechados

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João Félix

Aquele primeiro reencontro não foi como esperava, quando soube que estávamos no mesmo hotel, quis ir ao Inferno e voltar apenas para a sentir, mas como o tempo é presunçoso e egoísta não me deu esse oportunidade única de poder abraça-la e senti-la mais uma vez nos meus braços.

Eu estava a entrar em ebulição, e podem imaginar que foi gozado o resto do caminho até ao estádio, todavia não ligo para aqueles camelos, muito menos para as barbaridades que dizem, o que as vezes ajuda manter um sorriso gentil no rosto e não dizer nada.

Fui um dos primeiros a sair do autocarro, e fui o primeiro a entrar no estádio, mas sou absolvido pelo som dos meus colegas a chamarem-me, talvez não me tivesse virado se não fosse outra vez que eu conhecia e se não fosse o irmão dela a gritar o nome dela sem parar.

A morena era levantada no ar pelo irmão, e quando reposta no chão, olha na minha direção, era uma grande distância para ela correr com aqueles sapatos de 30 centímetros, mas ela fez sem cair, quando o meu corpo a envolveu eu sinto um leve aperto no peito, como se a saudade que sentia tivese a desaparecer.

Podia ser um abraço, mas ambos sabíamos que era muito mais que isso, queria tocar nela queria beija-la, mas contive-me e dou um leve beijo, mas um beijo com saudader com amor.

- Olá! - dissemos ao mesmo tempo, agora o corredor estava vazio, e ouvia-se apenas as vozes vindas do balneário.

- Já tinha saudades tuas. - Ela começa por dizer, olho ao redor e beijo-a agora com vontade. Ela sorriu entre o beijo o que se calhar não deveria ter feito, pois a minha erecão ficou em movimento ela sorriu mais uma vez, mas desta vez foi um sorriso maroto.

- Vês? A culpa disto é tua. - disse e ela beija-me novamente.

- O que me querias dizer? - O Sorriso que estava nos seus lábios, apagou-se. - O que foi que disse?

- Não disseste nada, mas não vais gostar do que vou dizer. - disse a afastar-se alguns centímetros de mim.

- Aconteceu alguma coisa Be? - Ela olha para todas as direção e encontra o Felipe a um canto a apontar para o pulso, sinal que ela deveria despachar-se. - Não vais ao jogo, pois não?

- Desculpa, João! - disse. - Eu tentei, mas marcaram para a mesma hora que o jogo. Não posso estar em dois lados ao mesmo tempo. - justifica e ficámos em silêncio por longos minutos.

- Benedita temos que ir. - disse o Felipe de longe.

- Não vais dizer nada? - Pergunta, eu olhei para os olhos dela e percebo um leve desapontamento.

- A nossa vida em primeiro. - digo apenas.

- Eu não quero discutir... - Eu encontrava já de costas.

- Nem eu, mas boa sorte. - disse e começo a caminhar.

- Que aconteceu? - Pergunta o Neves assim que viu.

- Nada! - disse apenas a vestir-me, não sou abordado por mais ninguém.

Benedita Dias

Assim que ele virou-me as costas eu soube que ele não percebia.

Sempre soubemos que aquilo poderia acontecer, mas ele foi frio, e não percebeu o meu ponto de vista, eu não estava a atirar as culpas para cima dele, nem para cima de mim, queria apenas que ele dissesse que me apoiava, mas deu-me apenas "Boa Sorte" o que para muitos cantores, bailarinos, e pessoas que trabalham atrás do grande palco não querem ouvir, dá azar.

Caminho de regresso para o carro, e o Felipe não se designou a falar comigo, pois percebeu que aquilo não tinha corrido bem.

Não é atoa que não se deve dizer "Boa Sorte" aos artistas supersticiosos e temperamentais, antes de uma atuação, eu tinha rituais, dizer pelo menos o hino do meu país uma vez, ler uma passagem da Bíblia, e cantar o refrão da música preferido do momento, e mais alguns rituais estranhos, mas naquele dia não fiz nenhum, pois assim que cheguei para ensaiar, o pior aconteceu.

