Você é quente como o sol.

154 13 0
                                    

Ao acordar no dia seguinte, Carina encontrou Maya sentada na beirada da cama, totalmente vestida e a observando. Ela bocejou e se espreguiçou sob os raios de sol que entravam pelas persianas. 

– Bom dia – disse com um sorriso. Maya se inclinou e a puxou para um abraço caloroso. 

– Já estou de pé faz algum tempo, mas voltei agora há pouco para ver como você estava. Você fica muito serena quando está dormindo. – Ela a beijou com ternura, então foi até o closet pegar um suéter. 

Carina se virou de barriga para baixo e a devorou com os olhos sem pudor, admirando o modo como sua camisa social ajustava-se aos ombros. De onde estava agora, também podia admirar seus glúteos, apertados na calça jeans preta. 

Isso sim é um belo traseiro, pensou Carina. 

Maya olhou para ela por sobre o ombro.
 
– Como? 

– Eu não falei nada. – Bishop mordeu os lábios, como se tentasse conter um sorriso. 
– Ah, não? – Aproximou-se dela e se inclinou para sussurrar no seu ouvido. – Não sabia que era do tipo que gostava de bunda. 

– Maya!

Um tanto constrangida por ter sido pega no flagra, Carina deu um tapinha de leve no braço dela e as duas começaram a rir. Maya a agarrou pela cintura, puxando-a para o seu colo. 

– Mas quero deixar bem claro que minha bunda está muito lisonjeada. 

– Ah, é? – Ela arqueou uma sobrancelha. 

– Extremamente. E ela gostaria que eu lhe transmitisse seus melhores cumprimentos e, ah, que lhe dissesse que ela está ansiosa por conhecê-la com mais intimidade em Florença. 

Carina balançou a cabeça para ela e se inclinou para a frente, implorando por um beijo. Foi recompensada com um contato breve, porém cheio de ternura, antes de Maya recuar. Ela ficou séria de repente.

– Preciso conversar com você sobre algumas coisas. – Carina mordeu o lábio e esperou. – Owen foi preso e responde por várias acusações. O pai dele enviou o advogado da família para ajudá-lo e já existem boatos sobre um acordo judicial. 

– Sério? 

– Pelo jeito, o senador quer manter essa história sórdida fora dos jornais. Mason telefonou para o promotor público e conseguiu que ele garantisse dar prioridade máxima ao caso. Mason deixou bem claro que todos nós gostaríamos que a pena fosse prisão e não algum tipo de centro de reabilitação ou tratamento. Mas, levando em conta os contatos de Owen, acho pouco provável que isso aconteça. – Carina fez um lembrete mental para agradecer a Mason por ele ter se manifestado em sua defesa. 

– E quanto a você? Corre algum risco? – Maya sorriu. 

– O advogado da família daquele desgraçado ameaçou dar queixa. Por sorte, meu irmão teve uma conversa breve, porém esclarecedora, com ele, em que comentou que a imprensa ficaria muito interessada em ouvir a nossa versão da história. Não vou ser indiciada. Nem preciso dizer que todos os envolvidos já estão cheios de Mason.

Carina fechou os olhos e expirou devagar. A ideia de que algo pudesse acontecer com Maya era dolorosa, especialmente porque tinha sido ela a trazer aquele problema para as duas. 

– Preciso tomar um banho e trocar de roupa – disse ela, abrindo os olhos. Maya lançou um olhar tórrido para ela e correu um só dedo por todo o seu braço.

– Adoraria tomar esse banho com você, mas temo que isso fosse escandalizar minha família. – Carina ficou arrepiada.

– Bem, não posso permitir que sua família fique escandalizada, professora Bishop.
 
– Sem dúvida, Srta. Deluca. Seria mesmo chocante. Então, em prol do decoro, minha bunda muito lisonjeada e eu iremos nos abster de tomar banho com a senhorita. – Ela se inclinou para a frente, com os olhos brilhando. – Por ora. 

Carina riu e ela a deixou ir para o banho. Quando Carina saiu do banheiro, encontrou Maya andando de um lado para outro no corredor.

– Algum problema? – Ela balançou a cabeça. 

– Queria me assegurar de que você não tinha tropeçado ou coisa parecida. Onde estão suas muletas? 

– No meu quarto. Estou bem, Maya.

Ela passou por Bishop mancando. Quando encontrou sua escova de cabelos, começou a arrastá-la desajeitadamente pelos cabelos longos e embolados.

– Deixe-me fazer isso. – Maya se aproximou dela e tirou a escova de sua mão.

– Vai pentear meu cabelo? 

– Por que não? 

Ela puxou uma cadeira, incentivando Carina a sentar, então parou atrás dela e começou a correr os dedos lentamente desde as raízes até as pontas dos fios, desembaraçando-os. Carina fechou os olhos. Maya continuou por alguns instantes antes de levar os lábios à sua orelha. 

– Está gostando? 

Carina murmurou para ela, ainda de olhos fechados. Maya riu e balançou a cabeça. Ela era tão doce e fácil de agradar. E ela queria desesperadamente agradá-la. Quando acabou de desembaraçar os fios, deslizou a escova com cuidado pelos cabelos, penteando-os devagar, uma parte de cada vez. 

Carina jamais havia pensado em Maya fazendo aquilo, nem em seus sonhos mais loucos. Mas havia algo de instintivo na maneira como ela a tocava e a sensação dos dedos longos dela cuidando dos seus cabelos aquecia sua pele. Ela só podia imaginar as alegrias que a aguardavam em Florença, quando pudesse desfrutá-la por inteira. Sem roupas. Ela se apressou em cruzar as pernas. 

– Estou seduzindo você, Srta. Deluca? – sussurrou sua voz açucarada. 

– Não. 

– Então não devo estar fazendo isso direito. – Ela conteve uma risadinha e desacelerou os movimentos, pressionando os lábios contra a ponta da orelha dela. – Embora meu verdadeiro objetivo seja fazê-la sorrir. 

– Por que você é tão gentil comigo? – Os dedos dela pararam. 

– Que pergunta incomum para se fazer a sua amante. 

– Estou falando sério, Maya. Por quê? – Ela tornou a mover os dedos pelos seus cabelos. 

– Você tem sido gentil comigo desde que nos conhecemos. Por que eu não faria o mesmo? Não acha que merece ser tratada com gentileza? 

Carina decidiu não se aprofundar mais em sua pergunta original. Apesar de estar transtornada na noite anterior, ela se lembrava de ter confessado seu amor por ela no hospital. Mas sua declaração tinha ficado sem resposta. Isto é suficiente. 

As atitudes dela, sua gentileza, sua proteção. É mais do que suficiente. Não preciso de palavras. pensou Carina. 

Deluca a amava tanto que chegava a doer; sempre a amara e esse sentimento ardia tão intensamente que mesmo durante os dias mais sombrios de sua vida o brilho dela não havia se apagado. Mas então Maya não parecia retribuí-lo. Quando terminou de pentear seus cabelos, ela insistiu em lhe preparar algo para comer. Mais tarde, sentaram-se juntas na cozinha, fazendo planos para a noite, até o telefone tocar e Lane aparecer com o aparelho sem fio nas mãos. 

– É seu pai – disse ele, estendendo-o para Carina. Maya o interceptou e tapou o bocal. – Você não precisa falar com ele. Posso cuidar disso.

– Vamos ter que conversar em algum momento. – Carina desceu do banco e seguiu com suas muletas para a sala de jantar. Lane balançou a cabeça para a filha. 

– Você não pode se intrometer entre Carina e Vincenzo. 

– Ele não tem sido grande coisa como pai.

– Mas é o único pai que ela tem. E Carina é a alegria da vida dele. – Maya estreitou os olhos. 

– Se ele ao menos se importasse com ela, a teria protegido. – Lane pousou a mão no seu ombro. 

– Pais cometem erros. E, às vezes, é mais fácil enterrar a cabeça na areia do que admitir que seu filho está em apuros. E que a culpa é sua. Sei disso por experiência própria. 

Maya franziu os lábios, mas ficou calada. Dez minutos depois, Carina voltou. Apesar de Lane continuar na cozinha, Maya a puxou para um abraço e lhe deu um beijo no rosto. 

– Tudo bem? 

– Meu pai quer me levar para jantar hoje à noite – disse Carina. Lane pareceu interpretar isso como sua deixa para ir embora e subiu para o escritório. 

– Você quer vê-lo? 

– Vai ser desagradável, mas concordei. 

– Carina, você não é obrigada a fazer nada. Eu posso levar você para jantar no lugar dele. – Ela balançou a cabeça. 

– Ele está se esforçando, Maya. É meu pai. Preciso lhe dar uma chance. 

