Capitulo trinta e oito

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Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.





Anna Julia.

A vida é verdadeiramente surpreendente, e muitas vezes nos reserva reviravoltas inesperadas. Eu pensava que estava vivendo uma espécie de trégua em minha vida, apesar das preocupações com a saúde de meu pai. Mesmo com essas preocupações, havia uma luz em meu caminho - Adrian. Ele surgiu em minha vida no momento em que eu mais precisava, quando tudo parecia desprovido de sentido. Através dele, descobri o propósito da minha existência, percebendo que minha jornada não se resumia apenas à dor, mas a algo maior.

No entanto, agora me encontro tomado por uma dor dilacerante. Como posso amar o filho do homem que tirou de mim a pessoa mais importante deste mundo? Que tipo de amor é esse que transcende tamanha dor? Mesmo que Adrian esteja certo em sua inocência, ele não tem ideia do sofrimento que sua família causou. A culpa recai sobre seu pai, e por mais que eu queira ignorar esse fato, a justiça deve ser feita.

Neste turbilhão de emoções, encontro-me diante de um dilema angustiante, onde o amor e a sede de justiça colidem em meu coração.

Quando saí de casa, tudo o que consegui fazer foi chorar. Era como se eu estivesse preso em um eterno déjà vu, revivendo inúmeras vezes os terríveis acontecimentos daquele dia fatídico. O desespero, a dor, o medo, a sensação de impotência e a culpa, todos eles pareciam se esgueirar em minha mente. Eu era apenas uma criança naquele momento angustiante, e estava ali, diante do corpo ensanguentado de minha mãe, caído no chão. O mais perturbador foi que, naquele instante, parecia que o mundo ao nosso redor havia se congelado.

Ninguém fez absolutamente nada. O dono daquele carro simplesmente partiu, como se o que ficou para trás fosse apenas um objeto sem importância. A indiferença das testemunhas me atingiu como um soco no estômago. Minha voz infantil parecia impotente diante de tanta apatia.

Cada vez que relembro aquele dia, as lágrimas fluem como um rio. A lembrança da tragédia e da continua a ecoar em minha mente.

Aquele dia moldou minha vida de maneira indelével, e a dor que carrego é um lembrete constante da necessidade de compaixão e empatia em um mundo muitas vezes indiferente ao sofrimento alheio.

Agora tudo fazia sentindo, a forma com o que seu pai vinha minha me tratando desde então, seu jeito estranho. Ambos não estavam conseguindo lidar com a culpa que possui-a, mas isso não é um problema meu, por mais que agora eu sei de toda a verdade e queira odiar aquele homem com todas as minhas forças, e como se eu não conseguisse, aliás tudo que consigo sentir por ele é indiferença, a única coisa que eu peço é que a justiça seja feita, somente assim me sentirei saciada.

Em casa, no meu quarto, abraçada a mim mesma, eu chorei, suplicando a Deus que tirasse essa dor de dentro de mim. Foi nesse momento que meus olhos se voltaram para a minha câmera fotográfica, descansando sobre a mesinha. Eu a peguei nas mãos, lutando para conter as lágrimas que teimavam em rolar pelo meu rosto. Com um nó na garganta, liguei o aparelho e comecei a deslizar a tela, revisitando as fotos das obras de Adrian.

Essas mesmas obras que, outrora, eram sinônimo de paz e alegria. Talvez hoje eu finalmente compreenda o significado por trás das lágrimas que pareciam capturadas nas imagens. Pois, no momento, elas eram tudo o que me restava. Enquanto continuava a examinar essas imagens, fui compelida a parar nas últimas fotos, aquelas que retratavam uma garotinha chorando enquanto seu coração era arrancado por aquele que ela amava.

Uma cinderela diferente.Onde histórias criam vida. Descubra agora