Capítulo 29

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Chegueeeei!

Comentem bastante, boa leitura :*

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Serafina

As pessoas costumavam dizer que meu filho era complexo em seus sentimentos. Nevio não demonstrava amor, não demonstrava compaixão, não demonstrava felicidade... Tristeza, perturbação, inquietação, euforia... Não. Nada disso. Ele era uma máquina. Não demonstrava emoção alguma. Isso é o que eles sempre diziam.

Eu sabia melhor.

Uma mãe sempre sabe melhor.

Nevio era, sim, complexo. Ele tinha, sim, seus demônios. Mas isso não era tudo que ele era.

Nino estava certo, eu tentei alertar meu marido. Acontece que meu marido tinha seus próprios demônios o impedindo de ver a verdade. Ele tinha seus demônios que o ajudaram a sobreviver, que o deixaram mais forte. E ele achou que isso era o que Nevio precisava também.

Não era.

Nevio não tinha um pai carniceiro e uma mãe psicótica. Bom, a certa altura, Remo poderia ter sido carniceiro... Mas nunca em casa. Nunca com seus filhos, nunca com sua família. Ele não gostava de admitir ou mostrar isso, mas era compassivo com – e pelo – os que amava.

Olhando de onde eu estava agora, vendo meu filho fumar mais um cigarro, isolado de sua família e parecendo derrotado, eu via a verdade.

Nevio não era tão difícil como todos pensavam. Claro, ele era complicado, mas usava seu coração na manga. Seus sentimentos estavam ali para que todos vissem, as pessoas só não sabiam identificar, porque ele não fazia isso da forma convencional.

No entanto, quando Nevio decidia que amava você, ele dava tudo de si.

Ele dava tudo de si ao ponto de não saber como guardar um pouco para ele mesmo. Colocando os sentimentos das pessoas ao seu redor, pessoas a quem ele amava, acima dos dele. E, por vezes, machucando outras pessoas, que ele também amava, no processo. Ele simplesmente não sabia regular isso.

Então aqui estava ele, segurando seu coração na mão ensanguentada, com uma ferida aberta em seu peito, implorando para alguém levar um pedaço e cuidar dele.

E aqui estava eu, cumprindo meu papel de mãe, para pegar o pedaço que me era devido e cuidar.

Me aproximei e sentei ao seu lado. Minha mão buscou a sua para segurá-lo, mas ele se afastou imediatamente. Não como se não quisesse minha presença, mas como se não fosse digno dela.

Suspirei.

- Me dê sua mão, Nevio. – Usei minha voz de mãe.

Ele me olhou por alguns segundos, antes de juntar sua mão na minha.

- Largue o cigarro também. – Mandei e ele o tirou da boca, jogando-o no chão e pisando com a bota.

Olhei seu rosto por um tempo – as linhas de expressão que antes não estavam ali, as olheiras profundas, o cabelo despenteado – e suspirei mais uma vez.

- Como você está?

Nevio riu sem humor.

- Isso importa?

- Claro que importa.

- Como você está? – Ele perguntou de volta. – Como papai está? Como está tio Nino? Tia Kiara? Massimo? Como está toda nossa família?

- Eu não me importo com todo o resto, Nevio. Não no momento.

- Eu me importo. – Ele grunhiu.

- Eu sei, querido. – Alisei sua mão. – Mas, às vezes, a gente precisa se pôr em primeiro lugar. Como você se sente?

By Darkness I BurnOnde histórias criam vida. Descubra agora