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CAPÍTULO 11

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O tempo era tanto catalizador para a dor, como também para curar nossas feridas, as visíveis e as que escondemos sob sorrisos que não alcançam a alma. 

Naqueles três meses, me senti assustado, com medo do futuro incerto, mas confiante de que o tempo seria a resposta para todas as minhas dores, talvez aquela oportunidade que tinha acabado de surgir fosse uma resposta. 

Encerrei a ligação com Ella e agradeci a professora que tinha cuidado de Yanli naquela tarde. Sem perder tempo, corri em direção ao meu SUV estacionado no pátio da creche, onde consegui um trabalho de meio-período como ajudante na cozinha três vezes na semana. 

— Vamos para casa, meu amor? — Feliz, destravei a porta do carro e coloquei minha filha na cadeirinha. 

Yanli tinha crescido muito nos últimos três meses e parecia não ter sentido a mudança radical que nossas vidas tiveram, mas seria mentira se negasse o quanto temia prejudicá-la com as decisões que tomei. 

Desde o dia que sai de casa para ir ao hospital, nunca mais coloquei meus pés naquele lugar. Pode ter sido as palavras de Matilde e o acolhimento de Ella que me impulsionaram a agir, mas em meu coração eu sabia que o alerta que aquele médico acendeu em minha mente, pesou. 

Não foi fácil encarar minha família após denunciar Chao por violência doméstica e pedir o divórcio, mas precisava, mesmo sabendo que ficaria sozinho, sem apoio algum deles. 

Com meus sogros não foi diferente, no momento eu não era mais bem-vindo em nossa comunidade cristã, muito menos reconhecido como um ômega de bem, que precisava de apoio. 

— O mamã também está muito feliz — engoli o choro que aquelas memórias constantes traziam e continuei na tarefa de arrumar as coisas de Yanli —, tia Ella me conseguiu um ótimo trabalho para essa noite e, se Deus quiser, com uma vaga permanente. 

— Mamã, mamã….

— Vai ficar tudo bem, minha querida.  Acariciei seu rosto. 

 Sempre que ouvia Yanli balbuciando, imaginava quando ela aprenderia a falar papai e quais recordações teria ao crescer. 

Infelizmente, para conseguir o divórcio, precisei chantagear Chao e, caso não cedesse, eu exporia suas ameaças e crimes contra mim. .

Não foi fácil, ainda acordava a noite assustado, com medo dele aparecer do nada para cumprir com as promessas horríveis que fez desde a nossa última conversa, e passava as horas restantes esperando o dia amanhecer. 

— Apenas para ter certeza de que estamos seguros — murmurei. 

Estava divorciado há pouco mais de um mês e, durante aquele tempo, sobrevivemos com ajuda de Ella e alguns trabalhos temporários que consegui após meu pulso melhorar. 

No entanto, meu ex-marido tinha feito bem o seu papel de abandonado e colocado um alvo em minhas costas, todos os amigos, os conhecidos mais chegados e até quem mal sabia o meu nome, tinha me negado emprego. 

Os gritinhos felizes e as risadinhas da bebê me distraíram por um segundo. 

Amava ver suas bochechas gordinhas ficarem rosadas e a boquinha perfeita, com seus primeiros dentinhos rompidos em um sorriso angelical. 

— Ok!  mamã está perdendo tempo pensando nessas coisas ruins, concordo, filha! — Beijei suas mãozinhas e me afastei para trancar o SUV. 

Aquele carro e nossos pertences pessoais foram as únicas coisas que consegui tirar daquele casamento. Por sorte, Matilde tinha arrumado nossas malas antes de Chao voltar de viagem, e pagou ao motorista para me entregar tudo. 

Dr.Gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora