Capítulo 35: Reencontro.

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Avisei Melina sobre a garota e decidimos vir juntas para o hospital. Adentramos o saguão e nos orientamos, ela está no mesmo hospital que anteriormente Ethan, que agora sei o nome, esteve.

Agora que estou menos apavorada, consigo ver como o ambiente é confortável e limpo. Pouca movimentação, mas não porque tem poucos clientes, mas devido ao tamanho que faz parecer que as pessoas são apenas pequenas formigas dentro de uma mansão. As paredes com tons claros de azul e branco serpenteiam os cômodos.

Subimos para o segundo andar, indo até a ala em que a garota está.

Ela está sentada no colchão, observando o jardim através da janela aberta. Parece em paz, mas algo em mim diz que é só o exterior mesmo, provavelmente sua cabeça borbulha de pensamentos e traumas. Perdeu a tia, não sabe sobre o primo, passou anos dentro do sistema de adoção, até sair e entrar numa faculdade— e com louvor devo ressaltar, já que entrou quando havia acabado de terminar a segunda série do médio.

Mas o que vale de tudo isso, se ela foi em uma busca suicida de respostas e acabou acorrentada e cheia de cortes profundos? Que acredito que muitos teriam morrido durante todos aqueles infernais mais de um mês.

—O que você sabem? —pergunta sem olhar para a porta.

Melina me lança um olhar furtivo antes de se aproximar. Fecho a porta atrás de nós e repito seus passos.

—Seu agressor não é mais um problema. —respondo me aproximando da cama.

—Não estou falando disso. O que vocês sabem?

Franzo o cenho sem saber ao certo ao que ela se refere.

—Encontramos sua investigação na Universidade de Pavia. Como conseguiu abrir?

Aí está algo que eu fiquei em dúvida, o que foi que a Melina fez para abrir aquele local?!

—Sou inteligente. —responde migrando o olhar para a loira mais velha, mas ela não parece estar satisfeita com a resposta. —Eu tinha achado em alguns diários da minha tia sobre onde eram feitas as reuniões. — dá de ombros e ergue um leve sorriso. —Eu sabia que estava lá, só precisei procurar, usei uma luz negra e achei rastros de fósforo. Fiz alguns experimentos e descobri que o havia algo lacrado com uma substância que de início não sabia o que era. Precisei apenas de alguns componentes a mais além do fósforo e consegui fazer um produto que dissolvesse todo e qualquer material que tiver sido utilizado. Então descobri que era cianoacrilato com mais alguns elementos. —abre um sorriso de canto. —Foi fácil.

—Parece mesmo. —Melina responde fitando a mais nova.

As duas parecem ter entrado numa disputa de olhares em que nenhuma das duas ousa desviar ou piscar.

Estou ficando louca ou é uma disputa de ego para saber quem é mais inteligente?

Pois eu até diria que eu venço, mas seria mentira, pois com toda certeza Melina é extremamente e incrivelmente inteligente.

A descoberta dela sobre o pai é completamente coisa de gênio. A forma em que ela conectou todos os fatos e conseguiu elaborar uma linha do tempo fiel e sem furos é realmente esplêndido e ela fez isso durante as poucas semanas que não a vi. Não existe palavra para expressar o tanto que eu a admiro e não só por isso, mas por tudo. Até a Queen é a prova de como ela é inteligente.

Sim, me falta adjetivos e sinônimos para lhe expressar.

—Eu preciso contar mais uma coisa... —a mais volta a falar.

—Fernanda.

A voz imponente da matriarca ecoa no ambiente, fazendo ambas loiras arrepiarem e paralisarem.

Chloe está aqui.

—Poderia me deixar a sós com ela? —questiona alternando o olhar entre mim e a filha. Eu queria dizer que não. Queria ficar aqui e impedi-la. Mas não posso, não sem nos delatar.

—É claro. —respondo indo até Melina para voltar ao corredor.

Ficamos em frente a porta paradas. Porém não conseguimos ouvir nada. Nem mesmo com minha super audição, ela com certeza previu o que eu faria e usou algum dispositivo para cercar o ambiente de chumbo.

—Que droga! —resmungo caminhando até a sala de espera.

—Como ela soube?

—Não sei, mas o Scott sabe, provavelmente o departamento da polícia também. Devo agradecer a minha querida mamãe.

—Falando no diabo...

Lá está Dayane. Com o sorriso mais cínico e falso existente conversando com a enfermeira. Queria agora mesmo pular na garganta dela e força-la a confessar completamente tudo.

—Alessa? Não sabia que vinha.

—Eu digo o mesmo. —respondo me aproximando da mais velha.

—O que faz aqui?

—Eu a salvei, acredito que mereço saber se a está bem, ao contrário de você que chegou tarde apenas para receber os créditos. —cruzo os braços por baixo dos seios.

—Não dê outro showzinho aqui.

—Não irei. Vamos Melina? —questiono vendo a mais nova ao meu lado.

Ela acena e caminhamos até o refeitório. Um pouco de comida irá me ajudar a distrair.

Ficamos lá apenas comendo sem nenhum tipo de conversa. Confesso que toda essa nossa distância estranha está me corroendo por dentro.

—Acha que sou maluca? Por ter feito aquilo? Eu precisava saber... —diz brincando com o canudo no copo sem me olhar nos olhos.

Então é nisso que ela está pensando?

—O quê? Claro que não! Confesso que no início fiquei um pouco surpresa por ver aquilo tudo, mas depois apenas uma enorme sensação de orgulho me tomou. O que você fez, juntando todas as peças como se fosse um quebra-cabeça de criança é incrível. Foi muito inteligente e sagaz, me perdoe se não deixei isso transparecer. Ainda estou om uma enorme admiração por você.

Ela ergue o olhar para mim com um sorriso contagiante e feliz e o olhar com um brilho que fazia dias que eu não via.

Como ela pôde acreditar que desvendar um caso de anos em semanas é loucura? É tudo menos isso.

—Acredita que estou certa? Viu algum furo?

—Não. Quando eu vi pareceu que uma luz enorme ascendeu em minha cabeça ao ver tudo tão exposto.

—Me desculpe fazê-la relembrar sobre sua esposa... — diz entre dentes.

—Está tudo bem, já consegui lidar com isso. Ela foi importante durante uma parte da minha vida e acredito que em memória disso eu devo continuar minha vida. Já me resolvi com a perda dela. Estou bem.

Ela fica alguns segundos me observando, passando o olhar em meus olhos, sobrancelha, bochecha, lábios— onde demora um pouco mais do que nos outros— e volta para os meus olhos.

—Você não está com uma ruga no cenho. —rio levemente com o comentário.

—É porque é a verdade.

Aproximo minha mãe sob a mesa até a dela. Tocando suavemente com a ponta dos dedos as costas de sua mão delicada e firme. Ela acompanha o toque com o olhar. Como Hill pôde me agraciar com tanta fortuna em uma única só vida? A oportunidade de conhecer pessoas tão maravilhosas é realmente uma dádiva.

Sou removida das divagações ao ouvir um diálogo afastado.

"É tão bom te reencontrar" a voz da minha mãe confessa.

"Eu sonhei com isso durante muito tempo" Chloe responde apertando a outra em um abraço firme e sincero.

Essa era a prova que eu precisava.

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Mrs. VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora