Capítulo 22

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Maria Clara

Vi o carro estacionado próximo ao presídio e caminhei em rua direção. Quando entrei, consegui finalmente respirar fundo. O ar pareci estar preso nos meus pulmões.

Cabelinho: iai? fala po
Índio: nunca fiquei tão ansioso em minha vida

Olhei para os dois e as palavras pareciam não querer sair da minha boca, minha única reação foi chorar.

Saber que ele tá ali dentro, que está bem e vivo é de fazer meu coração saltitar dentro de mim. Nem sei se eu mereço essa felicidade toda.

Índio: eu vou surtar
Maria: deu tudo certo
Cabelinho: isso quer dizer que meu irmão tá vivo?
Maria: eu vi ele padrinho - Senti a freada brusca no carro.
Cabelinho: o quê?
Índio: caralho
Maria: você acredita que eu vi meu pai? - Ele assentiu me abraçando. - eu não consigo nem colocar em palavras o que eu to sentindo

Passei a mão no rosto limpando as lágrimas que insistiam em cair e tentei me acalmar tomando uma água que o Índio me deu.

Maria: deu tudo certo cara, o tal diretor ficou pálido quando eu citei o Ret, ele se entregou tanto que dali eu já sabia que podia colocar o plano em prática
Índio: então amanhã ele vai tá com a gente?
Maria: sim, daqui algumas horas vamos estar todos juntos de novo
Cabelinho: como ele tá?
Maria: eu só vi de longe e ele não me viu, tá muito diferente, magro, bem mal cuidado, mas a tatuagem com meu nascimento tava ali no pescoço dele
Cabelinho: eu sei que tu ta feliz pra caralho, eu e o Índio também, mas tem um bagulho que eu queria te avisar
Maria: o quê?
Cabelinho: teu pai ainda é teu pai, mas não é o mesmo de quando deixou a gente há seis anos atrás, nós não faz ideia do que aconteceu aí dentro com ele, com certeza passou coisa pra caralho que a gente nem imagina
Índio: então o bagulho é pegar leve com ele, não forçar a barra pra saber das coisas
Maria: eu sei

Talvez a adaptação ao mundo de novo seja difícil pra ele, porque eu não considero que esses seis anos que passou ele teve uma vida, ninguém tem uma vida dentro desse lugar.

[...]

Maria: tá na hora

Olhei pro relógio que marcava 6:57h. Em três minutos o carro da coleta entra no presídio.

Cabelinho: tá na hora de levar meu irmão pra casa

Estávamos em uma rua a menos de 100 metros da saída do caminhão, como combinado ontem com o tal diretor. Eu tenho a plena convicção que ele não vai arregar, até porque as consequências seriam bem piores.

Os minutos foram se passando, até atingir às 7:13h e eu ver o caminhão da coleta virar na rua que estávamos. Eles pararam próximo a um latão de lixo e jogaram um saco preto enorme por ali.

Assim que saíram, Índio deu ré parando ao lado do saco e descendo junto com o meu padrinho. Jogaram ele na mala de qualquer jeito e entraram dando partida pra próxima parada.

Ret: que porra é essa agora caralho? tão achando outro jeito de torturar nessa porra?

Meu corpo arrepiou por inteiro ao ouvir aquela voz.

Ret: não vai funcionar, eu já disse que não falo nada

Meu padrinho olhou pra mim pelo retrovisor e fez sinal para que eu não falasse nada.

Por mais que eu quisesse rasgar agora esse saco e mostrar quem tá aqui, que a gente veio resgatar ele não é o momento ainda.

No trajeto até a pista de pouso que está o jatinho alugado, trocamos de carro seis vezes, todos diferentes, porque alguém poderia ter seguido pra saber pra onde vamos.

Filha do Tráfico 2Onde histórias criam vida. Descubra agora