Maya balançou a cabeça, frustrada, mas resolveu não discutir com ela. Às seis em ponto, Vincenzo estava à porta dos Bishop, calça e camisa sociais e gravata, que ficava puxando, sentindo-se desconfortável. Não estava acostumado a usá-las. Mas por Carina... Lane se apressou em lhe dar as boas-vindas, conduzindo-o até a sala de estar enquanto esperavam Carina descer. 

– Tem certeza de que quer ir? – Maya estava recostada na cama, observando Carina passar batom com a ajuda do seu espelhinho de mão.

– Não vou dar um bolo no meu próprio pai. Além do mais, Melissa vai arrastar Lane para assistir a uma comédia romântica e você vai sair com os rapazes. Eu iria acabar ficando sozinha aqui. – Maya se ergueu da cama e andou até ela, passando os braços em volta da sua cintura. 

– Você não ficaria sozinha. Ficaria comigo. E sei entreter uma dama. – Maya começou a dar beijos molhados atrás da orelha dela para persuadi-la. – Você está deslumbrante – Carina corou.
 
– Obrigada. 

– Vejo que Melissa lhe arranjou um lenço. – Ela tocou a ponta do lenço Hermès de seda azul que sua irmã havia enrolado habilidosamente no pescoço de Carina para ocultar a marca da mordida. 

– Era de Katherine – disse Carina baixinho. – Foi um presente de Lane.

– Lane gostava de mimá-la. Especialmente em Paris. 

– Você é muito parecida com ele. – Ela se colocou na ponta dos pés para lhe dar um beijo no rosto. 

– Espere só até chegarmos a Florença. – Maya a puxou para perto e a beijou com paixão antes de soltá-la. 

– Então, para onde vai com os rapazes? Para alguma... boate de strip-tease? – Carina ergueu os olhos a observou por baixo de seus cílios. Seria impossível ficar mais encantadora. Maya fechou a cara. 

– Você acha que eu faria isso? 

– Não é isso que os homens fazem quando saem sozinhos à noite? Você vai acompanhá-los. – Ela acariciou seu rosto com as costas da mão. 

– Você acha que Melissa aprovaria que fôssemos a um lugar desses? 

– Não. 

– E quanto a mim, acha que é isso que quero? – Carina afastou o olhar e não respondeu. – Por que eu olharia para outras mulheres quando tenho a mais bela do mundo na minha cama todas as noites? – protestou ela, beijando-a de leve. – A única mulher que quero ver nua é você. – Carina deu uma risadinha. 

– Qual foi mesmo a minha pergunta? Já me esqueci. – Maya sorriu com malícia. 

– Ótimo. Venha cá. 





Mais tarde, quando a casa estava escura e todos já haviam se recolhido, Carina entrou às escondidas no quarto de Maya vestindo apenas uma camisola azul simples. E Bishop estava sentada na cama, lendo, de óculos e uma camiseta longa, os joelhos dobrados para cima numa posição relaxada. 

– Ora, ora. Olá. – Ela sorriu, largando o livro Fim de Caso na mesa de cabeceira. – Você está linda. – Carina largou as muletas e correu os dedos pela camisola, agradecida.

– Obrigada por ter ido até a casa do meu pai pegar minhas coisas. 

– Não tem de quê. – Ela estendeu a mão e Carina subiu na cama ao seu lado. Maya a beijou antes de notar que ela ainda usava o lenço Hermès de Katherine. Ela puxou uma das pontas. – Por que ainda está usando isto? – Carina baixou os olhos. 

– Não quero que veja minha cicatriz. – Maya ergueu o queixo dela. 

– Você não precisa se esconder de mim. 

– Ela é feia. Não quero que você se lembre do que aconteceu. 

Ela olhou bem no fundo dos olhos dela. Então começou a desenrolar o lenço. Maya o fez deslizar de leve pela nuca de Carina, até cair em sua mão. Ela ficou toda arrepiada à medida que a seda percorria sua pele de forma sensual, aliada ao olhar ardente de Maya. Ela largou o lenço na mesa de cabeceira e se inclinou para beijar a marca em seu pescoço várias vezes. 

– Nós duas temos cicatrizes, Carina. As minhas só não estão na pele. 

– Queria que não tivéssemos – sussurrou ela. – Queria ser perfeita. – Maya balançou a cabeça. 

– Você gosta de Caravaggio? 

– Muito. O quadro O sacrifício de Isaac é o meu preferido. 

– Sempre gostei mais de A Incredulidade de São Tomé. Lane tem uma reprodução dele no seu escritório. Eu o estava admirando hoje. 

– Sempre achei esse quadro... estranho. 

– Ele é estranho. Jesus surge diante de São Tomé após a ressurreição e Tomé toca com o dedo a ferida deixada pela lança do lado do corpo dele. É muito profundo. – Carina não via profundidade naquilo, então ficou quieta. – Se você for esperar que sua cicatriz desapareça, Carina, vai ficar esperando para sempre. Cicatrizes nunca desaparecem. A pintura de Caravaggio deixou isso claro para mim. Feridas podem se fechar e talvez até sejamos capazes de nos esquecer delas com o tempo, mas as cicatrizes são para sempre. Nem mesmo Jesus perdeu as suas. – Maya esfregou o queixo, pensativa. – Se eu tivesse me dado o trabalho de deixar de ser egoísta, teria percebido isso. E teria tratado Katherine e minha família com mais carinho. Teria tratado você com mais carinho em setembro e outubro. – Ela pigarreou. – Espero que me perdoe pelas cicatrizes que eu lhe deixei. Sei que são muitas. – Carina sentou no seu colo e a beijou vigorosamente. 

– Você já foi perdoada há muito tempo e por muito mais do que ter deixado cicatrizes. Preferiria que não falássemos mais sobre isso. 

As duas quase amantes compartilharam de um instante de silêncio antes de Maya lhe perguntar como tinha sido a noite. Carina se remexeu em seu colo. 

– Ele chorou. – Maya arqueou as sobrancelhas.

Vincenzo chorou. Não acredito. Pensou Maya

– Ele descreveu o que encontrou ao chegar em casa. E, quando lhe contei o que havia acontecido antes de você me salvar, ele chorou. Eu falei das brigas e das coisas que ele costumava me dizer. Então meu pai caiu em prantos, bem no meio de um restaurante chique. – Ela balançou a cabeça. – Nós dois choramos. Foi um espetáculo. – Maya afastou os cabelos do rosto dela para enxergá-la melhor. 

– Sinto muito. 

– Eu precisava dizer algumas coisas e ele ouviu... talvez pela primeira vez na vida. Pelo menos ele está tentando. Já é um grande passo. E, quando tiramos tudo isso do caminho, conversamos sobre você. Ele quis saber há quanto tempo estamos saindo juntas.
 
– E o que você disse? 

– Falei que não muito, mas que eu... gostava de você. Disse que você fez muita coisa por mim e que eu me importava com você. 

– Contou a ele sobre meus sentimentos? – Ela assumiu uma expressão acanhada. 

– Bem, não cheguei a falar que quer fazer amor comigo em Florença, mas disse que achava que você também gosta de mim. – Maya fechou a cara. 

– Eu gosto de você? Sério, Carina? Foi o melhor que conseguiu dizer? – Ela encolheu os ombros. 

– Ele é meu pai. Não quer ouvir detalhes sentimentais. Quer saber se você ainda usa drogas e se mete em brigas. E se é fiel a mim. – Maya se encolheu. Ela a abraçou forte. – É claro que falei para ele que você é uma cidadã-modelo e que me trata como uma princesa. E que não mereço você. 

– Bem, isso não é verdade. – Ela beijou sua testa. – Eu é que não mereço você. 
– Até parece. 

Elas se beijaram com carinho por alguns instantes. Então Maya tirou os óculos e os colocou em cima do seu livro. Apagou a luz e a abraçou por trás, sentindo-se feliz. Quando já estavam pegando no sono, Carina sussurrou:

– Eu te amo. 

Como Maya não respondeu, Carina supôs que ela já estivesse sonhando. Suspirou baixinho e fechou os olhos, aconchegando-se em seu peito. Maya flexionou seu braço forte envolvendo a cintura dela, apertando-a mais ainda contra si. Ela a ouviu respirar fundo e fazer uma pausa. 

– Carina Deluca, eu também te amo.



Carina acordou na manhã seguinte sentindo algo quente perto de seu coração e um hálito suave soprando seu pescoço. Quando baixou os olhos, viu a mão grande de Maya envolvendo seu seio direito enquanto elas dormiam de conchinha. Ela riu e se remexeu. Bishop resmungou por causa do movimento repentino.
 
– Bom dia, Maya. 

– Bom dia, minha linda. – Os lábios dela encontraram a face de Carina e a beijaram. – Suponho que tenha... dormido bem. 

– Muito bem. E você? 

– Bem, obrigada. 

– Isto incomoda você? – Ela a acariciou de leve sobre a camisola. 

– Não. É gostoso. – Ela se virou para encará-la. Maya deslizou a mão pela base das suas costas, para puxá-la para um beijo intenso. 

– Carina... – Ela afastou alguns fios de cabelo de cima dos olhos dela. – Gostaria de lhe dizer uma coisa. 

Ela franziu a testa. Maya correu um só dedo pelas suas sobrancelhas, desfazendo as linhas de preocupação que haviam surgido ali. 

– Não precisa ficar preocupada. É uma coisa boa. Eu acho. – Ela a encarou, ansiosa. Os olhos de Bishop se arregalaram, graves e sérios. – Eu te amo. – Carina pestanejou e um sorriso se espalhou devagar pelo seu rosto. 

– Eu também amo você. Achei que estava ouvindo coisas quando você disse isso na noite passada. – Ela a beijou com ternura.

– E eu achei que você tivesse me ouvido. 

– Você já disse isso para mim antes, sabia?

– Quando?

– Na noite em que eu a salvei de Michelle. Eu a pus na cama e você me chamou de Beatriz. E disse que me amava. – Bishop engoliu em seco. 

– Carina, me desculpe por ter levado tanto tempo para dizer isso como devia. 

– Obrigada. 

– Não, querida, eu é quem deveria estar agradecendo. Eu... nunca me senti assim antes. Agora percebo quanto tempo desperdicei. – O olhar de Maya ficou triste. Carina a beijou de leve. 

– Nós duas tínhamos muito que amadurecer. Foi melhor assim. 

– Eu me arrependo da maneira como tratei aquelas outras mulheres. E de ter desperdiçado meu tempo com elas. Você sabe disso, não sabe?

– Eu me arrependo de ter estado com ele. Mas não há nada que possamos fazer agora além de ficarmos felizes por termos nos reencontrado.

– Quem me dera pudéssemos passar o dia inteiro na cama. – A voz dela soou melancólica de repente. Carina riu.

– Acho que isso chocaria sua família.

– Muito provavelmente. Merde! – as duas riram até suas risadas se transformarem em beijos apaixonados. Carina foi a primeira a recuar.

– Posso lhe perguntar uma coisa? – O maxilar de Maya se retesou. 

– Claro. 

Não me faça muitas perguntas esta manhã, Carina. Não posso lhe contar tudo na casa de Lane. Pensou Maya. 

– Que tipo de lingerie você gosta de ver numa mulher? – O maxilar de Maya relaxou na mesma hora e seus lábios se curvaram num sorriso perverso. 

– Por que está perguntando isso? É algum tipo de pesquisa? – Ela deu uma risadinha, pegando a mão dela e pressionando os lábios nos nós de seus dedos. Carina baixou os olhos para suas mãos unidas. 

– Queria fazer umas compras antes da nossa viagem. Estava me perguntando do que você... gosta. – Maya a encarou com um olhar tórrido, repleto de desejo. 

– Carina, eu sou sua mulher. Se fosse lhe dizer que tipo de lingerie prefiro, a resposta seria nenhuma. – Ela ergueu o queixo para olhar nos olhos dela. – Você é linda. Quando penso em estar com você, planejo admirar sua beleza sem pressa. Seu rosto, seus ombros, seus seios, cada parte sua. Penso nas curvas cor de creme, rosadas e macias que irei venerar com o meu corpo. 

Ela a empurrou com carinho, deitando-a de costas para se ajoelhar entre suas pernas.

– Vista algo que faça você se sentir bela e confortável, pois quero que seja assim quando estivermos juntas. – Ela capturou sua boca e a beijou com fervor. Quando recuou, Carina a encarou com um olhar travesso. 

– Tão confortável quanto uma roupa de ginástica? – Maya pareceu intrigada. 

– Se você se sente confortável assim, sem dúvida não vou me opor. – Ela ergueu o pescoço e esfregou a ponta de seu nariz no dela. 

– Você é uma fofa, sabia? Mas estava falando sério quando perguntei. Quero escolher algo de que você goste. 

– Vou gostar de qualquer coisa, desde que você a esteja vestindo. 

