Não sou mais sua Beatriz.

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Poema de Dante.

Há tanto que o Amor me tem cativo
E habituado ao seu jugo,
Que, se antes me causava estorvo,
Agora parece encarecer meu coração.
Assim, quando ele me priva da minha coragem
E meu espírito parece ser soprado para longe,
Sinto atravessar minha alma
Tamanha doçura que meu rosto empalidece,
Então o Amor me tem de tal forma em seu poder,
Que meu espírito me faz ouvir
Sempre a clamar.

[...]

Assim que elas se conectaram, pele com pele, Carina perdeu a capacidade de raciocinar e se deixou levar pela emoção. Nunca se sentiu tão viva. A boca de Maya mal se movia sobre a sua. Seus lábios eram quentes, úmidos e surpreendentemente macios. Carina não sabia se ela a estava beijando daquela forma porque estava bêbada ou por algum outro motivo, mas era como se suas bocas tivessem se congelado juntas. Como se a conexão entre as duas, fosse tão intensa e real que não pudesse ser rompida nem por um segundo. Carina não teve coragem de mover a boca, com medo de que ela a soltasse e nunca mais voltasse a beijá-la. Maya pressionou seu corpo contra o dela num gesto firme, porém gentil, acariciando seu rosto com ternura. Ela não abriu a boca. Mas o sentimento que fluiu entre as duas era mais poderoso do que nunca. A pulsação de Carina latejava em seus ouvidos e ela sentiu que ruborizava e ficava quente enquanto pressionava o corpo contra os seios dela, vencendo a distância que as separava e a abraçando. Pôde sentir o coração dela bater contra o seu próprio peito. Ela foi tão gentil, tão carinhosa... sua boca a deixou querendo mais – muito mais. Não saberia dizer por quanto tempo se beijaram, mas, quando Maya a soltou, Carina estava atordoada. Foi transcendental. Emocionante. A concretização momentânea do desejo mais profundo de seu coração. Uma enxurrada de lembranças e sonhos relacionados ao pomar invadiu sua mente. Nada daquilo era um capricho de sua imaginação: aquela atração era real e deixava sua alma em alvoroço. Deluca se perguntava se Bishop teria sentido o mesmo, mas achava que não. Talvez fosse imune a esse tipo de sentimento.

– Bela Carina – murmurou Maya, cambaleando para trás. – Doce como mel. Maya lambeu os lábios como se saboreasse o gosto dela, qualquer vestígio de lucidez desaparecendo de repente. Bishop fechou os olhos e caiu contra a parede, quase desmaiando. Quando ela voltou a si – o que levou mais de um minuto –, Carina conseguiu arrastá-la até o quarto. E tudo teria terminado bem... se Maya não tivesse naquele instante vomitado em cima dela. Em seu lindo e caro suéter de caxemira verde. Diante daquela visão e daquele cheiro, Carina, que tinha o estômago muito sensível, arquejou e teve ânsia de vômito.

Sujou até o meu cabelo! Ó deuses de todos os bons samaritanos, venham correndo ao meu socorro! Pensou Carina.

– Desculpe, Carina. Desculpe por ter sido uma garotinha travessa. – Maya soava como uma criança. Ela prendeu a respiração e balançou a cabeça.

– Não tem problema. Venha.

Deluca a arrastou até a suíte e conseguiu colocá-la de joelhos diante do vaso sanitário antes que ela voltasse a vomitar. Tapando o nariz, Carina tentava se distrair observando seu banheiro elegante e espaçoso. Banheira grande para duas ou mais pessoas? Confere. Boxe grande para duas ou mais pessoas com chuveiro no teto? Confere. Toalhas brancas grandes e felpudas para limpar vômito. Confere. Quando Maya terminou, ela lhe entregou uma toalha de rosto para limpar a boca. Bishop gemeu alto e ignorou sua oferta. Então Carina se agachou e limpou seu rosto gentilmente antes de lhe dar água nas mãos em concha para enxaguar a boca.

Carina a encarou. Apesar do desastre que era sua família e das suas incertezas quanto a se iria se casar, ela às vezes pensava como seria ter um bebê – um garotinho ou uma garotinha que se parecesse com ela. Observando Maya passar mal, imaginou como seria ser mãe e cuidar de um filho doente. A vulnerabilidade dela cortou seu coração, pois ela nunca a vira, exceto naquela única vez, quando ela a flagrou chorando por Katherine em sua sala.

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