Ajeito minha camisa social branca para dentro da calça social preta. Prancho meu cabelo para que fique liso e escorrido sob minhas costas. Coloco um salto alto branco para combinar com minha parte de cima. Prendo em meu pulso, o relógio de ouro rose e em meus dedos alguns anéis. Observo minha figura no espelho, mais específico o colar em meu pescoço, o pingente de tulipa.
Eu passei todos esses anos usando-o, seja para me confortar ou me martirizar. Mas sinto que após tudo isso é hora de deixa-lo ir. É hora de eu seguir em frente.
Com cuidado destravo o a trava atrás, e o guardo em meu porta joias.
—Obrigada... —sussurro.
Estou no horário para a ir. Decidimos deixar para o outro dia a viagem, pois já estava entardecendo e provavelmente não nos deixariam entrar. E mesmo se deixassem também precisamos de descanso. Partimos pela madrugada para chegar em um bom horário.
Mas agora nós três estamos no avião em direção à Pavia. O detetive quis ir de econômica, Melina até se ofereceu para pagar, mas ele não quis. Eu não ofereci, pois dinheiro é sagrado.
Com poltronas únicas e individuais eu e Melina vamos cada uma em cada lado, ela na da esquerda e eu na da direita. Tentei me comunicar com ela sobre aquele leve surto na casa dos Alcântara-Jones, mas ela não quis falar sobre. Então resolvi aceitar o silêncio como algo sensível e que ela prefere não comentar.
Perguntei se ela queria ir mesmo nessa viagem, ela ficou pensativa com a pergunta, mas aceitou vir.
Pousamos e recolhemos nossas malas rumo ao hotel que escolhemos. Arnaboldi Palade. E dessa vez o detetive não conseguiu fugir da generosidade de Melina. O local é extremamente luxuoso, com um ambiente encantador e tranquilo, além disso, ele fica a uma curta distância de todos os melhores locais da cidade, como lojas e restaurantes.
Tudo é muito lindo e único, com verdadeiras obras autênticas nas paredes e móveis que mais parecem ter saído do catálogo mais caro de uma revista. Um luxo que está acima de muita coisa que já vi por aí. Simplesmente esplêndido.
—Buongiorno, a chi è intitolata la prenotazione? —a atendente pergunta algo.
Minhas aulas de italiano estão avançadas, mas não tanto. De tudo isso só entendi o "Bom dia" e suspeito que sei, pois vi numa série italiana.
—Le stanze sono due e sono intestate a Melina Ceccini-Duarte. —o sotaque exageradamente sexy ecoa sob cada palavra dita.
Espera. Algumas palavras eu entendi sim.
Me aproximo da mulher e digo próximo apenas para que ela ouça. Não que o restante entenda minha língua.
—Acredito que ou nossas aulas foram inúteis, ou estou desenvolvendo problema de audição. Mas você acabou de dizer dois quartos?
A loira sem mover nem mesmo um músculo responde mansa.
—As aulas foram úteis si, já que você entendeu bem o que eu disse. —responde com um sorriso de lado e os olhos fixos aos meus.
—Mas somos em três.
—Exatamente. Ele em um e nós em outro.
—O quê?! —questiono com a voz mais estridente do que realmente queria, trilho meus passos para mais a frente, para poder encará-la.
—Já dormimos juntas antes, qual é o problema? —minha visão traiçoeira é capaz de ver uma leve diversão na expressão da mulher.
Corrigindo. Já deitamos na mesma cama antes. Ela dormiu, e eu fiquei acordada a cada segundo pensando em coisas nada próprias sobre duas amigas, enquanto ela relaxava como uma verdadeira bela adormecida.

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Mrs. Vênus
Ciencia FicciónAlessa Amaral, CFO da empresa de tecnologia Ceccini Company aos 26 anos, terá que enfrentar as consequências pela exposição dos próprios dons, que vem acompanhado com a volta de um serial killer que manchou seu passado. Movida pela vingança, entre...