Ma Belle Fleur!

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– Ela é minha aluna. Existem regras. – O tom de Maya se tornava cada vez mais frio e hostil.

– Ela é minha amiga, Maya. Que se danem as regras! – Melissa olhou da irmã para Carina e a viu baixando os olhos para os próprios sapatos, enquanto Maya olhava de cara feia para as duas. – Alguém pode me dizer o que está havendo aqui?
Quando nem Carina nem Maya responderam, Melissa cruzou os braços e estreitou os olhos. Refletiu por alguns instantes sobre o comentário de Carina a respeito de como as primeiras semanas na universidade tinham sido difíceis e chegou a uma rápida conclusão.

– Maya Marie Bishop, você foi uma babaca com Carina?

Carina abafou uma risada e Maya fechou ainda mais a cara. Apesar do silêncio, suas reações foram mais do que suficientes para Melissa saber que suas suspeitas estavam corretas.

– Bem, não tenho tempo para esse tipo de bobagem. Vocês vão ter que trocar dois beijinhos e fazer as pazes. Só vou ficar aqui uma semana e espero passar muito tempo com as duas.

Melissa pegou uma em cada braço e as arrastou em direção ao Jaguar. Melissa Bishop era bem diferente da irmã adotiva. No quesito aparência, Melissa possuía um corpo esbelto com curvas avantajadas, com cabelos louros e longos, e olhos verdes como esmeraldas. Também era muito extrovertida, o que às vezes irritava sua irmã muito mais velha. Maya manteve os lábios cerrados com força durante o trajeto até o seu apartamento, enquanto as garotas tagarelavam no banco de trás como se fossem duas colegiais, dando risadinhas e trocando reminiscências. Ela não gostava da ideia de passar uma noite com as duas, mas sua irmã estava sofrendo e Maya não queria fazer nada para aumentar ainda mais a sua dor. Logo o grupo dois terços feliz estava subindo num elevador do Manulife Building, um impressionante arranha-céu de luxo na Bloor Street. Quando saíram no último andar, Carina notou que havia apenas quatro portas no corredor.

Uau! Esses apartamentos devem ser enormes. Pensou, Carina.

Assim que entrou no hall e seguiu Maya até a ampla área de estar central, Carina percebeu por que ela tinha se sentido tão ofendida pela sua quitinete. Seu apartamento espaçoso ostentava janelas que iam do chão ao teto, enfeitadas com dramáticas cortinas de seda azul-claro, com vista ao sul para a Torre CN e o lago Ontário. O piso era de madeira de lei escura, adornado por tapetes persas, e as paredes eram de um tom marrom-acinzentado.
A mobília da sala de estar parecia ter sido comprada numa loja de luxo e ia desde um grande sofá de couro marrom com detalhes em tachas de metal, passando por duas poltronas do mesmo modelo, até uma terceira poltrona de veludo vermelho, virada para a lareira. Seria o lugar perfeito para se sentar num dia chuvoso, tomando uma xícara de chá e lendo seu livro favorito. Não que algum dia ela fosse ter essa chance. A lareira era adaptada para gás e Maya havia prendido uma TV de plasma sobre o consolo, como se fosse uma pintura. Várias obras de arte, pinturas a óleo e esculturas enfeitavam as paredes e parte da mobília.
Ela possuía peças de vidro romanas e de cerâmica gregas dignas de um museu, intercaladas por reproduções de esculturas famosas, incluindo a Vênus de Milo e Apolo e Dafne, de Bernini. Na verdade, pensou Carina, ela tinha esculturas demais, todas de nus femininos. Mas não havia fotos pessoais. Carina achou muito estranho que houvesse fotos em preto e branco de Paris, Roma, Londres, Florença, Veneza e Oxford, mas nenhuma da família Bishop, nem mesmo de Katherine. No cômodo seguinte, perto da mesa de jantar grande e formal, havia um luxuoso aparador de ébano que Carina admirou com olhar apreciativo.
As únicas coisas em cima dele eram um grande vaso de cristal e uma bandeja de prata ornamentada, com vários decantadores com líquidos cor de âmbar, um balde de gelo e taças de cristal à moda antiga. Pegadores de gelo de prata completavam a cena, enviesados sobre uma pilha de pequenos guardanapos de linho branco bordados com as iniciais M. M. B.

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