Toda esta noite é um presente.

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Carina se recostou na banqueta do terraço, fitando com alegria os olhos faiscantes de Maya. Ela havia tirado o terninho e desabotoado alguns botões de sua camisa branca, mas se recusava a tirá-la, lembrando-se de como tinha sido excitante quando Carina a puxara na Ponte Santa Trinita. 

Ela estava cativada por Bishop – pelo seu nariz, suas maçãs do rosto, seu queixo, seus magníficos olhos sob as sobrancelhas e pelos cabelos dourados reluzentes. Maya estava de lado, virada para ela, descansando a cabeça na mão, o braço apoiado no cotovelo, o joelho direito dobrado, servindo champanhe. Elas brindaram ao seu amor e tomaram o Dom Pérignon vintage favorito de Maya antes de ela se inclinar para capturar os lábios dela com os seus.
 
– Gostaria de alimentar você – murmurou. 

– Sim, por favor. 

– Feche os olhos. Apenas prove. 

Carina confiava nela, então fechou os olhos e sentiu algo tocar seu lábio inferior; em seguida, estava dentro da sua boca: chocolate, morango doce e suculento e a sensação do polegar de Maya roçando sua carne. 

Abrindo os olhos, ela a agarrou pelo punho, puxando seu polegar para dentro da boca, lentamente. Bishop arregalou os olhos e gemeu. Ela deslizou seu polegar pela língua, tocando-o de leve e chupando-o com determinação, antes de girar a boca ao longo da sua ponta para saborear qualquer resquício de chocolate. Maya tornou a gemer pelo modo como Carina olhou para ela sob os cílios, encarando-a com uma mistura de paixão e surpresa. Ela a soltou e afastou o olhar. 

– Não queria alimentar suas esperanças. Não saberia lhe... 

Maya interrompeu sua autodepreciação com os lábios, beijando-a de forma quase violenta. Acariciou seu pescoço de cima a baixo com um só dedo enquanto explorava sua boca com a língua. Quando recuou, os olhos dela estavam em chamas. 

– Pare de se depreciar. Não quero mais ouvir esse tipo de coisa. O que nós temos é só nosso. Não julgue prematuramente a si mesma, a mim ou o que podemos ser juntas. 

Ela lhe deu um beijo de leve no rosto, como se quisesse abrandar a rispidez do seu tom de voz, e roçou os lábios contra a orelha dela. 

– Além do mais, não tenho dúvidas de que você é excelente naquilo. Uma boca tão talentosa quanto a sua seria incapaz de decepcionar nesse sentido. – Ela lhe deu uma piscadela maliciosa. 

Carina ficou tão vermelha quanto as frutas, mas não respondeu. Maya continuou a lhe dar morangos cobertos de chocolate, alternados por pequenos goles de champanhe, até ela recusar a sobremesa para retribuir o favor. Pegando um garfo, Carina o encheu de tiramisu e arqueou uma sobrancelha ansiosa para sua amada. 

– Feche os olhos. 

Maya obedeceu e ela enfiou o garfo com delicadeza entre seus lábios. Ela gemeu alto, pois a sobremesa estava deliciosa. Melhor ainda foi o prazer de ser alimentada por sua amada. Carina se preparava para lhe servir outro pedaço quando ela a interrompeu. 

– Acho que se esqueceu de algo, Srta. Deluca – disse ela, lambendo seu lábio inferior. 

Maya agarrou a mão dela, arrastando dois de seus dedos por uma pequena porção da sobremesa e colocando-os languidamente dentro da boca. Como sempre, não teve pressa, sugando com carinho cada dedo, deslizando sua língua por eles antes de chupá-los desde a base até a ponta. Enquanto Maya venerava seus dedos com a boca, o corpo de Carina clamava por ela. Não conseguia deixar de imaginar sua língua habilidosa mergulhando em seu umbigo e descendo mais ainda, até onde nenhuma boca jamais havia estado... 

– Está feliz, amor? – Carina abriu os olhos e pestanejou. 

– Sim. – A voz dela estava trêmula. 

– Então me beije. 

Ela a puxou pela camisa, exatamente como Maya queria, e ela cedeu alegremente, virando-se e ficando quase em cima dela, o joelho encaixado entre as coxas de Carina. Bishop era pura ternura, beijos molhados e dedos longos que acariciaram suas costelas de cima a baixo e desceram até suas nádegas, apertando-as com força. Carina sentiu o calor do seu peito através da camisa à medida que ela se pressionava contra os seus seios, assim como o sexo de Maya contra a sua coxa, e queria mais, mais... em cima, no meio, dentro dela... Ela recuou e pegou a mão de Carina, beijando-a.
 
– Venha para a cama. 

– Podemos fazer aqui. – Maya franziu a testa a princípio, mas logo voltou a sorrir e beijou-lhe o nariz.
 
– Nada disso. Quero você na minha cama. Além do mais, está frio aqui fora. Não quero que pegue uma pneumonia. – Carina pareceu um pouco desapontada. Maya se apressou em consolá-la: – Se ainda tiver vontade, podemos tentar de novo amanhã. Mas, hoje à noite, é melhor ficarmos entre quatro paredes. Encontro você lá dentro. Não precisa ter pressa. 

Maya lhe deu um beijo contido e ficou observando suas nádegas enquanto ela atravessava o terraço e entrava no quarto. A expectativa era insuportável. Nunca estivera tão excitada, tão pronta para abrir as pernas dela diante de si e possuí-la sem nenhuma inibição. Mas não se permitiria fazer isso. 

Não naquela noite. 

Como pôde ter achado excitante comer uma mulher que nem conhecia em um dos banheiros do Lobby? Como pôde ter acreditado que orgasmos sem nome e sem rosto poderiam saciá-la? Tinha passado toda a sua vida ajoelhada diante do altar de um Deus silencioso e ausente que prometia tudo, mas oferecia algo fugaz que sempre a deixava insatisfeita. Ela havia transitado pela luxúria disfarçada de Eros. Mas nada poderia estar mais longe da realidade. 

Que grande inutilidade! Nada faz sentido! 

Tudo tinha mudado desde o reencontro com Carina e, especialmente, desde que se apaixonara por ela. Ela a havia escancarado e tirado sua virgindade emocional, mas a fizera de forma muito paciente e gentil. Bishop não retribuiria de outra forma. Enquanto Maya refletia sobre as possíveis maneiras de venerá-la, Carina estava recostada na penteadeira do banheiro, tentando recuperar o fôlego. 

As preliminares sensuais de Maya eram o equivalente a um bombardeio de sedução. Não havia mais volta. Era impossível conter a tremenda e irresistível atração que sentiam uma pela outra. Ela se analisou no espelho, ajeitou o cabelo, retocou a maquiagem e escovou os dentes. 

Cheirosa e refrescada, procurou sua camisola ou seu roupão, mas então percebeu que, de tão atordoada pela paixão, havia entrado no banheiro errado. Sua lingerie estava no outro. Merda. Pensou Carina. Ela poderia tirar as roupas e se envolver em um dos roupões turcos pendurados atrás da porta. 

Mas aí não faria o menor sentido ter comprado lingerie. Poderia tentar ir às escondidas até o outro banheiro, mas para isso precisaria atravessar o quarto, e Maya certamente já teria saído do terraço àquela altura. Sem dúvida estaria recostada na cama, em toda a sua glória. 

Carina estremeceu de ansiedade só de pensar. Será que deveria tomar um banho antes ou simplesmente sair enrolada numa toalha? Será que deveria tirar a roupa toda e ficar só de calcinha? Enquanto seu cérebro ficava na dúvida quanto à melhor forma de fazer sua entrada, Maya arrumou o terraço e transferiu tudo o que havia ali para dentro. Dispôs as velas pelo quarto, reunindo várias delas ao lado da cama. 

Ajustou a música e pôs para tocar a lista que havia criado especialmente para aquela noite. Batizou a lista de "Fazendo Amor com Carina" e estava bastante orgulhosa dela. Posicionou alguns itens de uso pessoal no criado-mudo e apagou todas as luzes. Então esperou. E esperou. Mas ela não apareceu. Maya começou a ficar preocupada. Foi até o banheiro e encostou a orelha na porta. 

Não conseguia ouvir nada, nem mesmo o barulho de água corrente ou o roçar de seda. Seu coração subiu-lhe à garganta.

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