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CAPÍTULO 20

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— Antes que grite, eu queria ganhar tempo porque, na verdade, eu preciso do hospital e não do seu pai, ou de me meter na confusão entre você e as empresas da minha família.

— Muitas palavras para não dizer nada que realmente me interesse — rebato e Wuxian aperta meu braço.

— Faz um longo tempo que estou acompanhando um caso e foi muito difícil conseguir trazer essa paciente para o hospital, a família está traumatizada e fadigada, mas eu sei que posso ajudar.

— Outra celebridade famosa para agregar na carreira, doutora?

— Não — Suas mãos se retorcem e seus olhos recaem em Yanli, que está babando, literalmente, em meu pescoço —, é uma criança que precisa de ajuda. Por favor, não me expulse do hospital, e ele não pode saber sobre as circunstâncias em que nos divorciamos.

— Ah! Outro otário, como eu?

— Wangji, por favor — Wuxian alcança minha mão nas costas de Yanli e nos encaramos, em seguida ele volta sua atenção para Langjiao. — O que tem a criança?

— Ela precisa de várias cirurgias de reconstrução, posso fazer e temos os equipamentos e o laboratório de tecido celular para isso.

— Recursos que serão dizimados, e não preciso ficar dizendo por culpa de quem, certo?

— Eu farei o que puder para ajudá-los, apenas me deixe ficar. — Talvez ela pudesse conseguir alguma prova contra o pai, mas confiar em Langjiao era a última coisa que faria.

— Não posso, mesmo que seja a vida de uma criança em jogo, existem outros hospitais aonde pode trabalhar em Chicago ou Nova York.

— Tem que ser aqui — ela insiste com desespero.

— Por quanto tempo? — Wuxian interfere novamente e preciso segurar a língua para não mandar meu acompanhante, pago para sexo, ficar fora daquilo. — Acredita que pode mesmo ajudar a menina?

— Sim, ela tem três anos e já passou por tantas coisas, eu posso realmente fazer algo — apesar do tom arrogante, Langjiao expressa determinação.

— É uma forma de expurgar seus pecados? — pergunto com a intenção de fazê-la se sentir como me senti por anos. — E como pretende que não falem sobre você e a leva de residentes com quem trepava em seu consultório?

— Lan — Langjiao refuta.
— Wangji — Wuxian reclama, esticando os braços para pegar a menina, mas não permito, pedindo desculpas com um olhar.

— Preciso de um ano — Langjiao murmurou.
Aquilo era mais do que poderia suportar e estava pronto para negar seu pedido, só que Yanli se deitou contra meu peito, bocejando, como se tivesse feito o mesmo movimento milhares de vezes.

Meu corpo inteiro enrijeceu com o peso da sua cabecinha sobre mim, a mãozinha babada enfiada na abertura da minha camisa, fazendo um movimento de abrir e fechar com os dedinhos.

— Estou trazendo eles do Brasil — Langjiao continuou, mas só conseguia prestar atenção na menina quase adormecida em meus braços.

Por um insano momento eu pensei:
E se aquela menina em meus braços fosse a criança que Langjiao abortou?
E se fosse o meu filho ou filha ali, deitado em meu peito?

E se aquele pai que estava lutando para salvar a criança de três anos não pudesse mais sentir aquela sensação de conforto?

Wuxian fungou ao meu lado e desviei meus olhos dos cachos escuros de Yanli, só para encarar o ômega que tinha adormecido sobre o meu corpo naquela noite, após transarmos.
Não sabíamos nada um do outro, o que tivemos naquela noite foi um encontro de desejo, prazer, orgasmos e um desencontro com regras quebradas, mas algo tinha ficado bem claro para mim, desde a primeira vez que o vi: Wuxian era um mamã corajoso, acima de tudo, e eu sabia que estava ali por sua filha.

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