Capítulo 1

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Reynah

O som dos meus sapatos ecoavam em leves palmas a cada degrau que eu descia das grandes escadarias. Do casarão.

Mamãe iria fazer uma festa mas tudo deu a entender que eu não era a convidada de honra, pelo contrário, era a de partida.

Eu paro no salão e olho para todos, vários rostos estranhos de "amigos" da minha mãe, ao lado dela como um cão obediente e submisso estava Nestha, a mesma com um vestido bonito e comportado, o nariz empinado e os olhos gelados afiados.

Aquilo era o padrão de uma dama, segundo minha mãe, já eu achava o cúmulo de um pesadelo. Nestha não se permitia sorrir ou sonhar, ela não parecia entender muito sobre isso, muito menos sobre ser feliz.

Um vulto rosa de um vestido pomposo e eu vejo de relance Elain tentando ser amigável com todos aqueles estranhos, um largo sorriso no rosto iluminado, os olhos castanhos como os de uma corça quase se fechavam ao forçar a imagem da bondade, inocência e pureza.

Feyre estava sentada no canto com um pequeno caderno em mãos, desenhando algo que só os Deuses sabiam o que.

Nestha é a mais velha, Elain a do meio, Feyre a penúltima e eu a última, a caçula. Nenhum papel muito importante ou extravagante como devem estar pensando, apenas o de ser a mais atentada das irmãs.

Não que eu me esforce muito para isso, qualquer coisa que eu fizesse era motivo de gritos e de repreensão.

— Aí está ela! -minha mãe abriu um grande sorriso.

Eu fiz careta, ela estava sorrindo ou mostrando as presas? Aprendi que cães mostravam os dentes quando queriam atacar, as pessoas não são diferentes, as pessoas sorriem, bastava identificar se era uma ameaça de fato.

Mas minha mãe sorria, todos achavam ser algo afetuoso de mãe para filha mas eu sei que aquele sorriso é muito bem as presas de um predador, e que ele daria o seu ataque neste momento.

— Para quê esta comemoração? Mãe. -a olho cautelosa.

Seu sorriso se alargou.

— Ora, apenas felicidade, minha filha irá estudar no oriente. -ela sorriu.

Queria muito que fosse Nestha para eu soltar fogos de artifício, mas pelo que vejo não é ela, muito menos Elain ou Feyre.

Sou eu.

— O que? -Feyre ergue a cabeça tirando a atenção do papel.

— Sua irmã, querida, irá estudar no oriente. -ela disse sorrindo.

— Ela vai pra longe? -Feyre franziu o cenho.

— Sim.

Eu travo e semicerro meus olhos, poderia muito bem estar pegando fogo ali dentro.

— Não! -Feyre da um pulo da poltrona e se agarra a mim largando o seu caderno.

Ela me apertou.

— Mamãe, a Rhey não vai. -ela nega.

— Ela vai. —a nossa mãe assente— já está decidido.

Ela ergueu a taça, o salão cheio de mulheres e ao ouvir estalos de sinuca acima e risadas, sabia que meu pai estava no salão de jogos com os homens.

— Eu não quero ir. -digo.

Ela me fuzilou com o olhar e sorriu para as amigas.

— Minha menina se tornará uma grande mulher.

Estremeci, minha menina? Ela nem queria que eu tivesse nascido, fui um acidente.

Ela está fazendo isso para me afastar das minhas irmãs, isso sim, mesmo que não goste muito de Nestha e não entenda muito Elain, ela sabe que sou apegada a Feyre e de certa forma a elas.

— A viagem da minha filha!

— Salu!

Que merda.

....

A maldita iria me mandar hoje mesmo, o teatro com choro e despedidas dela foi mais nojento que estrume de vaca.

— Rheynah, nos mande cartas. -meu pai me abraçou.

— Será difícil, ao que parece minha querida mãe se certificou de que ninguém tivesse notícias minhas. -falo.

— Eu jamais faria isso. -ela leva a mão ao peito.

— Palavras inteligentes para quem está me enfiando em um navio para bem longe. —digo— vou tentar sobreviver.

Eu abraço Feyre e então Elain, eu olho para Nestha e inclino a cabeça.

— Acho que não aceitaria um abraço de mim, não é? -pergunto.

Ela suspira e revira os olhos.

— Seja rápida. -ela abre os braços.

Eu a abracei brevemente e me afastei.

— Vamos zarpar. -disse o marinheiro.

Feyre fungou e olhou pra mim, então ela me deu um papel.

Eu olhei para o mesmo e vi um desenho desajeitado dela de mãos dadas comigo.

— Pra não sentir saudade. -ela disse.

Eu sorri e pude sentir os olhos arderem, eu não as veria mais, não é?

A abracei uma última vez, forte e apertado antes de subir no navio e ouvir o seu choro.

Olho de cima e vejo minha mãe acenar, um sorriso vitorioso.

Desgraçada.

Quando o navio se lançou no mar eu sabia que não veria mais minhas irmãs ou o meu pai de novo.

.

A âncora antigiu o mar e se alojou nas profundezas, parando o navio no porto de um lugar que parecia com qualquer pesadelo que eu já tenha tido na vida.

Um casarão em uma pequena ilha, nas pedras, era cinza e aparentava um ar assombroso.

Ao descer eu engoli em seco, deveria ter pulado do navio quando tive chance.

Uma mulher com um manto escuro ficou diante de mim.

— Venha, senhorita Archeron.

Ela saiu andando e eu a segui, vendo de relance os marinheiros tocarem os dois ombros e estremecerem, parece que é bem pior do que pensei.

Caminhei até o casarão, e por dentro parecia bem mais assustador do que por fora, um lugar não muito apropriado para uma garota de doze anos.

— Eu sou a srta sombria. —disse a mulher— irmã do convento silencioso.

Chiados e eu olhei para os lados, a mala caiu de minhas mãos quando vi mulheres com os mesmos mantos, algo cobrindo os seus rostos, máscaras de ferro.

— O que é isso? -questiono.

Sou agarrada pelos braços e soltei um grito me debatendo.

A porta se fechou atrás de nós e diante de mim a Srta sombria está com algo nas mãos, uma máscara de ferro.

— Bem vinda, irmã do silêncio.

Meu grito não terminou de ecoar quando aquela máscara pulou de sua mão como se tivesse vida, se chocando contra o meu rosto de forma dolorosa, se alojando a ele como se fosse uma segunda pele, e aquilo doía, machucava e queimava, meus gritos eram abafados pelo metal frio e as lágrimas quentes escorriam pelos olhos congelados.

— Tire isso! -tentei puxar.

Nada.

Tentei de novo, estava presa.

Minha respiração ficou desconpensada e uma espécie de pânico me tomou com aquilo preso ali, meus olhos arregalados e meus gritos reverbando pelas paredes do casarão.

— Isso não sairá do seu rosto. —ela disse e eu olhei para ela assombrada— nunca mais.

*Até o próximo capítulo, deixem seu comentário e seu voto pfvr ❤️*.

Corte Fantasma •Acotar✷Onde histórias criam vida. Descubra agora