Os alunos ficaram sentados na sala agora silenciosa, chocados. Como a maioria deles não era especialista em Dante, o conflito logo foi considerado apenas uma discussão divertida (embora incomum) entre pesquisadores da mesma área. Acadêmicos podiam ser bastante passionais com relação a seus estudos; todo mundo sabia disso. Alguns, como Carina e a professora, mais que o normal. Aquela aula tinha sido um desastre, é claro, mas nem tão surpreendente assim. Nada tão bizarro. Quando os alunos perceberam que o espetáculo de vale-tudo que tinham acabado de testemunhar terminara e que não haveria segundo round, começaram a sair, com exceção de Micha, Gabriela e Carina. Micha fitou Carina com os olhos apertados e saiu atrás da professora como um patinho atrás da mãe.– Você é suicida? – Carina pareceu despertar de um sonho.
– Como assim?
– Por que provocou Bishop desse jeito? Ela está só esperando um motivo para se livrar de você!
Só então Carina se deu conta do tamanho da encrenca em que havia se metido. Era como se ela tivesse se transformado em outra pessoa, cuspindo veneno e raiva, sem pensar nem por um instante na plateia à sua volta. E, agora que havia extravasado essa raiva, sentia-se esvaziada, como um balão murcho no fim de uma festa infantil. Começou a guardar suas coisas na mochila lentamente, tentando se preparar para o que sem dúvida seria uma conversa muito, muito desagradável na sala da professora.
– Não acho que deva ir à sala dela – disse Gabriela.
– Eu não quero ir.
– Então não vá. Mande um e-mail dizendo que está passando mal e que sente muito.
Cosi cogitou essa hipótese por alguns instantes. Era muito tentadora. Mas ela sabia que só teria chance de salvar sua carreira se fosse uma mulher madura, enfrentasse seu castigo e deixasse para juntar os cacos da sua vida pessoal mais tarde. Se é que isso seria possível.
– Se eu não for, ela vai ficar mais irritada ainda e pode até me expulsar do curso. E preciso terminar essa disciplina para conseguir me formar em maio.
– Então vou com você. Melhor ainda, vou falar com ela antes. – Gabriela se empertigou, revelando toda sua altura, e cruzou os braços.
– Não, você tem que ficar fora disso. Vou até lá pedir desculpas e deixar que ela grite comigo. E, quando tiver conseguido o que quer, vai me deixar ir embora.
– A misericórdia não é coisa que se imponha – murmurou Gabriela. – Não que ela tenha noção disso. Aliás, por que vocês estavam discutindo? Dante não teve amante alguma chamada Margot. – Carina piscou depressa.
– Encontrei um artigo sobre Pia de'Tolomei. Margot era um dos apelidos dela.
– Pia de'Tolomei não foi amante de Dante. Há boatos de amantes e filhos ilegítimos, você não estava totalmente errada. Mas, sinto muito, Carina, Bishop tem razão: ninguém acredita que Pia tenha sido amante dele. Ninguém. – Carina mordeu o lábio, pensativa.
– Mas ela não me deixou explicar. E eu meio que... perdi a cabeça.
– Perdeu mesmo. Se tivesse sido qualquer outro aluno, eu diria que ela fez por merecer. Mas, no seu caso, era claro que ela iria fazer tempestade em copo d'água. – Gabriela balançou a cabeça. – Deixe-me falar com ela.
– Ela está orientando sua tese, não pode se dar ao luxo de irritá-la, Gabriela. Se ela exagerar na dose, eu vou embora. E dou queixa contra ela por assédio. – Gabriela baixou os olhos para ela com uma expressão muito preocupada.
– Não gosto nada disso. Ela está furiosa.
– O que ela pode fazer? Bishop é a professora grande e malvada. Eu sou a pequena aluna. Ela tem todo o poder.
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HEAL
Fanfiction- Você implorou para que eu a encontrasse, que a procurasse no Inferno. Foi exatamente onde achei você. E, por mim, pode ficar para sempre onde está. - Do que você está falando? - Nada. Para mim chega, professora Bishop. - Por que escreveu aquele b...