Você surgiu em minha escuridão.

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Maya sacou uma lanterna do bolso e acendeu-a, produzindo um facho brilhante de luz e iluminando a trilha desgastada que se estendia diante delas e desaparecia em meio às árvores. 

O bosque era assustador à noite: uma mistura de pinheiros viçosos e árvores sem folhas, à espera da primavera. Carina apertou a cintura de Maya com mais força, com medo de tropeçar em alguma raiz ou qualquer outra coisa e se estatelar no chão. 

Quando chegaram à beira do pomar, Bishop parou. Parecia menor do que Carina se lembrava. A clareira coberta de grama era a mesma, assim como a pedra e as macieiras, mas não tão grandes e substanciais quanto em sua memória. Também parecia mais triste, como se tudo ali tivesse sido esquecido. 

Maya a conduziu até o espaço que elas haviam ocupado tantos anos antes e estendeu meticulosamente o velho cobertor no chão. 

– Quem comprou a casa de Lane? – perguntou Carina. 

– Como? 

– Estava me perguntando quem teria comprado a casa. Tomara que não tenha sido a Sra. Roberts. Ela sempre quis comprá-la. 

Maya a puxou para se sentar perto dela e estendeu sobre elas os outros dois cobertores. Carina se aninhou ao seu lado e Maya a envolveu com os braços. 

– Fui eu. 

– Sério? Por quê? 

– Não iria deixar a Sra. Roberts morar aqui e cortar todas as árvores. 

– Então você a comprou por causa do pomar? 

– Não conseguia suportar a ideia de que outra pessoa ficasse com ele e provavelmente o destruísse. Ou de nunca mais poder voltar aqui.

– Então o que vai fazer? – Maya deu de ombros. 

– Meu corretor vai alugá-la. Gostaria de mantê-la como uma casa de veraneio. Não sei. Só não podia deixar que Lane a vendesse para um estranho. 

– Foi muito generosidade da sua parte. 

– Dinheiro não significa nada para mim. Jamais poderei saldar minha dívida com ele. – Carina deu um beijo em seu rosto e Maya sorriu. – Está confortável? 

– Sim. 

– Está bem aquecida? – Carina deu uma risadinha. 

– Você está gerando uma bela quantidade de calor, então, sim. 

– Você está muito longe. – Carina colou seu corpo ao dela e tremeu um pouco quando Maya a pôs de lado em seu colo. – Bem melhor assim – sussurrou, puxando a jaqueta dela um pouco para cima a fim de tocar a pele nua da base das suas costas. 

Elas ficaram caladas por alguns minutos, lidando, cada uma a seu modo, com as lembranças e a realidade. Maya continuou acariciando as costas dela e Carina se aninhou no corpo dela. Bishop não parecia estar com pressa de começar a conversar, então Carina resolveu falar primeiro.

– Eu me apaixonei por você no momento em que vi sua foto pela primeira vez. Fiquei tão surpresa por ter me notado na noite em que nos conhecemos... por ter querido que eu a acompanhasse. – Maya roçou os lábios nos dela, apenas por um instante, atiçando as chamas que ardiam sob a superfície. 

– Você surgiu em minha escuridão. Lembra-se de quando me perguntou por que eu não dormi com você naquela noite? Agora está muito claro para mim: eu bebi da sua bondade e ela saciou meus anseios. 

Carina teria afastado os olhos, constrangida, mas o olhar vulnerável de Maya os manteve ali, explorando as profundezas de dois lagos escuros e nebulosos.

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