Capítulo 31

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📍Porto Nacional, TO

31 de Dezembro, 2022


Melina

— Você vai continuar desenhando esses cocos? Seus olhos não vão ralar esse fruto não heim? - ouvir a voz da Rute me despertou dentro daquele estabelecimento comercial.

Eu respirei fundo saindo do profundo das minhas memórias.

— Desculpa Rutinha, eu não tô te ajudando em nada não é?

— Tá tudo bem meu amor, você escolheu o coco? Eu vou pedir pra ralar. - ela falou e eu entreguei o fruto em suas mãos.

— Você percebeu como ele tá estranho? - eu queria não tocar no assunto, mas minhas especulações mentais não me deixavam em paz.

— O coco? - Rute claramente tentava descontrair minha postura preocupada, eu sorri com suas brincadeiras.
— Estranho como?

— Estranho Rute, um comportamento completamente contrário ao de todos esses anos.

— Pra mim ele é o mesmo, chato, controlador, mandão e que adora mexer nas minhas panelas dando pitaco como se soubesse cozinhar de verdade. - Rute sorria tentando amenizar o clima e me distrair.

— E você ama isso né dona Rute? Dá trela pra ele. - revirei os olhos relembrando as vezes que eu os vi brigar por causa das dicas que ele sempre dava nas comidas da Rute, só por implicância. Eles amavam essas "picuinhas".

— Dou conta de vocês dois não. - E após sorrirmos dessas lembranças, voltei ao assunto.

— Você viu que horas ele chegou ontem? Eu cansei de esperar e acabei dormindo.

— Também não vi, mas hoje terá tempo suficiente pra ver seu amor, pode ficar tranquila.

— E eu preciso mesmo.

— Do seu amor?

— Nossa que cê tá bem engraçadinha hoje heim Rute, engoliu o palhaço foi? - cerrei os olhos pra ela que gargalhava enquanto esperávamos as encomendas das comprinhas pra nossa ceia de fim de ano que estavam faltando, a pedido da tia Maria e da Marieli.

— Eu preciso "falar" com ele. - frizei bem a minha intenção.
— Ele fugiu de mim ontem, mas hoje ele não escapa. - olhei pra Rute que fingia não entender sobre o que eu falava, mas ela já está ciente do meu desejo pelo divórcio.

— Cê não vai falar nada Rute?

— Falar o quê? Você sabe minha opinião sobre esse assunto. Eu discordo e acho que vocês deveriam dar uma chance ao amor docês.

— Não existe amor entre nós dois Rute, cê sabe bem disso. - nós já estávamos caminhando para fora do estabelecimento com as sacolas na mão.

— Talvez se eu não convivesse com vocês e ouvisse essa história de fora, diria que não existe mesmo, mas sou eu que vejo o quanto vocês se importam um com o outro ao longo desse anos dona Mel. - ela frizou meu nome para salientar suas certezas e continuou assim que entramos no carro.

— Você sempre esteve preocupada todas as vezes que algo difícil acontecia na vida e na carreira dele, as perdas dos amigos que ele sofreu, as vezes que ele esteve doente e colocava em risco tudo que ele mais ama, que é cantar. Sempre foi você que esteve ao redor cuidando pra que ele tivesse uma boa recuperação.

— Eu faria o mesmo pelo Ju...

— Mas você fez? Não! - ela me interrompeu.
— Porque você é a esposa do Ricelly e é com ele que você se preocupa, mesmo quando está longe e me enche de recomendações sobre lembrar das vitaminas e medicações que ele precisa tomar, das consultas com os doutores de voz que ele não pode esquecer. É você que cuida dele e ele de você também.

Metade da Estrada | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora