Capítulo 25: Hóspede.

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O detetive apenas queria dizer que minha querida mamãe será a nova delegada e não há nada que podemos fazer para mudar isso.

Incrível não é?

Sinceramente não sei o que ela quer fazendo aqui. Aparentemente não atrapalhou demais meu passado e a perda de posto não foi o suficiente. E agora ela volta para infernizar minha vida. Pois aliás! Ela está sem onde morar. Olha que beleza. E ela decidiu que vai ficar morando comigo até conseguir um lugar próprio.

Liguei para o meu pai e Elise para saber mais. Implorei para a pirralha que chamo de irmã vir me salvar. Mas ela prefere ser uma boa mãe postiça e melhor amiga. E meu pai ama muito o cargo no posto de bombeiro e se recusa a deixar o pavilhão para vir solucionar o que ela chama "crise de mãe e filha mimadas".

Mas agora o cenário mudou.

Se existe a possibilidade de ela ser o monstro assassino por trás disso tudo, preciso estar mais próxima dela.

Amigos próximos e inimigos mais próximos ainda. É assim que fala né?

Enquanto voltávamos para casa acompanhei Melina até a empresa. Fico feliz que ela finalmente vai ter uma casa para morar, mas confesso que fico um pouco triste por saber que ela não estará sempre a poucos metros de mim.

Um pouco egoísta eu sei.

Em seguida vou para casa, para ao menos ajeitar algumas coisas para a visita indesejada.

Meu apartamento tem três quartos felizmente. O meu, o da Elise e o terceiro. Que bom. Era para ter sido da futura criança que eu e Maya teríamos. No entanto, acabou se tornando um quarto de hóspedes.

Felizmente ou infelizmente, a perdi antes que realmente déssemos entrada em tudo, já que ela morreu um mês depois daquela conversa.

—Filhinha linda. —ouço a mais velha entrar no apartamento como se fosse a própria casa.

Ela só veio aqui uma única vez. No dia que demos uma festa por ter comprado esse lugar.

—Seu quarto é o terceiro à direita no corredor. —respondo pegando um whisky na prateleira.

—Faz tempo que não venho aqui, não vai me reapresentar o local?

—Acredito que sua curiosidade fará isso por mim. —respondo seca indo para o sofá com a garrada na mão.

—É sério? Vai virar a garrafa na boca, sentada no sofá ainda?

Olho para ela incrédula.

—A casa é minha. Tenho total direito de fazer o que eu quiser. —respondo séria pegando o controle.

—Você quem sabe filhinha. —a sinto se aproximar arrastando a bolsa de rodinhas. —E quanto a cientista?

—Não quero falar sobre isso com você. Pois aliás não tenho nada o que falar. —dou um gole na bebida que apesar de não me embebedar, ainda posso senti-la descer queimando na garganta. Na realidade faz mais é cócegas.

—Como não? Aquela garota é linda, e parece ser gentil e ter uma natureza feroz. Como você gosta. —ela se acomoda ao meu lado.

—Não vou falar com você sobre a Melina.

—Então vamos passar dias sem nos comunicar? Deixa de bobeira

—Pode ir embora se quiser. A saída é serventia da casa. — dou um sorriso falso recebendo um revirar de olhos.

—Sei que não quer minha opinião, mas darei mesmo assim. Sei que provavelmente está se contendo por causa dela. —diz baixando o tom. —Mas saiba que muitos não tem a sorte de achar o amor na vida. E aparentemente você foi sortuda de achar duas vezes.

—Não chamo perder minha esposa para um assassinato de sorte. —deixo a garrafa vazia em cima da mesa de centro e me direciono para o meu quarto abandonando a mais velha só.

Quem ela pensa que é para me dar conselhos? Ela me enganou! Mentiu para mim. Para quê? Não acharmos que na realidade a assassina é ela?

Não sei se é a privação de sono ou tudo que aconteceu hoje, mas não sei o quanto posso suportar sem jogar na cara dela todas as verdades.

Me deito e não consigo dormir. Droga.

Vou para minha cozinha à procura de algo para comer. Melina ficará feliz por eu comer, menos pela escolha do horário e refeição. Uma bela torta de chocolate.

Enquanto levo garfadas cheias de forma frenética para a boca, penso em algo para me distrair.

A mala de Dayanne está logo atrás do meu sofá.

Se está na minha casa, portanto tenho direito de mexer. Certo?

Deixo o prato em cima da mesa ao lado da garrafa vazia de horas atrás. E vou em busca do meu novo objetivo. Roupas e mais roupas são encontradas. Peças demais na realidade.

Alguns itens de higiene também estão presentes, e então um álbum de fotos.

Por que ela trouxe isso?

Passo as páginas a vendo segurar Elise pequena ainda no orfanato. Outras fotos da menina estão espalhadas. O dia que fomos pela primeira vez ao cinema. Nosso primeiro show. Primeira ida a um restaurante. E mais várias e várias primeiras vezes.

Chego ao final com uma foto minha e de Maya. No nosso casamento, em que ambas usávamos vestido. Eu com um modelo todo justo, e Maya de sereia com as barras bufantes. Estávamos felizes nesse dia. Era outono. As fotos ficaram incríveis com algumas folhas alaranjadas no fundo.

Faço menção de guardar o álbum, mas algo me chama a atenção. O papel parece descolado. Motivada por minha curiosidade e insônia, o puxo levemente, e aos poucos encontro no local uma foto.

Ou ao menos a metade de uma.

Nela vejo Dayanne mais nova, com a cabeça inclinada para a parte rasgada, onde devia ter mais pessoas. Ela era bem jovem, ainda com seus fios negros bem acentuados e longo, e os olhos azuis sempre intensos. Provavelmente universidade. Usando apenas uma blusa colada e saia plissada curta azul. Com um enorme sorriso no rosto ela encara a câmera. Ao seu lado esquerdo há um homem com os fios castanhos escuros, olhos azuis intensos, sem barba e mandíbula pouco marcada.

Wiliam...

Eles se conheciam... e provavelmente eram amigos, já que tem fotos juntos.

Pensar na possibilidade de ela ser uma assassina foi algo que passou pela minha cabeça, mas ter uma confirmação física dessa probabilidade... me faz sentir em pânico e enjoada ao mesmo tempo. Meu estômago se contorce enquanto minha visão começa a ficar turva. Já não sou capaz de ver todos os detalhes da foto. Passos se aproximando me faz virar o rosto para encarar quem quer que seja.

—Você deveria estar dormindo. —é tudo que diz.

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Mrs. VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora