Deixe-me amá-la, Carina.

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– Hã, prefiro esperar. Posso? – Ela gesticulou para a pia da cozinha e, com a permissão de Maria, lavou as mãos.

Depois de secá-las, pegou um elástico da bolsa e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo. Maria a convidou a se sentar à pequena mesa redonda da cozinha.

– Esta casa não é muito prática com um banheiro só. Acabo tendo que subir aquelas escadas várias vezes por dia. Até minha casinha tem dois banheiros. – Carina ficou surpresa.

– Achei que a senhora morasse aqui. – Maria riu e pegou um jarro de suco de laranja recém-feito da geladeira.

– Eu moro em Norwood. Morava com minha mãe, mas ela faleceu alguns meses atrás.

– Meus pêsames. – Carina lançou um olhar compassivo para Maria enquanto ela servia o suco de laranja em duas taças de vinho.

– Ela sofria de Alzheimer – falou sem rodeios antes de voltar ao trabalho.

Carina a observou ligar uma máquina elétrica de waffles e então lavar e tirar as folhas de um cesto de morangos frescos e bater um pouco de creme de leite. Maya tinha planejado bem o café da manhã.

– Depois de tanto tempo cuidando da minha mãe, vou ter que me acostumar a trabalhar de empregada para uma professora. Ela tem lá suas manias, mas eu até gosto disso. Sabia que ela está me emprestando livros? Acabei de começar a ler Jane Eyre. Nunca tinha lido antes. Segundo ela, enquanto estiver cozinhando, eu posso continuar a pegar livros emprestados. Ela não sabe cozinhar muito bem – sorriu ao lembrar de quando Maya, deixou o arroz queimar. – Até que enfim vou ter a chance de continuar minha educação e colocar em prática tudo o que aprendi depois de anos assistindo ao canal Food Network.

– Ela está emprestando livros da sua biblioteca pessoal para a senhora? – Carina pareceu incrédula.

– Está. Não é simpática? Não conheço muito bem a professora, mas já gosto dela. Ela me faz lembrar da minha filha.

Carina bebericou seu suco de laranja e começou a tomar seu café da manhã, depois de Maria insistir que ela não esperasse por Maya.

– Não sei por que ela comprou esta casa, já que a cozinha é tão pequena e só há um banheiro – falou entre mordidas de um waffle de canela. Maria abriu um sorriso.

– Ela queria morar na Harvard Square, e gostou do jardim. Disse que a fazia lembrar da casa dos seus pais. Tem planos de reformar a casa para deixá-la mais confortável, mas se recusou a chamar um empreiteiro que fosse antes de ter a sua aprovação.

– A minha aprovação? – O garfo de Carina caiu no chão, fazendo barulho. Maria logo lhe entregou outro.

– Acho até que ela falou algo sobre vender a casa se você não gostasse dela. Embora, a julgar pelos palavrões que ouvi vindo do andar de cima hoje de manhã, acho que ela decidiu começar as reformas imediatamente. – Ela ofereceu um prato de bacon crocante para Carina. – Não sei se já percebeu, mas às vezes a professora é um pouco intensa. – Carina riu alto.

– A senhora não faz ideia. – Ela pôde saborear não só um, mas dois waffles antes de Maya vir descendo as escadas.

– Bom dia – disse beijando o topo da cabeça de dela.

– Bom dia. – Constrangidas pela presença de Maria, Maya e Carina conversaram por alguns instantes antes de Carina pedir licença para ir ao banheiro.

Bastou um olhar para seu rosto e cabelo no espelho para ela perceber que precisava de um banho. Foi então que notou uma sacola de compras pousada no canto da penteadeira. Dentro da sacola encontrou frascos de xampu de baunilha e gel de banho da marca que costumava usar, assim como uma esponja cor de lavanda nova. Ficou ainda mais surpresa ao encontrar um vestido de verão amarelo-claro e um cardigã combinando.

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