Capítulo 11: Roupão.

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—Não minta para mim, e não me esconda coisas que envolve minha família— respondo fitando seus olhos claros.

—Me perdoa? — retrai os lábios de lado. Rio um pouco com a cena.

—Vou pensar no seu caso. — a sinto dar uma leve tapinha no meu braço— Está bem, está bem— rio um pouco.

—Já almoçou? Te vi desmaiada e não quero que isso repita— diz se levantando e me puxando pela mão unida à minha.

—Ainda não— minha frase finaliza com o meu celular tocando. Vejo aquele nome conhecido piscando na tela "Detetive Scott Jones" — Um momento— digo e a sinto se afastar com um aceno na cabeça saindo da sala e fechando a porta. —Novas informações? — questiono já só no ambiente.

—Afonso Sanchez foi encontrado morto essa manhã— a voz do detetive diz séria.

—O que?! Como assim? Ele não era nosso único suspeito?

—Sim, estávamos investigando as ações corruptas dele, e hoje íamos interrogá-lo. Mas ele foi encontrado morto em cima da própria cama.

—Ele morreu de que?

—Foi sufocado, mas o assassino usou luvas para fazer isso. Não achamos nada ainda que nos leve e saber quem fez isso ou o porquê.

Permito meu corpo escorrer pelo sofá de couro e minha cabeça tombar para trás buscando descanso.

—O que nós vamos fazer agora?

—"Nós" não vamos fazer nada. Mas eu vou continuar investigando, se tiver alguma informação irrelevante para você, eu te informo.

—Não me deixa de fora do caso— digo em um tom ríspido.

—Tchau Alessa, e não se meta em encrenca.

—Não prometo nada— esboço um sorriso de canto e desligo a chamada.

Estou sozinha no escritório. Apenas eu e meus pensamentos. Recostada no couro do sofá onde me permito alguns segundos de paz.

A verdade é que... o que eu estou fazendo? Sofri tanto e perdi tanto. Depois achei uma família que cuidou de mim, e eu cuidei dela. E então achei o lar em uma pessoa, que foi tomada de mim, ficando sozinha novamente. As vezes acredito que estou aqui fazendo nada. Todos os dias sigo minha rotina monótona de ir trabalhar e voltar para casa. As vezes minha irmã me liga ou eu ligo para ela, mas... eu queria mais... não sei o que. Mais poder? Mais dinheiro? Mais vida?

Expiro todos meus devaneios e me levanto, já sentindo os efeitos de passar tantas horas sem me alimentar. Confiro em meu relógio de pulso e já são 14:43. Minha última refeição foi realizada as 08. Merda. Tenho que sempre levar um lanche comigo, antes minha rotina estava feita, e perfeita o bastante para me manter viva, mas agora... talvez eu tenha que fazer outra.

Caminho em direção à porta fechada. Abro-a e percorro o corredor até a cozinha, onde encontro Melina encostada na bancada vendo algo, enquanto o forno ao seu lado trabalha a todo vapor. Ou a toda energia.

Ela parece concentrada, e noto agora que é a primeira vez que a vejo usar um celular.

—Vai entrar ou ficar aí me observando? — questiona com um tom sarcástico sem tirar a visão da tela.

—Não queria despertá-la de seja lá o que esteja fazendo. — respondo indo ao balcão próximo dela.

—Notei sua chegada no momento que apareceu por aquela porta. — ela levanta o olhar para mim— Tenho uma ótima visão panorâmica— diz feliz se aproximando do outro lado do balcão.

Mrs. VênusOnde histórias criam vida. Descubra agora