Capítulo 1

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Nevio – 20 anos

- Qual a graça? – Perguntei para o rosto muito risonho de Alessio.

- Você parece prestes a ter um colapso. – O bastardo zombou.

- O que é um colapso? – A voz de Giulio soou atrás de mim, fazendo-me desviar meu olhar assassino de Alessio para ele.

Antes que eu pudesse pensar em como explicar para um garoto de 9 anos o que era um colapso, Massimo respondeu:

- É a perda de domínio próprio.

Não pareceu ajudar muito, no entanto. Giulio fez uma breve careta e desviou os olhos para o seu celular, parecendo ter desistido de nos entender.

- Você tem jeito com crianças. – Debochei.

Massimo apenas deu de ombros e olhou pelas grandes janelas da mansão em que estávamos, atento a qualquer coisa que não fossemos nós. Mansão, esta, onde aconteceria o casamento da minha outra metade. Minha irmã. Minha gêmea. A garota que não só nasceu comigo, como esteve comigo durante toda a minha vida.

Então, se fosse ser sincero, eu também estava atento a qualquer coisa que não fossemos nós. Esperando um mínimo deslize da Famiglia para acabar com aquela festa estúpida e levar minha irmã de volta a Las Vegas.

Sim, eu ainda mantinha uma leve esperança de que ela fosse querer fugir de tudo isso. Na verdade, eu torcia para isso.

Nunca fui um cara de sonhos. Eu tinha objetivos; e eu sempre os conquistava. O casamento da minha gêmea, entretanto, parecia um pesadelo... Um pesadelo que poderia virar um sonho se eu simplesmente metesse uma bala na testa de seu futuro marido – algo que nunca aconteceria, porque Greta jamais me perdoaria. Por isso, hoje, eu era um homem sonhador.

***

- Giulio, não se atreva! – Bradei com o moleque prestes a pular no chafariz do jardim da mansão onde acontecia a festa de casamento da minha irmã.

Giulio queria dar uma volta e eu queria esfriar a cabeça, então uni o útil ao agradável, avisando minha mãe que eu levaria o pestinha para conhecer o ambiente. A essa altura, depois de algumas advertências sobre não tirar pedras do local, não arrancar as flores, não pegar moedas da fonte e, por último, não entrar na porra do chafariz, eu já não sabia mais se tinha algo tão agradável assim. Ainda assim, era menos sufocante do que ficar dentro do salão, vendo todos os sorrisos falsos em direção ao casal do século.

Continuei seguindo o pequeno problema que meus pais colocaram no mundo ao redor do jardim, até que chegamos perto de algumas tendas brancas com sofás, igualmente brancos, dispostos lado a lado, formando um círculo. As tendas possuíam, ainda, cortinas, mas estas estavam devidamente amarradas às hastes de sustentação – provavelmente, assim, ninguém inventaria de se engraçar por ali. Daqui, o barulho da festa já nem era mais ouvido e isso me deu uma certa paz.

Giulio correu até uma tenda, prestes a se jogar em um dos sofás, mas parou de repente, olhando fixamente o que quer que estivesse por lá.

- Oi. – Ele balançou a mão, como se chamasse a atenção de alguém, e eu apressei meu passo, dando a volta no sofá para ver quem poderia estar escondido por aqui.

Travei assim que a vi. Isabella. A ruiva sardenta que eu tinha sequestrado quase dois anos atrás.

Apesar de todos os sofás a disposição, Isabella estava sentada no chão. Com as pernas em formato de índio e os óculos na ponta do nariz. Deixando, momentaneamente, de lado, o livro que segurava em suas mãos, para sorrir em direção ao meu caçula. Seu sorriso, no entanto, se desfez assim que ela me viu, seguido por um breve enrugar em seu nariz que fez os óculos caírem mais e ela precisou empurrá-los para cima. Ao mesmo tempo, ela se levantou, pronta para fugir daqui, com certeza.

By Darkness I BurnOnde histórias criam vida. Descubra agora