07

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CAPÍTULO 07

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28 DE FEVEREIRO

O som suave saiu dos acordes solados no piano e fizeram Yanli  sorrir, mas nem de longe era a perfeição que gostaria de tocar em seu mêsversário, porém era tudo o que eu conseguia fazer com a mão direita, já que, pela terceira vez, Chao  tinha machucado meu pulso esquerdo.

Eu não conseguia sequer segurar um copo.
Buuu, buuu.
— Ah, minha gatinha fofinha, quer cantar com o mamã?

Os gritinhos excitados de Yanli  me atraíram e, com um pouco mais de esforço, aplumei meu corpo, sentado diante do piano e cantando uma melodia inventada para comemorarmos mais um mês de sua vida!
Parabéns para minha filhinha,
por ser uma estrelinha,
que brilha linda,
linda em seu grande dia…

Finalizei a canção e puxei o carrinho em que ela estava em minha direção, Yanli  tinha crescido muito nas últimas semanas.
Me inclinei para beijá-la e, sem querer, esbarrei o pulso na haste lateral do assento, precisei me esforçar muito para não soltar um grito de dor e algumas blasfêmias.

Faziam exatamente duas semanas que estava vivendo o pior momento da minha vida, me sentindo acuado e com medo de respirar ao seu lado, e sendo vigiado a todo instante pela nova babá que ele contratou, esperando que eu entrasse em contato com minha família para fazer algo pior, talvez.
As contusões em meu rosto estavam bem mais suaves, porém em meu corpo a coisa era diferente, meu agressor parecia ter tomado a consciência
de que, se o rosto estivesse bem, ele poderia fingir na manhã seguinte que nada tinha acontecido durante a noite.

— Filho da p… — mordendo o lábio, me forcei a engolir um xingamento.

Buuu, aaah…
— Querida… — murmurei, brincando com o móbile no carrinho para distrair Yanli .
Eu poderia ser mais  fraco e estar sendo vigiado, mas em algum momento conseguiria me livrar de Chao , nem que fosse fazendo um escândalo.
Semanas atrás eu poderia ter perdoado as ofensas e sua falta de carinho com nossa menina, talvez tivesse culpado seu medo em ser pai, as responsabilidades, o trabalho dele, mas agora não tinha perdão.

— Deus, preciso de um milagre!  Respirando fundo, me ergui e acariciei a face da minha filha, mesmo que minha mãe e meu irmão ficassem contra mim, precisava sair daquela situação.

Há três anos, eu dava aula de música para crianças na comunidade, era voluntariado, mas tinha um convite em aberto para lecionar na academia de música de Vail, poderia não ser um grande salário, mas seria o suficiente para me manter, junto com a parte da herança que recebi após a morte de papai.
Não era muito, mas tinha sido aplicada em algum fundo financeiro e, da última vez que vi os extratos, tinha rendido uma boa quantia.
— Só existe um problema — Buscando o celular no bolso do casaco, destravei a tela para visualizar minha conta bancária —, como vou transferir o dinheiro da conta-conjunta sem que Chao perceba?
Pensativo, me ergui do banco para empurrar o carrinho de Yanli  até a janela e ficarmos um pouquinho mais ali, aproveitando o raro sol de inverno que apareceu naquela manhã, enquanto a tal babá estava no andar de cima, cuidando do quarto e das roupinhas da bebê.
Com meu celular em mãos, conferi minha nova conta, não tinha muito, era um pouco mais de mil dólares. Comecei a guardar após ler um livro aonde a personagem acabou divorciada, com dois filhos, na rua e sem lugar para morar, a sorte dela foi conhecer um advogado, mas isso só acontece em livros, esse tipo de coisa não acontece realmente

— Se isso um dia acontecer comigo, para onde vou e o que farei?

Jamais imaginei passar por essa situação após me casar e doar tanto de mim nessa relação, eu queria viver aquele amor eternamente, mas agora me sinto tão estúpido por ter colocado todos os meus ganhos junto com os do meu marido.
Não que seja errado dividir tudo, incluindo as responsabilidades financeiras e os ganhos, mas na minha situação atual não tenho dinheiro nem mesmo para alugar uma casa.
— Como fui estúpido!

Dr.Gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora