Capítulo 12: Família peculiar.

16 2 3
                                    

—Nos conhecemos há o que? Uma semana? E já vou conhecer sua família? Oh Hill. — digo ainda assimilando as informações no banco de carona enquanto Melina dirige.

Até tentei insistir para ela me deixar dirigir, pois iríamos para uma cidade mais afastada, mas ela se recusou, dizendo que era a casa dela, e eu era sua convidada, portanto não devo me incomodar. Não seria incômodo para mim, mas ela consegue ser bem persuasiva.

—Relaxa, ela é um doce, apesar de que nunca gostou das minhas amizades ou relacionamentos amorosos— firma mais a mão ao redor do volante.

—Por quê? — relaxo o corpo sob o assento.

—Não sei, muito protetora talvez?

—Talvez...— cruzo os braços no banco.

Eu poderia ter protestado e ficado em casa. Poderia estar agora sentada confortavelmente em meu sofá com uma taça de vinho na mão, mas aqui estou eu.

O carro em movimento e a brisa beijando meu rosto me leva para dentro dos meus pensamentos. Meus pais nunca foram de ter ciúmes das minhas amizades. Bem. Eu não tinha amigos. Mas eles nunca expressaram nada a respeito disso, nem alegria, nem tristeza. Uma vez ou outra meu pai dizia que seria bom eu me abrir com alguém, já que não conseguia— e ainda não consigo— me abrir com eles sobre tudo o que aconteceu comigo enquanto estava com o casal .

Foi em 1998, eu havia pouco mais que um ano de idade. Um casal aparentemente gentil e amoroso escolheu me adotar. Gerald e Lúcia. Eles haviam se comprometido em me amar e me proteger. Me fazer sentir que eu era a filha deles. Mas na realidade eles eram dois cientistas malucos que precisavam de um ser humano para testar as próprias descobertas científicas. Eu só me lembro dos pesadelos e dores que sentia. Eu era muito nova. Ideal para os experimentos deles já que meu corpo ainda era pequeno e frágil.

Alguns pais ensinam os filhos a falar nos primeiros anos, eles me ensinaram que o silêncio é a melhor resposta, e fazer perguntas é o caminho para uma cova. Já que apenas eles podiam fazer, eu como um belo rato de laboratório enumerada como "Experimento 001" até meus oito anos de idade, era melhor ficar quieta. Nem mesmo se preocuparam em me dar o sobrenome ou ao menos um nome real. Felizmente no orfanato ainda tinha todas as minhas informações e documentos com os nomes dos meus pais biológicos. Me deixando como legado um pai morto, e uma mãe também. Mas ao menos para eles eu era Guadalupe Sinclair.

Para o casal jovem de 16 anos, Júlia e Gustavo, eu era a pequena Guadalupe Sinclair. Para Lúcia e Gerald Zurberg eu fui a Experimento 001. E agora para a Dayane e o José eu sou Alessa Amaral.

Muitas famílias, assim como muitos nomes, não?

—Uma moeda por seus pensamentos. — a mulher dirigindo me tira dos meus devaneios.

—Hum?

—Me diga o que está pensando e lhe darei uma moeda de um real.— arqueio a sobrancelha.

—Minhas ideias valem bem mais que um real.

—É uma moeda de colecionador. Talvez você queira iniciar uma coleção. — dá um sorriso de soslaio.

—Estava só pensando em coisas banais, nada de importante. — o carro diminui a velocidade próxima se uma casa. Na verdade, está mais para uma mansão.

A parede na cor creme, com enormes pilantras e janelas adorna os três andares. Ela é devidamente ornamentada com flores e arbustos ao redor da residência, além do belo jardim devidamente amparado. É a típica mansão de novelas dos anos 2000.

—Está mentido— diz tirando o cinto.

—Não tem como saber, não me conhece— repito o gesto.

—Uma ruga surge entre suas sobrancelhas quando você mente— ela abre a própria porta saindo do carro.

Mrs. VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora