Eu sei que você me amou.

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Gabriela e Carina estavam sentadas frente a frente em um café moderno, porém com decoração retrô, na Queen Street. Falaram amenidades antes de pedirem seus pratos, caindo em um silêncio desconfortável enquanto Carina refletia sobre sua situação.

– Mas então, como você tem passado? – A voz de Gabriela invadiu seus pensamentos.

Ela não iria dizer em voz alta, pois não mencionaria uma coisa dessas para Gabriela. Mas um dos motivos que a deixavam tão transtornada, além de perder Maya, era a perda daquilo que ela representava: a conquista da sua paixão de adolescência, a perda da virgindade, a descoberta do que ela havia acreditado ser um amor profundo e recíproco... Quando pensava na primeira vez que Maya fizera amor com ela, tinha vontade de chorar.

Ninguém jamais a havia tratado com tanta atenção e gentileza. Bishop se mostrou tão preocupada em não a machucar e em garantir que ela estivesse relaxada... Fez questão de lhe dizer que a amava, repetidas vezes, enquanto se aproximava do orgasmo – o primeiro que teria com ela, por causa dela... Maya deve ter me amado. Só não sei quando isso acabou. Ou melhor, quando decidiu que amava mais seu trabalho do que a mim. Pensou Carina. Gabriela pigarreou educadamente e Carina abriu um sorriso de desculpas.

– Hum, estou chateada e com raiva, mas tento não pensar muito no que aconteceu. Venho trabalhando na minha dissertação, mas é difícil escrever sobre amor e amizade quando se acabou de perder as duas coisas. – Ela suspirou. – A faculdade inteira deve achar que eu sou uma vadia. – Gabriela se inclinou sobre a mesa.

– Ei, você não é uma vadia. Eu daria um soco na cara de qualquer um que dissesse algo parecido a seu respeito. – Carina ficou calada, brincando com o guardanapo bordado que estava no seu colo. – Você só se apaixonou pela pessoa errada. Ela se aproveitou de você. – Carina protestou, mas ela prosseguiu: – A pró-reitoria me pediu que assinasse um acordo de confidencialidade. Eles colocaram panos quentes sobre tudo o que diz respeito a você e a Bishop. Então não se preocupe com a opinião dos outros. Ninguém sabe de nada.

– Michele sabe.

– Tenho certeza de que ela assinou o mesmo acordo de confidencialidade. Se começar a espalhar boatos a seu respeito, você deveria falar com o pró-reitor.

– De que isso adiantaria? A fofoca me seguiria até Harvard.

– Professores não devem se aproveitar de alunos. Se você a tivesse rejeitado, ela teria ferrado com a sua carreira. Ela é a vilã da história. – Gabriela bufou de raiva. – Você tem muitas coisas boas pela frente, como sua formatura e sua ida para Harvard. E, um dia, quando estiver pronta, vai encontrar alguém que a tratará como você merece. – Ela apertou seus dedos. – Você é boa e gentil. É engraçada e inteligente. E, quando está irritada, é muito sexy. – Carina abriu um meio sorriso. – No dia que enfrentou Bishop na sala de aula... foi um desastre, mas eu pagaria para ver aquilo de novo. Você é a única pessoa que vi enfrentá-la, com exceção de Michele, que é louca, e da professora Agonia, que é pervertida. Por mais que eu tenha ficado com medo de como ela poderia reagir, sua coragem foi impressionante.

– Eu perdi a cabeça. Não foi meu melhor momento.

– Talvez não. Mas serviu para me mostrar uma coisa. E a Bishop também. Você é durona. Precisa deixar esse seu lado vir à tona de vez em quando. Sem exageros, claro. – Gabriela estava sorrindo e flertando um pouco.

– Eu tento não ceder à raiva, mas, acredite, ela existe – disse Carina em voz baixa, porém firme.

Quando elas já haviam acabado de comer e estavam saboreando seus cafés, Carina contou a Gabriela uma versão extremamente censurada do seu caso com Maya, a começar pelo convite para que ela a acompanhasse à Itália. Descreveu como Maya a havia salvado de Owen, quando ela foi passar o Dia de Ação de Graças em casa, e que depois ela pagou pela cirurgia plástica em seu pescoço. Gabriela ficou surpresa. Carina sempre se sentia à vontade conversando com ela.

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