- A Helena partiu uma perna. - Comenta o André.

- Como? - Pergunto desorientada.

- Estávamos a aquecer como mandaste e ela caiu. Já seguiu para o hospital. - disse a Luísa.

Eu respiro fundo e tento manter-me calma, mas aquele dia começou mal e posso dizer que não ia num bom caminho para correr bem.

Nada naquele dia fazia sentido, e podia dizer mesmo que nada daquilo parecia real, mas quando uma luz do palco caiu a centímetros de onde eu estava, fiquei por um fio de cancelar tudo naquele preciso momento.

- Vamos acalmarmo-nos todos, verifiquem mais uma vez, as luzes, os cabos, tudo, Be, vamos apanhar ar. - disse o Felipe a guiar-me para fora das instalações, quando ele fechou a porta eu apoio-me a parede, com falta de ar, respiro fundo, mas isso prejudica o ar que tinha nos pulmões.

- Be, tenta respirar. - Acho que não ajudou pois em vez de respirar, o ar faltava-me. - Isto não ajudou. - disse e ele ajuda-me a sentar-me no chão, o rapaz que estava preocupado, ficou mil vezes pior, quando viu a cor da minha cara. - Be, o que gostas?

- O que? - Pergunto quase sem ar, e acabo mesmo por ficar tonta.

- O Teu irmão o Rúben, é um grande defesa, como ele aprendeu a gostar dessa posição? - Penso nisso, mas nada me veio a cabeça, mas esqueço-me por momentos que estava a respirar.

- O ... Rúben sempre gostou dessa posição, mas veio a tornar-se uma imagem de marca, quando se formou no Benfica. - digo pausadamente.

- Isso é bom, por falar no Benfica, é o teu clube não? - Afirmo. - Sabes eu sou também do Benfica, já foste ao estádio da luz?

- Sim, já. - digo mais calma.

- Eu nunca fui. - disse.

- Posso levar-te lá, se quiseres. - digo e ele sorriu com a minha forma de dizer.

- Gostaria muito. - disse e percebo que já respirava novamente. - A conversa não correu bem, pois não? - Neguei. - Se calhar foi mal pensado, termos ido. - disse para mim.

- Não, eu tinha que lhe dizer. - disse confiante que era verdade, eu tinha que dizer ao João que não ia ver o jogo, apesar de ser o único jogo que teria oportunidade de ver antes de ir para Inglaterra.

- Nunca te tinha visto assim. Já tiveste muitos ataques de pânico, mas se isso se agravar temos que ir a um médico. - disse.

- Experimenta fazer o meu dia mentalmente e depois quase a veres a vida a correr-te pelos olhos, se não ficas como eu. - Ele apenas retraiu o sorriso, deixando-me apenas com a voz entalada.

- Be, como conheço bem a tua forma de seres, sei que não vais voltar lá para dentro com um sorriso na cara e brilhares está noite, por isso vai para o hotel, descansa, e eu vou buscar-te 1 hora antes do espectáculo. Já treinaste muito, agora não vais fazer aqui nada, vai para o hotel e tenta distrair. - disse-me e eu fui sem dar grandes voltas.

Ele tinha razão, eu já não ia fazer nada, acharia sempre uma maneira de parar os ensaios, ou para verificarem os cabos, ou as luzes, os microfones, os bailarinos, as roupas, tudo.

Podia ir para o hotel andar as voltas e ser pior para mim, mas ficar ali só iria cansar a minha cabeça, que neste momento pensava no Félix e na maneira como reagiu.

Não, eu tinha que pensar nos meus fãs, que tiraram 2 horas e meia para me verem no meu melhor e não a chorar pelos cantos.

Cheguei ao hotel, pronta para respirar fundo, deitar-me na cama e dormir, mas a vida é uma merda.

- Porque isto não abre? - Reconheço a voz, era ele.

Oh bolas!

O que poderia acontecer entre um casal num elevador fechado e...

Sem luz!

João Félix | Only You | AcabadaOnde histórias criam vida. Descubra agora