Metade da Estrada | Ricelly Henrique

Capítulo 26

"Vá com calma comigo
Eu ainda era uma criança
Não tive a chance de
Sentir o mundo ao meu redor
Não tive tempo de escolher
o que escolhi fazer
Então vá com calma comigo..."
–Adele

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5 anos depois...

📍Universidade Federal do Tocantins,
Palmas.

Melina

— E aí querida doutora Melina Rodrigues, topa um chop pra esfriar esse dia quente, emocionante e último como estudante veterana?

— Clarooo... que não né Nat, tenho muita coisa pra fazer antes de 2022 acabar, cê acha que eu tô com a vida ganha porque já me formei?

— Uai, e muié de fazendeiro famoso não teria a vida ganha porquê? - cerrei os olhos pra minha amiga sem vergonha.

Sem vergonha, é bem isso que minha amiga Natalia é.

Nos conhecemos no primeiro período da faculdade e seu amor pela veterinária nos uniu. Ela, que também vinha do interior do Tocantins para estudar na Federal de Palmas, acabou sendo minha companheira de longas horas de estudo longe de casa.

Mediante à tanto desgaste diário com a distância de casa para a faculdade ao longo desses últimos cinco anos, acabamos por alugar um apartamento que nos servia de apoio em Palmas para os dias intensos de seminários, congressos, períodos de provas e trabalho de conclusão de curso, então além de dividir o amor pelos animais, dividiamos o mesmo teto.

De início meu sogro e meu tio não foram muito favoráveis, mas acabaram entendendo meu desgaste em dirigir de Palmas pra fazenda todos os dias e minha necessidade com os estudos.

Meu tio dizia que mulher casada não deveria dormir longe do marido, ah se ele soubesse que durante todos esse anos, eu e meu "marido" não dormimos juntos.

— Mas sério Mel, o pessoal vai pro Quiosque do Zé, vai rolar aquele sertanejin bão. Bora vai? Cê mesmo disse que não volta pra fazenda esses dias.

— Cê tá doida Natália? Meu tio descobre que eu tô em bar, ele come meu fígado.

— Sua preocupação é seu tio mesmo?

— Nat, se dormir fora pro meu tio é um problema, que dirá ele sonhar que eu saio com você? E não adianta dizer que eu não sou mais uma menininha de 17 anos que pra ele é bem pior.

— Você não respondeu minha pergunta, sua preocupação é seu tio mesmo? Ou seria outra pessoa...

— Pode parar por aí senhorita Natália, cê sabe bem que isso não rola, por esta pessoa eu poderia sumir do mapa e ele nem daria falta.

— Eu não tenho tanta certeza assim não heim? Lembro bem daquele dia que nos encontramos por acaso naquele almoço à trabalho dele, o jeito que ele te olhou não foi muito amistoso. Ficou bem nítido a insatisfação de te ver sozinha sem ele batendo perna em Palmas.

— Tudo teatro ou melhor, aparências, é tudo pra manter as aparências. Tudo que foge do controle dele, o deixa insatisfeito.

— Bom, eu tenho minhas dúvidas, mas...

— Mas você já sabe da história e por saber tão bem, não deveria criar caraminholas na cabeça, você as vezes é pior que a Bia.

— Aii, falando na Bia, ela vem pra Palmas esse fim de semana, disse que um amigo de vocês está voltando de Brasília e quer comemorar a formatura juntos com uma galera legal, essa você vai não é?