📍Palmas, TO
05 de Janeiro, 2023
Ricelly Henrique
Decidi vir para o escritório e já iniciar a agenda de compromissos, início de ano nós tiramos uma pausa com toda a banda pra que todos possam descansar e recarregar a bateria ao lado de seus familiares. Mas pra mim estava sendo diferente, ocupar minha mente com o trabalho talvez fosse a solução para minha perturbação atual, "assinar um certo divórcio".
Mesmo sem shows por esses dias, eu estava na nossa produtora porque estava insuportável na fazenda, estar no mesmo ambiente que Melina e receber seu olhar que exprimia seu descontentamento e frustração a cada vez que topávamos no campo ou em nossa casa, era como se tivéssemos voltado a estaca zero, a mesma do inicio do nosso casamento, onde éramos como dois estranhos ressentidos.
Só que agora que tudo ficou mais claro, eu não consigo segurar meu olhar no dela.
Vivemos todos esses anos assim, mas agora é como se a venda tivesse sido tirada dos meus olhos e com clareza eu enxergo o vilão da história, que no caso sou Eu.Mas antes de vir pra Palmas, verbalizei pela primeira vez a minha vergonha, eu ainda não havia conseguido contar isso pra ninguém e claro que essa pessoa seria o Juliano, meu maior confidente. E como sempre, ele foi coerente na bronca que me deu, o que é óbvio e merecido, mas ao mesmo tempo ele é conselheiro e amigo. Meu manim é a calmaria da minha tempestade.
Aproveitei e estendi minhas desculpas à Mohana, afinal ela também estava lá naquele maldito dia que a Mel caiu do cavalo, eu não teria coragem de olhar nos olhos da minha cunhada e contar os detalhes daquele dia, então pedi pro Juliano fazê-lo... olha eu aqui sendo covarde de novo.
Mas o destino me prega peças, ele sempre me desafia, na verdade ele me humilha mesmo...
Estava eu revendo alguns contratos de parceria no escritório, quando minha cunhada, senhora Mohana do Couto em pessoa, entrou na minha sala e pedindo licença ao Emil disse que precisava falar comigo em particular, ela não deixa nada por menos mesmo.
— Não sabia que vocês estavam aqui em Palmas. - falei assim que ficamos a sós.
— Estou sozinha, seu irmão ficou na fazenda. Aproveitei que vim resolver alguns assuntos de trabalho e passei aqui.
— Aah. - fiz um esforço meio retraído, eu sabia o que vinha a seguir.
— Você quer beber alguma coisa?— Não é preciso, eu só quero mesmo que você me responda uma coisa e não porque você me deva alguma satisfação, mas porque eu estava lá naquele dia terrível e além do que, eu conheço seu sonho de ser pai. - ela falava e eu me mantinha focado, me segurando pra não perder o contato visual com ela diante da vergonha que eu sentia.
— Eu sei que tudo que você fez contra a Mel foi movido pela raiva por ter perdido sua noiva, o que é injustificável é claro, mas eu não vim aqui pra chutar cachorro morto pelo que você fez naquele dia que ela perdeu o bebê, porquê eu acredito que conviver com essa culpa já seja castigo suficiente pra você. - enquanto ela exprimia sua opinião com muita sinceridade, eu engolia seco.
— Você ama a Mel? - e sua pergunta me pegou de súbito.
Eu engoli seco e meu nervosismo tomou conta de mim. Essa era uma pergunta que eu sequer imaginei responder.
— Mohana? Que tipo de pergunta é essa? - ela me olhava esperando uma resposta mas a única coisa que fiz foi ficar quieto.
— Você não sabe? - ela sorriu surpresa demonstrando sua inquietação com minha postura e eu baixei a cabeça.
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Metade da Estrada | Ricelly Henrique
Fiksi PenggemarQuantas vezes a estrada da vida pode partir uma pessoa em pedaços? Melina Rodrigues parece ter a resposta: Várias vezes! A falta de bom senso de um coração; Uma promessa deixada pelo caminho; A quebra de confiança; Um coração machucado; Mas at...