Quero que as pétalas dela se abram

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– Você disse que não queria saber da vida pessoal dela. O que é uma pena, na verdade. Se não tivessem uma relação profissional, talvez você fosse gostar de Carina. Poderiam ser amigas.

Ela sorriu para a irmã, provocativa, mas Maya manteve os olhos no balcão da cozinha e começou a esfregar o queixo, distraída. Melissa tamborilou no balcão.

– Quer que eu diga a ela que a pasta e as outras coisas são presentes seus?

– É claro que não! Eu poderia ser despedida por isso. Alguém poderia tirar conclusões precipitadas e eu seria arrastada para uma audiência com o Comitê Disciplinar.

– Achei que você não pudesse ser demitida sem justa causa.

– Não interessa – balbuciou ela.

– Então quer gastar todo esse dinheiro com Carina e não se importa que ela não saiba que os presentes são seus? Isso é um tanto Cyrano de Bergerac, não acha?

Maya se levantou, ignorando-a, foi até a grande máquina de expresso num dos balcões e deu início ao processo um tanto trabalhoso de preparar o café perfeito, de costas para a irmã irritante.

– Está bem. Você quer fazer algo de bom por Carina. Pode chamar de penitência se quiser, mas talvez esteja apenas sendo gentil. Duplamente gentil, porque quer fazer isso em segredo para não a constranger nem dar a impressão de que ela lhe deve alguma coisa. Estou impressionada. Um pouco.

– Quero que as pétalas dela se abram – murmurou Maya.

Melissa ignorou a confissão, achando que ela estivesse apenas resmungando, pois não conseguia acreditar que a irmã houvesse dito o que ela de fato ouvira. Era bizarro demais.

– Não acha que deveria tratar Carina como adulta e dizer a ela que os presentes são seus? Deixar que ela decida se deve ou não os aceitar?

– Ela não os aceitaria se soubesse que são meus. Sua amiga me odeia. – Melissa de uma gargalhada.

– Carina não é o tipo de garota que odeia as pessoas. É boa demais para isso. Mas, se a odiasse, provavelmente seria porque você mereceu. No entanto, você tem razão, ela não aceita caridade. Nunca me deixou comprar nada para ela, a não ser em ocasiões muito especiais.

– Então diga a ela que a está compensando por todos os presentes de Natal que não pôde dar. Ou que é um presente de Katherine. – Elas trocaram um olhar expressivo. Os olhos de Melissa se encheram de lágrimas.

– Mamãe era a única pessoa de quem Carina aceitaria caridade, porque a considerava sua mãe também.

Num piscar de olhos, Maya estava do seu lado, abraçando-a e tentando consolá-la da melhor forma possível. No fundo, ela sabia exatamente o que estava fazendo ao convencer a irmã a comprar coisas bonitas e femininas para a Srta. Deluca. Estava construindo sua estrada para o inferno, tentando comprar sua absolvição, o perdão pelos seus pecados. Nunca havia reagido dessa maneira a uma mulher. Mas não, Maya não se permitiria embarcar nessa ideia. Não fazia o menor sentido. Ela sabia que vivia no inferno. Aceitava isso. Quase nunca reclamava. Mas, verdade seja dita, queria desesperadamente fugir. Suas preces não eram atendidas e suas tentativas de redenção eram sempre frustradas por algum motivo. Em geral, uma mulher de salto alto e longos cachos castanhos, que arrastaria as unhas longas pelas suas costas, gritando seu nome sem parar... considerando as atuais circunstâncias, o melhor que ela poderia fazer em termos de redenção era pegar o dinheiro sujo do pai e esbanjá-lo com um anjo de olhos castanhos. Um anjo que não tinha dinheiro para alugar um apartamento com cozinha e que desabrocharia por alguns instantes quando sua melhor amiga lhe desse um vestido bonito e um novo par de sapatos. Maya queria fazer mais do que lhe comprar uma pasta, embora nunca fosse admitir seu verdadeiro desejo. Ela queria fazer Carina sorrir.

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