Capítulo 26

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Rheynah

— Não tive tempo de conversar com você. -encontro Azriel na sacada.

Ele observava o mar fantasma sem muito foco, suas sombras estavam sonolentas e quietas.

— Conversar sobre o que? -pergunta.

— Eu não sei, você sumiu. -digo apoiando uma mão no parapeito da sacada.

Ele desvia o olhar do mar e olha de relance para mim, para a minha barriga e novamente seu olhar pareceu perder o foco.

— Eu estava ocupado, tinha afazeres. -ele disse desviando o olhar.

Eu suspiro.

— Sabe que somos amigos e que pode me contar o motivo de seu silêncio em excesso? Por mais que eu chute que o motivo dele seja eu. -murmuro a última parte baixo mas ele ouviu.

— O que quer que eu diga?

— Como se sente, não é bom aguardar as coisas para si, eu guardei tudo o que sentia por anos atrás daquela máscara de ferro, e quando finalmente decidi pôr par a fora foi a melhor coisa que já fiz depois de fugir. -digo.

Silêncio, apenas o barulho sepulcral do mar e dos uivos do vento.

— Eu sempre quis ter uma família.

Eu olho para ele.

— Não digo que não tenho, tenho meus  irmãos e os outros, mas quero dizer em eu construir uma família. —ele disse— quando eu era criança eu não tive isso, meu pai me odiava, minha mãe me amava, meus irmãos por parte de pai não gostavam de mim e minha madrasta era cruel, tinha o amor da minha mãe em dias de visita mas era por pouco tempo, até eu ser trancado no quarto escuro de novo.

Eu me encolhi levemente.

— Eu sei como é estar no escuro. —sussurro— passei anos da minha vida trancada com ele.

Eu balanço a cabeça.

— Só queria ter algo bom que eu conquistei, queria ter o coração de alguém e então uma família com esse alguém. -fala baixo.

Ele olha para o mar.

— Era uma casa não muito engraçada que por falta de afeto, não tinha nada. -murmuro.

Ele me olha.

— Até tinha teto, jardim e livros velhos, só não deu pra comprar aquilo que faltava... -baixo o olhar.

— Bem estruturada, às vezes lotada mas mesmo lotada uma solidão. -ele murmura.

— Dizia o poeta, o que é feito de ego na rua dos tolos gera frustração. -sussurramos.

— Não tivemos uma vida fácil, e nem o que queríamos. —digo— mas não quer dizer que não possamos ser felizes, isso só nós podemos dizer.

Ele me olha.

— A nossa felicidade depende de nós, Azriel, não dos outros.

Minha mão tímida tocou a sua cheia de cicatrizes.

— Não sou eu quem vai fazer sua felicidade e nem você a minha, somos nós sozinhos. —inclino a cabeça— aprendi em silêncio que... Se há uma árvore caída no meio do caminho você não deve voltar ou sentar e esperar que ela suma dali, você deve pular.

Seus olhos avelã encaram os meus e eu sorri torto.

— A sua felicidade vai chegar quando você quiser que ela chegue, a mãe como vocês chamam, ajuda, isso é verdade, mas ela só ajuda na metade, a outra metade você tem que trabalhar duro para conseguir. -dou um tapinha em sua mão.

Corte Fantasma •Acotar✷Onde histórias criam vida. Descubra agora