Capítulo 36: Desacordos.

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—Melina, tem uma coisa que eu gostaria de falar com você. —digo deixando os papéis sob a mesa.

Hoje é o primeiro dia dela como CFO, até agora ela está indo muito bem, ela é ótima com números, o que me revela que ela só não assume a presidência por realmente não gostar.

Ela está sentada na mesa próxima a minha e do armário de bebidas, a deixei analisar algumas finanças dos meses passados, já que esteve desatualizada durante esse tempo.

—O quê? —questiona sem tirar os olhos sobre a tela.

—O pequeno Augustes. Nas suas pesquisas... você achou onde ele está agora?

—Não, por quê? —levanta o olhar para mim semicerrando os olhos curiosa.

Como explicar que existe um risco de 99% de do garoto estar sofrendo nas mãos da mãe dela.

—William e Sara eram seus pais, agora ambos estão mortos. A criança foi para alguma instituição de adoção? Ou para algum familiar próximo?

—Na verdade não achei muita coisa sobre ele. Aparentemente William ganhou a guarda dele, mas o manteve fora da mídia e documento todos esses anos.

Sei o que isso significa, mas aparentemente ela ainda não entendeu.

—E registros escolares? —questiono sentindo meu estômago revirar.

Eu só fui para a escola quando voltei para o orfanato.

—Não achei... — diz assimilando as palavras, ela arregala os olhos pensando na probabilidade. —Você não acha que... —seu olhar baixa para a tela e começa a digitar freneticamente.

Eu não...

Sinto meus lábios secarem e meu estômago revirar em cogitar o que aquele pequeno garoto deve estar sofrendo nesse exato segundo.

—Temos que contatar a polícia. —digo me levantando.

—Não. —responde firme. Arqueio a sobrancelha.

—Não? Não vou deixar essa criança continuar sofrendo por causa dela.

—Nem que isso custe todo o caso? É arriscado...

Com certeza eu devo ter batido com a cabeça muito forte hoje. Ela está mesmo achando que eu vou deixar uma criança continuar sofrendo o que sofri por causa de um caso?!

—Alessa, não é isso. Você tem que pensar direito. —fala se levantando.

Eu quero entender ela, quero entender o lado dela, mas...

—Ele é só uma criança. —digo olhando-a incrédula sentindo meu olho começar a arder.

—Você está se projetando nele.

—Mas é claro que estou! Eu passei na pele! — acuso me aproximando vendo-a dar mais um passo em minha direção, ao invés de recuar.

—Alessa, vamos encontra-lo. Você não pode ir até a polícia. Eu encontrei uma coisa e acredito que posso estar certa. Se eu não puder provar o que eu achei, você irá até os policiais e conta tudo. Mas preciso que confie em mim. —ela leva as mãos segurando meu rosto entre as palmas.

Encaro seus olhos profundos que tentar me passar tranquilidade, mas recuo em protesto. Não posso. Eu sei o que ela está dizendo. Eu sei o que o caso significa. Mas só em pensar que agora ele está com as pequenas pernas e braços amarrados levando diversas agulhadas se remexendo de dor, é duramente agonizante.

—Eu só... preciso sair um pouco. — respondo retirando suas mãos de meu rosto.

Saio do escritório pela janela sem me importar com quem pode ver ou tirar foto. Eu não posso ficar lá.

Mrs. VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora