Capítulo 10: Verdades.

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As horas passam e logo chego novamente ao prédio que passei a noite. É domingo, então tem poucos funcionários. Muitos podem ter curiosidade de o porquê a CFO estar usando o elevador privado, mas eles não me barram.

Adentro o andar mais uma vez, e não a encontro trabalhando. No entanto, já conheço aqui, minha boa memória me auxilia a procurá-la pela casa. Ou como quer que ela chame isso, já que é basicamente um porão dividido por corredores, e nem mesmo sala de estar tem. Ou eu só não a vi.

A procuro no quarto em que dormi, e no outro de hóspedes, e então a encontro no escritório. Ambiente antes não conhecido por mim, mas fica próximo ao quarto.

Ela está sentada atrás de uma mesa de madeira escura. Seus olhos fixos em um documento à sua frente, seus fios soltos jogados para trás, óculos no rosto e em seu inconfundível jaleco branco.

—Melina— chamo sua atenção a vendo analisar alguns papéis na mesa.

A mais nova direciona o olhar para mim com curiosidade.

—Olá! Não sabia que a veria hoje de novo. — diz com a voz animada e doce de sempre, com o sotaque que agora acredito ser italiano. Por causa do sobrenome e as palavras que já ouvi pronunciar que eu não conheço.

—Fui visitar minha irmã— respondo tentando manter a voz neutra. Caminho até um sofá que fica entre duas prateleiras de livros.

—Nossa. Como foi? — questiona deixando os papéis de lado.

—Esclarecedor— me sento no sofá a fitando

—Que bom, como ela est... — a interrompo.

—Quando e onde vocês se conheceram? — sou direta e um tanto fria. A vejo engolir em seco e se levantar da cadeira.

—Não sei se sou eu quem deveria te contar— tenta dar um sorriso, mas fica bem forçado.

—Por quê? — ela parece pensar um pouco, mas logo volta a falar.

—É só que...— começa a gesticular, mas se senta na poltrona próximo a mim como se estivesse tentando esvaziar um problema da cabeça— Foi dois anos atrás, em 2021. Estávamos no mesmo evento e conversamos um pouco. Coisa atoa e banal. Mas a achei uma menina bem... peculiar... e mantivemos contato. Passamos uns bons meses que não nos falávamos, mas voltei a contatá-la há uns dois ou três meses atrás.

—Se estavam afastadas, por que voltaram a se falar? — apoio os cotovelos em minhas coxas e entrelaço meus dedos.

—Eu precisava de uma ajuda, e ela aceitou em ajudar— dá de ombros— Aí então ela cobrou esse favor, com o seu traje.

—E essa ajuda consistia em colocar a própria vida em risco para salvar uma desconhecida de três assassinos? — questiono fria.

A postura da loira fica ereta, e sua boca forma uma linha.

—Não era minha intenção, eu não sabia.

—Não sabia? Então por que precisava de alguém para protegê-la? Ser o colete humano suponho.

—Alessa, me deixa explicar, por favor— diz gesticulando e se levantando.

—Ande! — arregalo os olhos por reflexo— Explique-se! — não elevo o tom, mas deixo transparente meus sentimentos de mágoa e raiva.

Ela suspira, parece cansada. Exausta. Mas eu também estou. Cansada e exausta de tudo. De mentiras, segredos e traições.

—Afonso Ceccini. Foi um péssimo homem, mas ótimo pai. Comprava doces e levava para a filha, levava rosas para a esposa toda vez que voltava para casa e nunca levantou a mão para elas. — ela olha para o chão. — Mas dentro das paredes da própria empresa ele era um monstro inescrupuloso, usando todo dinheiro e tecnologia para criar armas bélicas, e além disso...— se levanta— Criar as melhores formas de dominação de mente sobre o corpo. Formas de manipulação em massa e... e o que pudesse ser feito para ele ser um homem poderoso— suspira e continua caminhando até mim— Até que ele morreu, e sua esposa desolada achou carinho e amor nos braços de Patrício Johnson. Eu achava que ele era bom, gentil, mas com os anos se revelou uma pessoa agressiva e nada confiável. Ele teve duas filhas, mas só uma está viva, ao descobrir a gravidez da única filha a colocou para fora de casa. Só que ela já estava no sétimo mês, e eu não vivo de uma forma muito comum... Para cuidar de uma grávida. Então a aconselhei para ir para uma cidade vizinha onde teria alguém para ajudá-la a ter o bebê e dar para adoção. Estava tudo dando certo, mas... na semana do parto ela decidiu ficar com o bebê. E o pai da garota nada feliz mandou atacarem ela. — a vejo se agachar na minha frente e segurar nas minhas mãos.

— Preciso que confie em mim e no que eu digo— continua— Eu não sabia que ele ia atacar, descobri depois do que aconteceu quando ela me ligou e contou tudo que aconteceu. Minha reação foi ir até ele e confrontá-lo, e isso só me resultou em um tapa no rosto— ri sem graça— Me desculpa, se eu soubesse que ele iria atacá-las nunca que pediria para Elise cuidar dela. Eu mesma a colocaria num banker cercada por dezenas de seguranças particulares. —sinto uma lágrima escorrer em minha bochecha— Nunca foi minha intenção magoá-la— sinto sua mão esquerda se desvencilhar da minha e limpar o resquício de lágrima em minha bochecha—Sinceramente achei que sua irmã é quem deveria te contar sobre isso tudo. Mas eu não queria esconder nada de você.

Silêncio. É tudo o que lhe ofereço.

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Mrs. VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora