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A casa dos Addams estava silenciosa naquela manhã chuvosa, com exceção dos gritos de Feioso, que podiam ser ouvidos por toda a casa.

Feioso e Gomes estavam em uma de suas aulas de esgrima rotineiras. Mortícia estava em sua estufa cuidando de suas rosas, e Wednesday estava arrumando suas malas, pois seu segundo ano em Nunca Mais começaria no dia seguinte.

A morena de trancinhas mantinha a mesma expressão emburrada de sempre, mas uma leve ansiedade de voltar ao lugar que quase a matou a deixava curiosa. A porta do quarto foi aberta por Mãozinha, que subiu na cama da garota.

— Você viu aquele aparelho de tortura que o Xavier me deu? — perguntou, vasculhando as gavetas de sua escrivaninha.

Mãozinha moveu as mãos, perguntando se ela havia se tornado uma escrava da tecnologia.

— Claro que não! Onde você estava afinal?

Mãozinha disse que estava ajudando a vovó Addams na cozinha e que, aliás, a comida dessa noite estaria magnífica, pois ele mesmo havia preparado com suas próprias mãos, ou melhor, com sua própria mão.

— Ache o aparelho de tortura e coloque na minha mala agora! Eu já volto. — A morena de trancinhas saiu do quarto, pisando em falso em uma das armadilhas postas por Feioso. Ela desviou de um machado que acertou a porta do seu quarto.

— Boa tentativa, Feioso, mas vai ter que melhorar. — Wednesday desceu as escadas e se deparou com Gomes e Feioso no salão de esgrima. Ela parou na soleira da porta, observando seu irmão ser massacrado por seu pai.

— Vamos, Feioso, não baixe sua guarda! — falou Gomes com sotaque na voz, ajudando o garoto a se levantar do chão.

— Não o ajude, papai, só está deixando-o mais fraco! — disse a garota ao entrar na sala.

— O que está fazendo aqui, minha nuvenzinha de chuva? Achei que estaria preparando suas coisas para viajar amanhã cedo.

Sem responder à pergunta feita por seu pai, Wednesday pegou um dos sabres na parede e o apontou para o homem em forma de desafio. O sorriso de Gomes apareceu instantaneamente, e ele ergueu também seu sabre. A disputa foi acirrada, no entanto, a jovem Addams conseguiu levar a melhor.

— Acho que está um pouco enferrujado, papai — provocou.

— Talvez um pouco, nuvenzinha de chuva! — disse ele com a satisfação de que sua aluna o derrotara.

A garota entregou novamente o sabre a Feioso e se retirou da sala. Ao passar pelo corredor que dava acesso à estufa de Mortícia, escutou uma voz levemente familiar, seguida por um cheiro de morango e cereja, que não combinava em nada com a casa.

Ao se aproximar da porta, seu coração logo acelerou ao ouvir a voz de Enid. Ao entrar, deparou-se com Enid conversando com Mortícia. A garota congelou como uma estátua. A senhora Addams e a loira se viraram para encarar quem estava na porta. O sorriso da loba surgiu instantaneamente ao ver sua amiga.

— Wed!

A mais alta correu em direção à menor, dando-lhe um abraço apertado, sem que Wednesday retribuísse.

— O que está fazendo aqui? — perguntou a mais baixa, fria.

— Mortícia me convidou para passar a noite e ir com você amanhã para a escola, e como você não respondeu a nenhuma das minhas 500 ligações, resolvi vir.

Wednesday olhou para a mãe, que deu um longo sorriso para sua filha.

— Vamos! — Wednesday pegou Enid pela mão, tirando-a da estufa sem sequer se despedir de Mortícia. Enid observava a casa dos Addams, mas não se assustou nem um pouco, já conhecia os Addams o suficiente para entender seu modo de vida. Wednesday levou Enid para seu quarto, fechando a porta ao entrar.

— Por que não me avisou que vinha?

— Eu tentei, mas você não respondeu às minhas mensagens. Não gostou de eu ter vindo? — disse a loira, sentando na cama da morena, que andava pelo quarto como se estivesse resolvendo uma charada.

— Minha mãe te chamou assim do nada?

— Foi. Ela me ligou ontem e me convidou. Achei fofo da parte dela — disse Enid, com um sorriso.

— Minha mãe é tudo, Enid, menos fofa! — retrucou Wednesday, sentando-se na cadeira de sua escrivaninha.

— Não gostou de eu ter vindo, né? — A morena ficou calada, pensando se gostara ou não, mas rever Enid até que não foi tão terrível quanto ela imaginava.

— É, não foi tão ruim. — disse fria, como sempre.

— É, valeu, eu acho? — Enid olhou ao redor do quarto da colega. Cada centímetro do quarto de Wednesday era a cara dela, tudo em tons escuros.

— O que foi? — perguntou a garota de tranças, observando os olhos da loba brilharem enquanto ela olhava o quarto.

— Eu adorei seu quarto! — disse Enid.

— Sério? — A morena levantou uma das sobrancelhas. — Não é pouco colorido para o seu gosto?

— Não, ele é exatamente como você. Gosto disso! — A Addams olhou fixamente para a loba, até que Mãozinha reapareceu, puxando o celular de Wednesday e o colocando aos pés da garota.

Ele disse que o celular estava no quarto de Feioso. Mãozinha viu Enid e correu até a garota, subindo em seu colo.

— Também estava com saudades, Mãozinha. — Enid acariciou o amigo inusitado. — Wednesday, será que eu poderia dormir um pouco antes do jantar? Estou tão cansada! A viagem de São Francisco foi exaustiva.

— Eu vou sair para você descansar. Pode ficar aqui, é mais seguro para você. — Wednesday deu as costas para a loba, mas sentiu uma mão em seu braço.

— Fica!

 More than friend- Wenclair Onde histórias criam vida. Descubra agora