Maya Bishop estava sentada na cama, nua, lendo o jornal florentino La Nazione. Havia acordado cedo na cobertura Palazzo Vecchio do Gallery Hotel Art e pedira o serviço de quarto, mas não conseguiu resistir à tentação de voltar para a cama e ficar observando sua amada dormir.
Carina estava deitada de lado, virada para ela, respirando de modo suave. Um diamante brilhava em sua orelha, suas faces estavam rosadas por causa do calor. O sol entrava pelas janelas panorâmicas, iluminando a cama. As cobertas, deliciosamente amarrotadas, recendiam a sexo e sândalo.
Seus olhos brilharam, explorando-a sem pressa, a pele exposta, os cabelos longos e negros. Quando tornou a voltar sua atenção para o jornal, ela se mexeu um pouco e gemeu. Preocupada, Maya atirou o jornal de lado. Carina puxou os joelhos para junto do peito, enroscando-se na cama. Murmúrios escaparam de seus lábios e Maya se inclinou para mais perto, tentando decifrar o que ela dizia. Mas não conseguiu.
De repente, seu corpo se contorceu e ela deu um grito de cortar o coração. Seus braços se debateram, lutando com o lençol que a cobria.
– Carina?
Bishop pousou de leve a mão sobre seu ombro nu, mas ela se encolheu ao toque. Começou a balbuciar o nome dela repetidamente, o tom de voz cada vez mais apavorado.
– Carina, estou aqui – diss elevando a voz.
No instante em que tornou a estender a mão para tocá-la, ela se sentou na cama com as costas eretas, ofegante.
– Você está bem?
Maya se aproximou, resistindo ao impulso de tocá-la. Ela respirava com dificuldade e, sob o olhar vigilante dela, cobriu os olhos com a mão trêmula.
– Amor? – Após um longo minuto de tensão, ela a encarou de olhos arregalados. Maya fechou a cara. – O que houve? – Ela engoliu em seco.
– Um pesadelo.
– Sobre o quê?
– Eu estava no bosque atrás da casa dos seus pais. – As sobrancelhas de Maya se uniram atrás dos óculos de armação preta.
– Por que você sonharia com isso?
Deluca respirou fundo, cobrindo os seios com o lençol e levando-o até o queixo. A coberta, volumosa e branca, engoliu suas formas delicadas antes de ondular como uma nuvem por sobre o colchão. Aos olhos de Maya, ela parecia uma estátua ateniense. Ela correu os dedos com carinho por sua pele.
– Carina, fale comigo. – Ela se contorceu sob o seu olhar penetrante, mas Bishop se recusou a soltá-la.
– O sonho começou muito bonito. Nós fizemos amor à luz das estrelas e eu adormeci em seus braços. Mas, quando acordei, você tinha sumido.
– Está me dizendo que sonhou que fiz amor com você e depois a abandonei? – A voz dela ficou mais fria para disfarçar seu desconforto.
– Eu já acordei no pomar sem você antes – disse a meia voz, em tom de censura.
O fogo de Maya se apagou na mesma hora. Ela pensou naquela noite mágica seis anos antes, quando elas se conheceram e apenas conversaram e ficaram abraçadas. Ela havia acordado na manhã seguinte e forá embora, deixando sozinha uma adolescente adormecida. A ansiedade dela era compreensível e até comovente. Um a um, Gabriel abriu e beijou os dedos cerrados dela, arrependida.
– Eu amo você, Carina. Não vou abandoná-la. Você sabe disso, não sabe? – Doeria muito mais perder você agora.
Franzindo a testa, ela passou um braço em volta dela, pressionando seu rosto contra o peito. Uma enxurrada de lembranças lhe invadiu a mente enquanto pensava nos acontecimentos da noite anterior. Tinha visto Carina nua pela primeira vez e a iniciara nas intimidades do sexo. Carina compartilhara sua inocência com ela, que acreditava tê-la feito feliz. Sem dúvida havia sido uma das melhores noites da sua vida. Ela refletiu sobre isso por alguns instantes.
– Você se arrepende da noite passada?
– Não. Estou feliz que você tenha sido a primeira. Foi o que eu sempre quis, desde que nos conhecemos. – Maya pousou a mão no rosto dela, acariciando sua pele com o polegar.
– É uma honra ter sido a sua primeira. – Ela se inclinou para a frente, seu olhar fixo. – Mas também quero ser a última.
Carina sorriu e levou os lábios ao encontro dos dela. Porém, antes que Maya pudesse abraçá-la, seu celular ecoou pelo quarto.
– Deixe isso para lá – sussurrou irritada, esticando o corpo sobre o dela e obrigando-a a se deitar. Ela lançou um olhar por sobre o ombro de Maya, em direção ao iPhone que tocava em cima da mesa.
– Achei que ela não fosse mais ligar para você.
– Não vou atender, então não tem importância. – Ela se ajoelhou entre as pernas dela e a descobriu. – Na minha cama, só existimos nós duas.
Ela perscrutou os olhos dela enquanto Maya colava seu corpo nu ao dela. Bishop se inclinou para a frente a fim de beijá-la, mas ela virou a cabeça.
– Ainda não escovei os dentes.
– Não me importo. – Ela baixou os lábios até seu pescoço, beijando-a e sentindo sua pulsação acelerada.
– Prefiro ir ao banheiro antes. – Maya bufou, e se apoiou num dos cotovelos.
– Não deixe Margot estragar as coisas entre nós.
– Não vou deixar.
Ela tentou rolar de baixo dela e levar o lençol, mas Maya o agarrou. Olhou para Carina, os olhos faiscando de malícia.
– Preciso do lençol para fazer a cama.
Os olhos de Carina se desviaram do tecido branco preso entre os dedos dela e foram até seu rosto. Maya parecia uma pantera prestes a atacar. Ela lançou um olhar para a pilha de roupas no chão. Estavam fora do seu alcance.
– Qual o problema? – perguntou contendo um sorriso. – Carina ficou vermelha e segurou o lençol com mais força. Com uma risadinha, Maya o soltou e a puxou para seus braços. – Não precisa ser tímida. Você é linda. Se eu pudesse escolher, você nunca mais se vestiria.
Maya pressionou os lábios no lóbulo da orelha dela, roçando o brinco de diamante. Estava segura de que Katherine, teria ficado feliz em saber que Carina recebera seus brincos. Com outro beijo suave, ela se virou, sentando-se na beirada da cama.
Carina correu para o banheiro, mas não antes de Maya conseguir ter um vislumbre de suas belas nádegas quando ela largou o lençol, imediatamente antes de cruzar a porta. Enquanto escovava os dentes, ela pensou no que havia acontecido.
Fazer amor com Maya tinha sido uma experiência muito intensa, e seu coração ainda estava abalado. O que não era nenhuma surpresa, levando-se em conta a história das duas. Ela a desejava desde os 17 anos, quando haviam passado uma noite inocente juntas num pomar, mas, ao acordar na manhã seguinte, ela tinha desaparecido.
Como estava bêbada e drogada quando tudo aconteceu, Maya havia se esquecido dela. Carina só voltou a vê-la depois de seis longos anos, mas ainda assim ela não se lembrou dela de imediato. Quando a reencontrou, no primeiro dia do curso que Maya ministrava na pós-graduação da Universidade de Toronto, ela lhe pareceu atraente, porém fria, como uma estrela distante. Na época, não acreditava que pudessem se tornar amantes.
Achava impossível que a professora temperamental e arrogante correspondesse a seu afeto. Havia muitas coisas que ela não sabia. O sexo era uma forma desconhecimento, e agora ela sentia uma pontada de ciúme que nunca havia experimentado. A simples ideia de que Maya havia feito com outra mulher (no caso dela, com muitas outras) o que fizera com ela lhe dava um aperto no peito. Ela sabia que os encontros de Maya eram diferentes do que elas haviam compartilhado – aventuras que nada tinham a ver com amor ou afeto. Mas ela despira aquelas mulheres, vira-as nuas e as penetrara.
Quantas delas não desejaram mais depois de terem estado com ela? Margot havia desejado. Ela e Maya tinham mantido contato ao longo dos anos, desde que perderam o bebê delas. A nova maneira de Carina encarar o sexo mudou sua compreensão do passado dela e a tornou mais solidária com o drama de Margot.
E ainda mais precavida contra perder Maya para ela ou para qualquer outra mulher. Sentindo-se invadida por uma onda de insegurança, Carina se agarrou a uma das pias do banheiro. Maya a amava, ela acreditava nisso. Mas também era uma amante gentil e por isso jamais revelaria que a relação delas a deixara insatisfeita. E quanto ao seu próprio comportamento?
Ela havia feito perguntas e falado em momentos nos quais imaginava que a maioria das amantes teria ficado calada. Tinha feito muito pouco para agradá-la e, quando tentou, ela a impedira. Carina voltou a ouvir as palavras do seu ex-namorado, girando em sua mente como gritos de condenação: Você é frígida. Vai ser péssima de cama.
Ela deu as costas para o espelho, refletindo sobre o que poderia acontecer se Maya estivesse insatisfeita com ela. O espectro da traição mostrou sua cabeça maléfica, trazendo consigo visões de quando ela encontrou Owen na cama com sua colega de quarto. Ela empertigou os ombros. Estava confiante de que, se convencesse Maya a ser paciente e ensiná-la, poderia dar prazer a ela. Maya a amava e lhe daria uma chance.
Ela pertencia a ela, como se seu nome estivesse gravado a ferro e fogo na pele dela. Quando saiu do banheiro, ela a viu através da porta aberta do terraço. No caminho, se distraiu com um belo vaso de flores roxo-escuras e lírios mais claros, matizados, em cima da mesa. Alguns amantes teriam comprado rosas vermelhas de caules longos, mas Maya, não. Ela abriu o cartão que estava aninhado entre as flores.
"Minha querida Carina,
Obrigada pelo seu inestimável presente.
A única coisa que tenho de valor é o meu coração.
Ele é seu,
Maya."
Carina releu o cartão duas vezes, seu coração inflando de amor e alívio. As palavras de Maya não pareciam as de uma mulher insatisfeita ou frustrada.
Quaisquer que fossem suas aflições, Maya não parecia compartilhar delas. Ela estava tomando sol no futon, sem os óculos, com as pernas expostas. Notando sua presença no terraço, ela abriu os olhos e deu um tapinha no próprio colo. Carina se juntou a ela, que a abraçou e beijou apaixonadamente.
– Ora, ora. Olá – murmurou afastando do rosto dela uma mecha solta. Ela a analisou com atenção.
– Qual é o problema?
– Nada. Obrigada pelas flores. São lindas. – Maya roçou os lábios nos dela.
– Não tem de quê. Você parece preocupada. É por causa de Margot?
– Estou chateada por ela ligar para você, mas não é isso. – O rosto de Carina se iluminou. – Obrigada pelo cartão. Ele diz o que eu precisava desesperadamente ouvir.
– Fico feliz. – Ela a abraçou mais apertado. – O que está incomodando você? – Carina remexeu no cinto do roupão por alguns instantes, até que Maya pegou a mão dela. Ela a encarou.
– A noite de ontem foi o que você esperava? – Maya expirou com força, surpresa com a pergunta.
– Por que isso?
– Sei que deveria ter sido diferente para você. Eu não fui muito... ativa.
– Ativa? Do que você está falando?
– Não fiz muita coisa para lhe dar prazer. – Ela ficou vermelha. Maya acariciou sua pele de leve com a ponta de um dedo.
– Você me deu muito prazer. Sei que estava nervosa, mas desfrutei imensamente de tudo. Pertencemos uma à outra agora, em todos os sentidos. O que mais a está perturbando?
– Exigi que trocássemos de posição quando você preferia que eu ficasse por cima.
– Você não exigiu nada, você pediu. Para ser sincera, Carina, eu gostaria de ouvi-la exigir coisas de mim. Quero saber que você me deseja tão loucamente quanto eu a desejo. – A expressão de Maya relaxou e ela desenhou círculos em volta dos seios dela. – Você sonhava que nossa primeira vez fosse de uma determinada maneira. Eu a quis dar isso, mas estava preocupada. E se você se sentisse desconfortável? E se eu não fosse cuidadosa o suficiente? A noite passada foi uma primeira vez para mim também.
Maya a soltou, serviu café e leite vaporizado de duas jarras separadas numa xícara para preparar um latte e pousou a bandeja de comida na banqueta entre as duas. Havia folhados e frutas, torradas e Nutella, ovos cozidos e queijo, vários Baci Perugina que Maya havia subornado um funcionário do hotel para que fosse comprar, além do extravagante buquê de lírios do Giardino dell'Iris. Carina desembrulhou um dos Baci e o comeu, fechando os olhos de prazer.
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HEAL
Fanfiction- Você implorou para que eu a encontrasse, que a procurasse no Inferno. Foi exatamente onde achei você. E, por mim, pode ficar para sempre onde está. - Do que você está falando? - Nada. Para mim chega, professora Bishop. - Por que escreveu aquele bi...