Capítulo 32

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📍Fazenda Terra Prometida, TO

01 de Janeiro, 2023

Ricelly Henrique

Acordei e minhas costas apitavam de tanta dor... Oh diacho que eu me aprofundei no sono deitado naquela bendita espreguiçadeira e só me acordei quando o sol queimava forte no céu tocantinense.

— Bom dia meu filho, até que enfim você resolveu sair daquela cadeira. Pensei que ia virar o dia ali. - encontro minha mãe na cozinha da minha casa e a cumprimento, meu sorriso saiu melancólico por ter feito a besteira de ter dormido ali.

— Onde está a Rute? - perguntei procurando por ela.

— De folga né filho? Hoje é feriado. Mas será que eu sirvo pra o que você precisa? - ela falou em tom dramático.

— Com ciúmes dona Maria?

— Claro que não seu abusado. - ela lançou o pano de prato em mim e eu fui em sua direção.

— Não precisa ter ciúmes, a senhora é a única rainha da minha vida. - brinquei abraçando ela pelas costas.

— Tá bom menino, para de me apertar e me diz logo o que você quer.

— Só um cafezinho mesmo mãe.

— E um bom banho né filho? Sobe e se arruma  que eu faço algo aqui procê, já que não tem ninguém em casa.

— Melina não tá aí?

— Não, ela saiu à pouco tempo. Me disse que tentou tirar você daquela cadeira, mas você recusava acordar. Não sei onde você e seu irmão encontram tanta disposição pra beber.

— Não é disposição mãe, é habilidade! - brinquei com ela que cerrou os olhos pra mim em crítica a minha brincadeira.

— Então, Melina saiu. A sra sabe pra onde?

— Não sei, disse que ia dar uma volta, mas não falou onde ia exatamente. Daqui a pouco deve estar por aí.

Fiquei um pouco pensativo até me movimentar pra sair da presença dela, eis que me chamou atenção.

— Filho, eu confio no seu bom senso e sei que você vai conseguir contornar tudo isso. - minha mãe me lançou seu sorriso sábio e singelo e eu encolhi os ombros pensando no quanto eu não sou digno dessa confiança.

Mesmo não sabendo exatamente por tudo que eu e Melina já passamos, minha mãe tem uma vaga noção que não vivemos em um mar de rosas durante todos esses anos, mas ela sempre demonstrou que tudo que ela almejava era que nós ficássemos bem e felizes em nosso casamento, o que era um desejo natural e familiar.

Eu fui para o meu quarto sentindo o peso das minhas atitudes erradas durante todo esse tempo, se não fosse pelas horas mal dormidas naquela cadeira, eu diria que a dor que se abateu em minhas costas é resultado de tanta merda que eu fiz durante esses anos.

E pra tentar aliviar um pouco, pelo menos o corpo, me jogo embaixo da ducha fria tentando esfriar o calor, já que a cabeça ruminava as palavras de confiança da minha mãe.

Voltando ao seu encontro, penso que assunto ainda poderia render, o que era bem possível, se não fosse o fato de não encontra-la mais ali.

— Minha mãe, cadê? - falei me aproximando da pessoa sentada na varanda, Ana Bianca.

Meu relacionamento com a Bia sempre foi muito carinhoso, mas desde que eu e Melina nos casamos, a Bia mudou muito.

E não era como uma mudança expressiva, ela simplesmente parou de me admirar como família, era como se fossemos dois estranhos. Sempre pensei que fosse porque ela havia tomado partido da Mel, afinal elas são primas de sangue, mas eu nunca entendi porque seu olhar não encontrava mais o meu, como se toda a admiração criada por anos, tivesse evaporado.

Metade da Estrada | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora