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CAPÍTULO 02

      ☩ ☨ ☦ ✙ ✚ ✛ ✜ ✝ ✞ ✠

31 DE DEZEMBRO.

Tocar piano sempre foi minha grande paixão, desde menino, comecei aprendendo com meu avô que, mesmo sendo parcialmente surdo, tinha uma memória auditiva impressionante, ainda me recordava das batidas dos seus dedos longos e finos sobre os meus.
Minha família era uma das mais antigas na Comunidade Cristã de Vail e, fazer parte dos grupos de louvor, coral e serestas era uma regra.

Cresci ouvindo meu mamã dizer que eu tinha um dom e que deveria me entregar, o que eu fazia de corpo e alma. A música me tocava como se fosse uma mão acariciando minha alma e, às vezes, quando estava só, me permitia tocar melodias que aqueciam meu corpo.

No entanto, naquela última noite do ano, tocava canções natalinas e fazia todos sorrirem e baterem palmas animados.

Meus sogros, Luo e Rouhan , estavam sentados a minha direita, junto com sua filha,Qing, e seu marido, Zhen. Os gêmeos deveriam estar jogando videogame na sala de TV.
Fechei meus olhos, apreciando os últimos acordes, a voz de barítono de Chao, meu esposo, se juntou ao coro, então eu sorri.

Ele tinha se ausentado por boa parte da noite, resolvendo problemas do trabalho, um dos motivos pelo qual voltamos a discutir nos últimos tempos.
Ele é advogado e trabalha no maior hospital da cidade, tem trinta anos, é bonito  mas também um temperamento difícil de se domar quando contrariado, porém quando se junta a mim no piano, me esqueço de tudo, aqui nós nos completamos.

—Bravo! — Meu sogro aplaude.

— Eles são maravilhosos! — mamã completou quando as últimas notas saíram do piano de calda longa.

Wei Changze era um charmoso ômega senhor, com seus sessenta e cinco anos e mamã de dois filhos, eu, que acabara de fazer vinte e cinco anos, e YuChi, com trinta e cinco, sentado do outro lado da sala com seu esposo, Yizhou.
Eu e mamã tínhamos os mesmos olhos cinzas. Meu irmão era mais alto, com olhos verdes, e puxou o papai na altura, tendo um corpo volumoso e rígido.

— Obrigada, mamã, aonde está Yanli? — perguntei, tomando um gole de água da taça que estava em uma bandeja na mesa lateral ao piano.

— Está com Matilde, mas já é hora de voltar para o mamã dela.
Seus olhos foram direto para os meus.
Estive tão focado na música que não me atentei para a gira da mamadeira dela.

Não por mim, claro, mas por Wen Chao, meu esposo.

— Vou me encontrar com elas — sorri e, discretamente, olhei para baixo, quase suspirando de alívio.

— Ainda não, amor, quero ter você por mais tempo essa noite.Chao se inclinou, segurando meu queixo para depositar um beijo casto.

— Eles são românticos demais.

— Minha sogra corou com uma risadinha e meu sogro nem sequer piscou.
Não me importava com a opinião de ninguém, mas ficava inseguro quando eles estavam por perto, com a sensação de estar sendo julgado a todo momento, como se não fosse bom o suficiente para ser esposo de seu filho alfa mais velho.

— Podemos ficar mais um tempo, mas logo… — não terminei a frase, seus olhos estreitaram e sei que acabaríamos discutindo.

Namoramos por três anos antes de nos casarmos, eram dez anos de relacionamento e, mesmo que eu tivesse uma aparência frágil, meu temperamento sempre fora explosivo, mas aprendi ao longo dos anos que, para conviver com meu esposo, o homem que eu amava, teria que ceder.
Nem sempre era fácil, às vezes me sentia anulado como ômega, mas casamentos deveriam ser assim, certo?
Dar ao outro o suporte e encorajamento, para que pudéssemos crescer juntos, às vezes suportar algumas coisas?

Dr.Gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora