Antônio Santiago

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TERÇA - DEZEMBRO 2014

Pessoas caminhavam pelos corredores reformados da Central de Jornalismo da Globo. Vozes ecoavam com vários assuntos, enquanto outras falavam sobre algo mais específico. Ali Kemel, estava na sala de reuniões em companhia de vários outros jornalistas, editores e estagiários, havendo apenas duas cadeiras vagas, a de William Bonner e Renata Vasconcellos, que não haviam chegado ao local.

- Alguém conseguiu falar com aqueles dois? Precisamos deles aqui! - falou inquieto.

- Consegui falar com o Bonner, e ele me informou que eles já estão chegando - contou um dos estagiários. 

- Eles?

- Ele e a Renata. 

- Eles têm 5 minutos ou vão apresentar o Jornal Nacional, sem saber de nada do que irá acontecer aqui.

O som da porta foi ouvido e ao olhar, Ali Kemel, viu as duas pessoas entrarem juntas e rapidamente se sentando em seus respectivos lugares e receberam um olhar nada amigável do homem.

- Vocês estão atrasados por 10 minutos. Acham que estamos a disposição de vocês?

Era a primeira vez em anos que Bonner, via o homem daquela forma. Amigos de longa data, a relação de ambos era amistosa e por mais enfurecido que possa estar, ele nunca havia o tratado assim.

- O trânsito estava horrível! - falou Bonner, tentando se justificar. 

- Na próxima vez, venham andando se necessário!

- Epa! Epa! Ali! Calma ai! - falou Bonner, olhando sério para o homem em sua frente - Seja lá o que tenha acontecido com você, não é culpa nossa!

- Vamos começar?

- Vamos!

Os dois homens ficaram se olhando por alguns segundos, até que finalmente a reunião começou e no decorrer dos minutos, William e Ali Kemel, trocavam farpas e alfinetadas, mostrando que a paz havia terminado definitivamente, e ao término, Bonner, havia discutido com o homem e saiu enfurecido da sala, e Renata, permaneceu ali a pedido do homem e não pôde ir atrás do jornalista.

- Precisava falar isso, Ali? - perguntou a mulher, percebendo que a fala do homem havia sido pesada demais.

- Desculpe, Renata - levou uma das mãos a cabeça - Vou falar com ele depois.

A mulher viu todos os seus colegas de trabalho saírem e Ali, permanecer na sala visivelmente estressado e chateado com algo, e se sentiu na obrigação de ouvir o que estava afetando a pessoa que a tratou como uma rainha até aquele dia.

- O que está acontecendo, Ali Kemel?

O homem a olhou e êxito por alguns segundos, mas viu nos olhos da mulher em sua frente, confiança e preocupação. 

- Eu fui demitido e o Bonner, vai ficar no meu lugar! - falou enquanto se sentava em uma cadeira e levava as mãos a cabeça. 

Renata, estava em choque ao saber que aquilo ela não era nada do que passava em sua cabeça, agora fazendo sentido e explicava a raiva extrema assim que ambos chegaram.

- Não sei se ele sabe...- falou o homem.

- Não, ele não sabe!

O homem olhou para ela antes de continuar.

- Passei minha vida se dedicando a essa emissora e fui demitido por algo infeliz e injusto. Fico feliz e com raiva de Bonner, ocupar o meu lugar.

- Não sei se ele vai aceitar ocupar seu lugar Ali. Não é o que ele procurava.

- O poder muda as pessoas, Renata.

- Você é amigo do William, e o conhece melhor que muitos e sabe que ele não é de se deixar levar por isso.

- Eu também não era, e olha no que deu!

A porta da sala foi novamente aberta e dela surgiu Bonner, que sério olhou para Kemel, e rapidamente olhou para Renata. 

- Temos testes agora. Você vai? - falou sério. 

A mulher olhou para ele e para Kemel, e rapidamente pediu para que seu parceiro e agora namorado, entrasse, ignorando totalmente o teste que teria que ser feito.

- Entra, Bonner.

- Temos que ir, Renata!

- Bonner? - olhou séria.

O homem relutou, mas aceitou entrar na sala e assim que se sentou, viu Renata, levantar-se e falar

- Conversem! - saindo logo em seguida.

Fechando a porta e voltando a Redação, Renata, conseguiu ouvir antes de se afastar, Ali Kemel, pedindo desculpas a Bonner, logo em seguida não conseguiu ouvir mais nada, tentando levar suas atenções ao trabalho e ao que estava acontecendo no local e como Editora-executiva, tinha a obrigação de estar atenta a cada detalhe, desde o início, meio e fim da elaboração das chamadas que eram exibidas da abertura do Jornal Nacional.

Se aproximando de uma das mesas onde ficava a equipe responsável pelo mapeamento do que iria ou não ser exibido no telejornal no horário da noite, Renata, foi informada que havia um novo membro na equipe de elaboração. 

- Temos gente nova para ajudar, então? - indagou a jornalista feliz.

- Sim. E ele é um gato, com todo respeito Renata. - falou uma jovem de 20 e poucos anos e por mais que fosse nova, era a responsável por organizar o que cada uma das pessoas ao seu redor mapeava e levava a Renata, o resultado de todo um longo processo para que ela validasse Sim ou Não. 

- Pode ser bonito, mas o que importa, Fernanda, é a competência! - falou Renata, a moça e recebeu um sorriso de volta. 

- Até agora não recebi, reclamações ao meu respeito.

Uma voz grossa ecoou de trás de Renata, que ao virar para ver de quem se tratava, se deparou com um homem que aparentava ter uns 46 anos de idade, cabelos negros e barba, além de alto e forte, e por alguns segundos, tentava recordar de onde o conhecia. 

- Eu lhe conheço de algum lugar? Pois tenho a sensação de que sim - tentava puxar no fundo de sua mente de onde conhecia o homem.

- Meu nome é Antônio Santiago. Lembra?

- Antônio Santiago? - olhou para o lado em busca de algo que a fizesse lembrar, mas nada vinha em sua mente - Desculpe, eu não me lembro - sorriu.

- Faculdade?

- Antônio Santiago e Faculdade? - a expressão de desconhecimento foi rapidamente mudada para espanto, enquanto sentia sua saliva descer por sua garganta ao lembrar quem era o homem.

- Lembrou! E você não mudou nada, só ficou ainda mais linda - sorriu para a jornalista que sentiu sua boca ficar ainda mais seca.

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