Maya tornou a beijá-la e, dessa vez, se permitiu o luxo de baixar seus seios e aproximá-los dos dela, mas sem tocá-los. O calor e a eletricidade saltaram entre as peles das duas e logo Carina estava sem fôlego. 

– Alguma preferência de cor? – perguntou, ofegante. – Ou de estilo? – Agora Maya estava rindo baixinho e acariciando seu rosto, que se ruborizava sob os seus dedos. 

– Bem, nada de preto ou vermelho. 

– Achava que essas fossem as cores mais comuns. Costumam ser consideradas sedutoras. – Ela se moveu para o lado dela e sussurrou em sua orelha: 

– Você já me seduz. Estou enfeitiçada, arrebatada e muito, muito excitada. – O quarto pareceu ficar mais quente e Carina esqueceu qual era sua próxima pergunta. Por fim, se lembrou: 

– Então nada de preto ou vermelho. Alguma cor favorita? 

– Você é teimosa, hein? Acho que ficaria bonita com cores claras, como branco, cor-de-rosa, azul. Posso imaginá-la usando algo clássico, com seus cabelos caindo em cascata sobre os ombros. Mas o importante não é o que eu acho e sim o que você acha. Então me parece que é você quem deve escolher. – Ela sorriu. – É claro que eu talvez aproveite para comprar uma coisinha ou outra quando estivermos por lá. Mas, para a nossa primeira vez, tudo o que importa é o que você quer. O que faz você se sentir especial, sexy e valorizada. É isso que eu quero, porque amo você. 

– Eu também amo você. 

Carina sorriu para ela e Maya achou que seu coração fosse derreter. Carina tomou o rosto dela em sua mão, correndo o polegar pelo seu queixo. Maya descansou a cabeça na mão dela e fechou os olhos. Quando tornou a abri-los, eles estavam lúcidos, brilhantes e muito vorazes. Ela teve que desviar o olhar.

– Preciso me arrumar. A que horas temos que partir? – Maya começou a beijar sua clavícula de um ombro até o outro. 

– Depois (beijo) do café da manhã (beijo). Nosso voo é por volta da hora do jantar (beijo) e precisamos chegar cedo ao aeroporto. (Dois beijos.) 

Carina tornou a beijá-la e desapareceu no corredor com suas muletas. 

No andar de baixo, Lane estava muito agitado, preparando e servindo o café da manhã de domingo para a família faminta. Mason comia tudo o que via pela frente ou que outra pessoa não tivesse pegado antes, enquanto Melissa e Jack analisavam fotografias de locais para festas de casamento na Filadélfia no BlackBerry de Jack. Melissa cumprimentou a irmã e sua melhor amiga assim que elas entraram na cozinha: 

– Vejam só quem chegou.

– Tenho que devolver isto para você – sussurrou Carina, começando a desatar o lenço que havia amarrado no pescoço.

– Não precisa. Mamãe gostaria que ficasse com ele. 

Carina agradeceu à amiga puxando-a para um abraço. Sentiu-se mais uma vez grata pela sua generosidade, e também por Katherine, cuja presença igualmente generosa nunca parecia estar longe deles. Mason serviu um copo de suco de laranja para Carina, que se sentou. 

– Você parece feliz hoje. – disse ele. 

– E estou. De verdade. 

– Nunca deixe que ela a trate mal – sussurrou com uma expressão séria no rosto. 

– Ela mudou, Mason. Ela... me ama – falou em voz baixa, para que ninguém mais ouvisse. Mason olhou para ela, surpreso. 

– Meu Deus! – ele murmurou. Então trocou seu peso de um pé para o outro, desconfortável, e mudou de assunto: – A audiência para analisar o pedido de fiança de Owen deve ter sido ontem. O advogado dele estava tentando libertá-lo. – Ele lançou um olhar cauteloso para Carina. – Ainda não consegui descobrir o que aconteceu. 

Carina demorou alguns instantes para registrar o que Mason estava dizendo, mas, quando entendeu, foi dominada pela ansiedade. Derrubou o copo de suco de laranja sem querer, transformando seu café da manhã em um desastre pegajoso e encharcado. 

Ela piscou várias vezes, tentando se recompor e enxugar sua mais recente trapalhada, xingando-se por estar tão nervosa.

Maya já deve estar cansada de me ver derrubando coisas. Sou uma perfeita idiota. Pensou Carina. 

HEALOnde histórias criam vida. Descubra agora