CAPÍTULO 3

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VERÔNICA WALKER

Meu corpo estava leve feito uma pluma e eu franzi o cenho ao abrir os olhos e não reconhecer o local ao meu redor. Parecia ser um quarto de hospital, meu pulso esquerdo estava algemado na grade da cama e eu usava uma camisola hospitalar. Encarei o teto e me lembrei dos acontecimentos anteriores. Rosa desesperada, o agente federal subindo o morro, o tiroteio e minha barriga perfurada. Respiro fundo me lembrando do quão doloroso foi e aperto o botão para chamar por ajuda. Não demora muito até que uma enfermeira entre no quarto.

— Oi. — ela sorri — Está tudo bem?

— Onde eu estou? — franzo o cenho

— Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio. — ela explica — Você levou um tiro na barriga, mas está bem.

— E-eu... eu ainda estou grávida? — a olho assustada

— Sim, você está. — confirma — Foi uma cirurgia um pouco complicada, mas tudo saiu bem. Você tem alguém que deseja ligar pra avisar que está aqui?

Considerando os contatos dos Reyes, eles provavelmente já sabem onde eu estou. Se não sabem, saberão em breve.

— Não. — nego — Quando foi que tudo aconteceu?

— Ontem de tarde. — avisa — Você perdeu muito sangue, vai precisar ficar em observação por um tempo. Tem um policial militar escoltando a porta da enfermaria. Nós acionamos a delegacia da mulher.

— Por que? — franzo o cenho

— Você tem escoriações e marcas de tortura por todo o corpo, além de lacerações recentes na sua intimidade. — ela me olha preocupada — Eu sei que a vida que você escolheu não é fácil, mas você ainda é um ser humano e precisa de ajuda.

Suspiro.

— Sei. — a observo — Obrigada, mas não vai resultar em nada.

— Eu vou avisar ao médico que você acordou e continuar te observando. — ela avisa

A enfermeira sai do quarto e eu fecho os olhos. Ouço passos leves no quarto e abro os olhos no susto, vendo o homem engravatado entrando. Baixinho, cabelos bem penteados, terno cinza. Eu nunca o vi pessoalmente, mas sabia perfeitamente quem aquele filho da puta era.

— Venenosa. — ele sorri — Acho que, finalmente, chegou a hora de conversarmos.

Hernan Reyes estava diante de mim com sua pose superior e engomadinha. Eu o observo e me poupo o trabalho de perguntar como ele conseguiu entrar. Esse homem tem o Rio de Janeiro inteiro no bolso. Não me admira se o policial da minha escolta for do batalhão dele.

— Aposto que sabe quem eu sou. — ele sorri e caminha até mim com as mãos nos bolsos do paletó caro — Eu sou o seu... sogro, né? Bom, você está num relacionamento com meu filho há uns três anos.

— Chama isso de relacionamento? — eu ergo uma sobrancelha — Eu tô mais pra ratinho dele, que ele mantém na gaiola e faz o que bem entende.

— Eu reconheço que meu filho tenha suas singularidades. — ele diz — A mãe dele foi a primeira a pular fora, ainda muito cedo. Não era capaz de dar conta do que ela chamava de monstruosidade.

Ele dá alguns passos em torno de si mesmo, pensativo. Eu me sinto como um bicho acuado.

— Quando ele me contou que você está grávida, eu fiquei muito contente. — me olha — Sim, Dante é o meu herdeiro legítimo e eu sou o único capaz de controlar a fera dentro dele, entretanto saber que o nome Reyes continuará depois disso, me deixa animado e esperançoso. Eu espero muito que essa criança nasça normal.

Laços Proibidos - Coração vs LeiOnde histórias criam vida. Descubra agora