Capítulo quarenta e Um

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Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;

não por obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2

Anna Júlia.

Quando abri meus olhos, percebi que eu não estava em casa, afinal de contas aquele quarto extremamente espaçoso e acolhedor me trazia a paz que eu necessitava naquele momento, girei o pescoço lentamente e me deparei com as janelas de vidros, que proporcionava uma vista deslumbrante para o mar, foi então que ao inclinar meu corpo percebi que eu estava vestindo um vestido florado vermelho, não a roupa de luto, alguém havia me trocado ou melhor mandado fazer isso, e pelas minhas lembranças eu sabia exatamente dizer de quem se tratava, levantei lentamente sentindo o chão fresco e cruzei os braços ficando em frente aquela enorme janela, na medida que a água se movimentava, sentia que minha alma estava sendo lavada e que escorria pelos meus olhos, a dor da perda, não importa quantas vezes temos que passar por isso nunca iremos no acostumar com ela. Agora tudo que me restava era o grande vazio que meu pai tinha deixado.

Enquanto tentava refletir no quarto, o aroma delicioso de comida caseira invadia o local, e mesmo sem vontade alguma de comer, meu estômago conseguiu roncar, a passos lentos me aproximei da porta para espiar e testemunhei Adrian tendo uma conversa animada com a minha irmã enquanto cozinhava, suas vozes entrelaçam de maneira alegre acompanhando o som das ondas do mar, agradeci mentalmente por ele estar conseguindo lhe dar conforto que certamente eu não era capaz de proporcionar nesse momento.

— Anna! Veja, a Anna acordou! – minha irmã alertou. Adrian imediatamente abandonou o que estava fazendo no fogo e veio até mim com um olhar preocupado.

— Você está bem? Está sentindo alguma coisa? Deve estar com fome.

— Eu estou bem, não estou com fome, obrigada. — disse, e minha barriga roncou em protesto; apertei os olhos.

— Parece que seu estômago não concorda muito com isso. – Adrian curvou o canto dos lábios e estendeu a mão para que eu segurasse.

— Eu não quero comer. – segurei sua mão, e ele me conduziu até a mesa onde me sentei.

— Sente-se, estou preparando algo para você comer. Tenho certeza de que vai gostar.

— Você não ouviu? Eu disse que não quero comer. — falei em tom ríspido. Meus olhos se encheram de lágrimas imediatamente. — O que você faz aqui? Por que me trouxe nesse lugar no meio do nada? Por que está cuidando de mim? Deveria estar com seu pai agora, pois ele está vivo, ao contrário do meu.

Nesse exato momento, comecei a chorar compulsivamente, me debruçando na mesa. Sei que Adrian não tinha culpa de nada; afinal, ele não tinha ideia do tamanho do sacrifício que eu tinha feito por ele. Por mais que eu não me arrependa, não posso evitar me sentir machucada ao olhá-lo e perceber que seu pai agora provavelmente está bem graças ao coração que doei do meu pai, cujo homem que matou minha mãe. Era difícil de suportar.

— Eu sei que não sou a melhor companhia que você gostaria agora. Entendo o quanto dói ver alguém como meu pai vivo, enquanto o seu, que merecia estar conosco, foi levado por Deus. Não pense que é a única a se questionar, mas saiba que continuo confiando na misericórdia de Deus. Não falo isso apenas porque Ele salvou meu pai, mas porque acredito que deve haver um propósito maior para a dor que você está passando. Se permitir, vou cuidar de vocês, Anna. Prometi isso ao seu pai quando ele ainda estava em coma, e vou cumprir minha palavra. Sei que ele estava ouvindo e descansou em paz.

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