Capítulo 16

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Cabelinho

Olhei pra Maria que tava sentada no sofá com a cabeça entre as mãos e a Isa também tava aqui.

Cabelinho: se for pra falar do Jhon, tá tudo resolvido
Isa: não é isso
Maria: ontem eu recebi outra ligação
Isa: e dessa vez eu ouvi também
Maria: era a voz do meu pai e ele perguntou pelo Theo
Cabelinho: pelo Theo?

Parece que hoje o mundo resolveu desmoronar na minha cabeça.

Não é possível.

Maria: sim, era ele, eu sei que era, não tem como alguém passar um trote tão perfeitamente
Cabelinho: o que você tá querendo dizer com isso?
Maria: que eu vou atrás disso, procurar saber o que realmente tá acontecendo, com ou sem a sua ajuda
Cabelinho: eu vou ajudar, mas antes eu preciso checar uma coisa, não quero criar falsas esperanças Maria
Isa: e o que a gente faz?
Cabelinho: espera até amanhã
Maria: eu não quero que a Ana saiba, deixa ela de fora pra evitar sofrimento
Cabelinho: concordo, eu só preciso de mais uma confirmação, quem tava falando no telefone?
Maria: era o meu pai
Isa: era a voz do Ret, eu não to doida não
Cabelinho: beleza
Maria: o que você vai fazer?
Cabelinho: só espera até amanhã, me promete?
Maria: você jura que vai me ajudar?
Cabelinho: tu tem minha palavra
Maria: então você também tem a minha

Saí da casa deixando elas duas lá, entrei no carro e peguei meu celular.

Ligação on

Cabelinho: preciso de um serviço teu
Índio: manda
Cabelinho: mas já te adianto que se alguém souber disso, tu morre, tua mulher não pode nem sonhar
Índio: certo
Cabelinho: tu vai atrás do coveiro que enterrou o Ret, vai perguntar quanto ele quer pra tirar o caixão da cova e abrir na minha frente
Índio: tá doido Cabelinho? deu pra gostar de cemitério agora?
Cabelinho: sem pergunta, só faz o que eu to mandando, depois eu te explico
Índio: beleza
Cabelinho: e desenterra o do Castro também
Índio: puta que pariu
Cabelinho: reclama pra caralho

Ligação off

Joguei o celular no banco e olhei pro volante na minha frente.

Tudo de uma vez só, merda.

Seis anos que passou, são seis anos e não seis dias. Por que alguém ia atormentar nossa vida agora? Isso não tem explicação.

Eu entendo o lado da Maria, assim como ela, também to começando a acreditar que tem algo de errado. E agora que a Isa confirmou, não tem pra onde correr, eu quero olhar com meus próprios olhos o cadáver do Ret naquele caixão, a roupa que nós mandou pro necrotério, tudo.

Saí do Alemão pra espairecer, se eu ficar mais um segundo nesse morro vou enlouquecer.

Tenho uns assuntos pra tratar com o NT também e principalmente, ver como tá a tomada da Rocinha.

Dia de cão.

[...]

Falei pra Bela que ia levar ela pra tomar um açaí hoje e claro que vou cumprir.

Ao menos um tempo de calmaria, já que mais tarde eu e Índio vamos no cemitério desenterrar os caixões. Só de pensar me bate uma angústia fudida, parece que eu to revivendo aquele dia a cada minuto.

Filha do Tráfico 2Onde histórias criam vida. Descubra agora