Capítulo 28: Provocações e Vinhos.

8 2 0
                                    

Estamos os três sentados. Eu e Melina no sofá central em frente à TV, Scott inquieto batucando o pé no chão, a cabeça recostada no encosto de trás digerindo tudo que contei sobre o que descobrimos sobre o caso.

—Então você acha que ela é a líder de tudo isso? —questiona sem cessar o movimento da perna ansiosa.

—Acredito que essa é a resposta mais óbvia. —respondo. O observo arrumar a postura e se ajeitar no estofado.

—Mas porquê ela faria isso? Por que jogar anos de carreira no lixo? Sinceramente descobrir que você é a Mrs. Vênus. — diz o nome baixo como quem conta o segredo. —Foi como sentir minha cabeça explodir. Te conheço a anos e nunca vi fazer nada de extraordinário. —ergo a sobrancelha com tal comentário que mais parece uma ofensa. —Sem querer ofender é claro... —pigarreia limpando a garganta. —Tipo, você é uma ótima CFO, mas sabe sobre o que me refiro... diz escolhendo cuidadosamente as próximas palavras. Semicerro os olhos apenas o analisando e as respostas. Talvez seja engraçado vê-lo se explicar de nervoso—Você cuida muito bem daquela empresa. ademais é uma ótima pessoa e...— ele desvia o olhar para a loira. — Não que você como dona não seja ótima também, você como dona é ótima cientista. — isso está se embolando muito mais que o necessário. Poderia passar horas o vendo se atrapalhar e manter a minha feição séria para amedrontá-lo, mas uma figura feminina aparece na sala colocando a mão sob ombro do homem como se pedisse para que ele cessasse as explicações.

—Perdoe a cabeça oca do meu marido. Ele não confessa, mas sempre morreu de medo de você. —comenta brincalhona revirando os olhos indo até a poltrona do outro lado, na mais próxima a mim.

A senhora Alcântara-Jones sempre foi uma mulher deslumbrante e boa nas palavras. A dona de uma silhueta escultural, pele preta sempre hidratada, fios longos cacheados castanhos volumosos— que nem quero pensar no trabalho que deve ser cuidar dele sendo tão longo, se a Elise com ele menor já sofre tanto. O olhar penetrante da íris castanho escuro alterna entre mim e Melina como quem quisesse manter a atenção de ambas em si. Ela se senta cruzando as pernas da forma mais elegante e delicada possível, deixando as pernas coberta pelo vestido vermelho longo e justo. Ela sempre está vestida da maneira mais elegante possível para qualquer ser humano dentro da própria casa.

—Estou acostumada com a falta de QI dele. —respondo no mesmo tom o vendo revirar os olhos. A cacheada olha para Melina de cima à baixo, alguns veem esse gesto como algo para demonstrar desprezo, outros como admiração. Mas independente do que ela queria transmitir, eu não gostei.

—E você é?... —questiona deixando a voz mais mansa e rouca possível.

—Melina, muito prazer. —responde gentil.

—Melina. É um prazer te conhecer e recebê-la na minha casa. Me chamo Luíza Alcântara-Jones. —se apresenta e volta a me fitar. —Acredito que agora não tenho mais chances de ouvir um sim para minha oferta. —responde encostando os braços sob o material macio do lado.

Olho para Scott e é como se ele pedisse para que alienígenas o sequestrassem agora e apagasse tudo isso de sua mente.

Respondo com um sorriso gentil e balanço levemente a cabeça.

—Mas uma mulher pode ter seus desejos. — diz provocante e por um pequeno deslize, foco minha atenção nos batimentos acelerados da loira.

—Se um Deus existe, que ele me mate agora. —o homem diz frustrado, mas acostumado com as brincadeiras da própria esposa.

Eles aparentemente vivem uma boa relação, apesar dos comentários ousados da mulher, eles sempre são vistos juntos e carinhosos um com o outro e eu ao menos nunca soube que houve traição de algum dos lados. Acredito que ela faz isso tanto para satisfazer um próprio lado que gosta de um pouco de caos, quanto para ver o marido ansioso e estressado.

—Deixe Deus em paz querido, ele tem mais o que fazer.

—Bem... —interrompo a interação. —Melina é minha amiga e estamos trabalhando juntas em um caso. —explico sentindo o olhar curioso da senhora à frente. —E soubemos sob a demissão do seu esposo, mas ainda o queremos trabalhando conosco. E cá estamos nós.

—Aquela víbora mal se arrastou para a delegacia e já acredita ser a dona de todo local. —diz com desprezo. —Sei que é sua mãe, mas isso não a torna menos pior.

—Eu a conheço e sei disso. No final de tudo isso ele terá o cargo de volta, pois nunca devia ter saído. Mas agora precisamos da ajuda dele com isso.

—E como eu posso ajuda-las? —volta a alternar o olhar entre mim e a mulher ao meu lado.

—Tem vinho? —Melina questiona me causando uma súbita surpresa pelo pedido, me fazendo fita-la instantaneamente. —O quê? —pergunta me olhando. —Não quero estar sóbria quando descobrir tudo que está envolvido nisso.

Rio involuntário com a resposta. Não a nada de engraçado, mas sinceramente eu faria o mesmo. Entretanto ela me entupiu de comida para que eu não caia desmaiada e morta por aí. E eu tive que aceitar para não ouvir como sou extremamente irresponsável.

Em resumo, não há possibilidades de que eu consiga ficar bêbada agora devido meu metabolismo.

Vamos para o escritório privado do detetive, deixando Luíza na sala, pois sabe que quando o assunto é trabalho, confidencialidade é essencial. E mesmo ela sendo confiável, não possui autorização legal.

—Acredito que o buraco seja bem mais embaixo. Se ela te adotou em troca de dinheiro, que inclusive foi pago por uma instituição agora morta, mas que mesmo assim a deu dinheiro durante vários anos. E ela foi quem organizou diversos assassinatos. Algum motivo ela tem por trás disso tudo. —enumera digitando algo que não faço questão de prestar a atenção.

—Ela é louca. Parece um bom motivo para mim. —cruzo os braços sentada vendo Melina inquieta com um copo de vinho na mão. A cada gole ela faz uma careta, revelando que ela não é tão acostumada quanto parece. Ou apenas não é tão fino quanto o da própria mãe.

—Você disse que ela era jovem na foto. Estava na faculdade provavelmente. Que eu saiba ela fez duas, medicina e de direito. Faz alguma ideia de qual das duas é a foto?

—Acho que é a de medicina, ela parecia bem nova.

—Sabe o nome da faculdade?

—Universidade de Pavia na Itália. —respondo e vejo Melina parar como uma estátua em minha frente encarando o belo nada. —Cansou de tentar furar o chão? —brinco, mas não ouço risada. —Tudo bem?

—Hum... sim... só que... —parece nervosa tentando raciocinar. —Essa não é a mesma que a Fernanda Culler frequenta? —questiona enquanto ouço os batimentos acelerados em conflito.

—Tem razão. —o detetive para de digitar. —Então vamos para lá.

—O que?! Não! —a mulher grita me fazendo franzir o cenho. O que deu nela?

—Não? Por quê? —pergunto me inclinando para frente.

—Do que isso iria adiantar? O que uma faculdade teria a ver com isso? —ela está explicitamente nervosa.

—Fernanda aparentemente também estava desvendando o caso. William e Dayane podem ter feito algo naquela época e talvez Fernanda tenha ido para lá em busca de respostas. É a única coisa que temos de concreto.

A mulher começa a roer as unhas pensando nessa possibilidade.

—Está bem. Só... —suspira deixando a taça em cima da mesa.— Nada.

—Tudo bem? —questiono e ela me responde balançando a cabeça positivamente.

—Ótima. Só... vamos logo né...

Ok, tem algo de errado nisso.

》》》》》🌀《《《《《

Mrs. VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora