Capítulo trinta e Cinco

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1 Coríntios 13:4-7 NVI
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Adrian Salvatore. 

Enquanto encarava a imagem daquela garotinha que pintei anos atrás, agora percebia com total certeza que se tratava de Anna. Nesse momento, cheguei à dolorosa conclusão de que meu pai estava certo: afastar-me dela era a decisão correta. Quando Anna descobrir que foi meu pai quem atropelou sua mãe, nossa relação será completamente impossível. Mesmo que não tenhamos culpa pelos eventos trágicos do passado, admito que fui cúmplice ao proteger meu pai, mesmo sabendo que estava errado. Por isso, nosso relacionamento está fadado ao fracasso.

Anna, com seu coração tão gentil, talvez até possa perdoar, mas aceitar fazer parte da família que roubou a vida de sua mãe seria insuportável para ela. É uma dor angustiante saber que, por causa das ações do meu pai, seremos eternamente separados. Enquanto olho para a pintura, as lágrimas escorrem pelo meu rosto, uma mistura de remorso, tristeza e o peso do destino que nos foi imposto.

Como posso consertar esse erro? Como posso desfazer os danos causados por meu pai? Tento imaginar um futuro em que Anna e eu possamos superar essas circunstâncias terríveis, mas tudo parece tão distante, uma miragem inatingível. É como se o passado tivesse criado um abismo intransponível entre nós, condenando-nos a uma vida de desencontros e arrependimentos.

A dor de perder Anna é insuportável, uma ferida que se aprofunda a cada pensamento. Meu coração está dilacerado pela verdade que agora encaro. A imagem daquela garotinha inocente se tornou um símbolo de todas as vidas que foram destroçadas pela tragédia que nos envolve. E agora, diante dessa realidade cruel, só posso desejar que Anna encontre a paz e a felicidade que merece, mesmo que não seja ao meu lado.

Mas se Deus nos uniu até este ponto, deve haver um motivo. Eu sempre soube que os milagres existem, e talvez Deus esteja buscando o milagre do perdão, buscando aliviar o peso que nossa família carrega há anos. E, querendo ou não, somente Anna pode trazer de volta essa paz.

Separei várias telas em branco e comecei a pintá-las. Ao olhar para tudo o que havia criado, percebi o quanto a amava. Naquele momento, ajoelhei-me no chão e clamei a Deus por uma resposta. Não conseguia suportar mais a angústia desse sentimento. Se Anna não fosse para mim, então que Ele tirasse esse sentimento, por mais difícil que fosse. Mas eu não podia continuar amando a mulher que minha família prejudicou tanto.

Depois de horas clamando incessantemente, o Espírito Santo me respondeu, pedindo para pegar meu trabalho de pintura e seguir até a ponte. Obedeci sem questionar. Quando cheguei lá, uma voz ecoou forte dentro de mim, ordenando que pintasse o que estava dentro de mim. Deus queria meu coração por completo, sem máscaras. Ele me perguntou qual era o meu maior medo, e foi como se essa voz arrancasse essa resposta de dentro de mim. Pude sentir meu coração pulsando enquanto uma mão o apertava dentro do meu peito. Entre lágrimas, criei a obra mais perfeita que já pintei em toda a minha vida. Representei a dor, a dor de fazer alguém sofrer, e essa dor é mil vezes pior quando essa pessoa é a mulher que você ama.

Naquele momento, encarando a pintura que parecia arrancar o coração de Anna novamente, percebi que não poderia causar-lhe tamanha dor. Afinal, eu a amava. No entanto, assim que saí dali, nossos caminhos se cruzaram. Bastaram alguns segundos para encará-la e perder-me em seus olhos inocentes, na perfeição personificada. Tudo mudou instantaneamente.

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